Vejo mais ou menos assim, como se fosse uma inflamação da paciência. A gente simplesmente cansa, não aguenta mais, quer dar um basta. Isso vale para o trabalho em excesso, para a discussão política interminável, para aquele relacionamento que apenas serve para drenar nossa energia e para tantas outras coisas que nem adianta ficar tentando listar aqui. Só é relevante mesmo dizer que não temos mais interesse, que tudo passou dos limites, que queremos partir para outra imediatamente. Apenas uma pessoa que tenha muita, mas muita sorte mesmo, deixa de passar por algumas situações como essas ao longo da vida. Por outro lado, quando esse cenário se repete de modo persistente, prefiro usar a expressão que intitula a presente crônica: sacocheite. Neologismos têm o seu valor.

A palavra saco provavelmente tenha sua origem no grego sakkós, onde teria sido criada a partir da adaptação de uma de origem semita, usada para designar um recipiente de couro, papel ou pano. Depois seguiu para o latim saccus, chegando ao nosso amado português como o tradicional e simples saco. Nesse último idioma virou sinônimo popular para a tão necessária tolerância. Ou para a paciência. Assim, ter saco ou não ter saco significa ainda possuir ou não determinada dose disso. Assim, por associação, estar de saco cheio ou abarrotado significa não ter mais espaço para que esta qualidade seja acumulada. E o haja saco é uma maneira de clamar por um local onde acumular paciência extra.

Quanto à sacaria física, são os sacos em geral fechados nas laterais e no seu fundo, tendo a boca aberta. Mas, nem sempre. Na associação que é feita com o local onde ficam os testículos, por exemplo, este saco é felizmente algo fechado em todos os lados: o escrotal. Mas, convém que se esclareça, neste caso não ter saco – ou não ter mais saco – não significa de modo algum ter sido castrado ou ser estéril.

Paciência é também um jogo de cartas. Meu pai, depois de aposentado, ficava horas jogando isso, com as cartas colocadas em colunas sobre a nossa mesa da sala. No computador e nos celulares, hoje em dia, se faz isso com muito mais facilidade. Nem precisa embaralhar nada ao final de cada rodada. E saibam também que no Rio de Janeiro, Paciência é o nome de um bairro. Ele fica na Zona Oeste, fazendo divisa com Campo Grande, Santa Cruz, Cosmos e o município de Nova Iguaçu. A área foi urbanizada em meados do Século XX, favorecida pela abertura da Av. Brasil, o que levou para o seu entorno muitas das indústrias da cidade. Hoje estão naquela região 15 comunidades, que somam algo em torno de 95 mil habitantes. Pelo menos era assim, no censo de 2010.

Quousque tandem, Catilina, abutere patientia nostra?” (Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?), perguntou certa vez Cícero ao militar e senador romano Lucius Sergius Catilina. Este segundo, como parece ser uma tendência quase que “deenealítica” – eis aqui um outro neologismo – de todo militar, se tornou célebre por suas tentativas de derrubar o governo. Marco Túlio Cícero, por sua vez, era além de político ainda advogado, escritor, orador e filósofo.

Por aqui e em tempos muito mais próximos de nós, dois brasileiros talentosos são os responsáveis pela composição de Paciência: são eles Lenine e Dudu Falcão, sendo que a música, segundo os autores, surgiu de forma bem simples, em momento de inspiração. Ela está no quarto álbum de estúdio de Lenine, lançado em 1999. E rendeu mais de 21 milhões de visualizações no seu canal de YouTube. Foi também gravada na França e faz parte do Top 10 entre os maiores hits do artista. Está mais adiante, no bônus de hoje. Mas, ainda no Brasil, um chute no saco não é necessariamente uma agressão física, mas algo ruim que aconteceu ou pode acontecer, um prejuízo, algum problema. E coçar o saco é estar sem fazer nada, ocioso, sendo essa uma opção ou uma circunstância, tanto faz. Espero que vocês tenham tido a necessária paciência para ler até o fim.

09.06.2023

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O bônus de hoje começa com a música Impaciência, da banda paulistana Cigana. Ela integra o EP Tudo o Que Há de Novo, que lançado em outubro de 2020 pelo selo Eu Te Amo Records. Nele estão três canções que têm como temas nostalgia, passagem do tempo e ansiedade. Depois temos Lenine e a sua excelente Paciência, em apresentação ao vivo.


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