O EVANGELHO SEGUNDO SÃO JAIR

As religiões cristãs estão baseadas nos ensinamentos da Bíblia e isso todo mundo sabe. Esse é o seu livro sagrado, assim como os judeus têm a Torá e os muçulmanos são guiados pelo Alcorão. Mas, a verdade é que nem todo cristão – arrisco dizer que a maioria – conhece de fato a Bíblia. Se pode simplificar aqui sua apresentação, não seu significado. Basicamente, ela é dividida em duas partes: o Antigo Testamento e o Novo Testamento.

O primeiro deles é composto por 46 livros – isso se considerarmos a Bíblia dos católicos, porque na dos protestantes eles são 39 –, sendo a compilação das Escrituras Hebraicas e estando formado por blocos distintos. O conteúdo é todo ele categorizado. Na sua composição existem os livros do Pentateuco (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), os Históricos (Josué, Juízes, I Samuel, II Samuel, I Reis, II Reis, I Crônicas e II Crônicas), os Poéticos e Sapienciais (Jó, Salmos, Provérbios e Ben Sirac ou Eclesiástico) e os Proféticos, que tratam dos primeiros profetas e dos profetas menores. Simplificando, nessa parte há a narração da trajetória da humanidade, antes do advento de Jesus Cristo.

O Novo Testamento, por sua vez, foi escrito após o nascimento de Jesus e é constituído por 27 livros. Ele também tem divisões: Evangelhos, Atos dos Apóstolos, Epístolas de Paulo, Epístolas Gerais e o Livro do Apocalipse. O Evangelho – a palavra significa “Boas Novas” – traz os livros de Mateus, Marcos, Lucas e João, além de algumas controvérsias. Isso porque até hoje há quem diga que não foram escritos apenas quatro deles. Existiriam, portanto, “evangelhos perdidos”, ou apócrifos. Entre aqueles que defendem essa tese, alguns afirmam que o “esquecimento” foi proposital, devido a detalhes no conteúdo que não seriam do agrado do Vaticano, por exemplo.

Considerando-se apenas os quatro evangelhos oficialmente aceitos, eles não são biografias de Jesus. Cada um deles é uma tentativa de narrar os eventos de sua vida, com explicação teológica. É evidente o paralelismo que apresentam em termos de linguagem e de estrutura, mas são narrativas independentes. O de Mateus é o mais longo; o de João busca doutrinar os novos convertidos; o de Lucas foi destinado aos não judeus (gentios); e o de Marcos tem citações traduzidas do aramaico, expressões latinas e algumas explicações que parecem terem sido direcionadas aos romanos.

Admito que não sou grande conhecedor disso tudo, embora tenha tido na infância e na adolescência algum contato mais próximo com o assunto. Para realizar essa síntese, recorri ao recurso da pesquisa. Isso me relembrou o pouco que eu sabia e acrescentou informações valiosas. Curioso é que quando eu já estava com essa ideia e buscava um modo de concretizá-la no texto em si, chegou ao meu celular uma das tantas expressões bem brasileiras, que associam bom humor com coisa séria. Um cidadão postou algo sobre política com viés religioso. Assim como nosso presidente adora fazer. Então, me senti autorizado por ambos, o anônimo espirituoso e o falso cristão, a reproduzir aqui uma aproximação do original.

Disse (escreveu) ele: Eu fico imaginando Jesus andando pela Galiléia e falando aos seus seguidores “vamos metralhar os romanos”. Em outro momento, ele olha para Maria Madalena e fala que só não vai estuprar ela porque é feia. Nas ruas, se depara com um cego e um aleijado que lhes estendem as mãos, mas ele responde: “Querem que eu faça o quê? Eu não sou médico!” Quando depois sabe da morte de Lázaro, apenas revela “eu não sou coveiro”. E termina seu dia incentivando os apóstolos a comprarem armas e pedindo a Judas que deposite 89 mil moedas na conta de Maria. Em tempos modernos, o Evangelho Segundo São Jair faz ainda muito sucesso. E nem precisou ser escrito, pois os vídeos com tudo isso postado estão disponíveis para quem tiver olhos de ver e ouvidos de ouvir.

27.08.2022

O bônus de hoje é a música Deus Me Proteja, de Chico Cesar com o próprio.