No dia em que eu e a minha primeira namorada terminamos o nosso relacionamento, lá no milênio passado, ela listou os meus defeitos e eu tratei, na frente dela mesmo, de anotá-los em um pedaço de papel. Eram apenas aqueles que ela provavelmente conheceu e identificou – e não eram poucos –, mas não posso desconsiderar a hipótese de que a lista pudesse ser ainda bem maior. Durante muitos anos eu o guardei, com cuidado. E lamento que ele tenha se perdido, em algum momento, acho que durante uma das tantas mudanças que fiz ao longo da vida. A outra coisa que lamento é não ter conseguido superar a totalidade daquelas características negativas, passado tanto tempo. Se é que venci alguma delas tão completamente que tenha ido embora sem deixar resquícios.
Ser alertado do quanto se é imperfeito, se trata de uma grande prova de reconhecimento, carregando boa dose também de amor ou amizade. Só quem nutre ou nutriu um real sentimento e uma preocupação sincera faz isso. E se trata de iniciativa muito positiva. Aliás, é isso que fazem pais e mães quando atentos à educação dos seus filhos, por exemplo. Agem buscando o necessário equilíbrio, para não passar a mão na cabeça de nenhum, não deixando de apontar – sempre com o cuidado e o respeito necessários – aquilo que precisa ser mudado, ser melhorado.
Numa relação de defeitos humanos se pode citar, entre outros, ganância (o desejo desmedido de possuir mais do que o necessário), hipocrisia (o exigir dos outros moral que não pratica), mesquinhez (apego ao que é pequeno e insignificante), falsidade (trair a confiança), indiferença (falta de empatia com o sofrimento alheio), teimosia (recusa irracional de rever ideias ou de admitir erros), negligência (descuido moral e abandono de deveres) e cinismo (desprezo declarado por valores éticos e morais). E, acreditem: existem muitos outros mais. Somos todos muito bons nessas maldades. E, acreditem: existem muitos outros mais. Somos todos muito bons nessas maldades. Falo genericamente, não me referindo a mim mesmo nem a ninguém em particular.
Essa ideia de fazer uma lista pode ser algo muito interessante. Estou até pensando em providenciar eu mesmo uma minha, atualizada. Nela, na certa os defeitos serão revistos, em relação àquela primeira. Porque me parece que eles se alteram com o tempo, assim como pode ocorrer com qualidades. Não que necessariamente uns e outras mudem em número, aumentando ou diminuindo o que é positivo ou negativo. Creio mesmo e muito mais é na possibilidade de substituições, uma vez que a maturidade faz isso, com alteração no nosso modo de ver e sentir a vida. Com o passar dos anos mudamos foco, rumo e interesses, o que afeta indubitavelmente coisas como orgulho (sentimento de superioridade e menosprezo pelos outros), vaidade (desejo de ser admirado e valorizado pela aparência, poder ou conduta) e inveja (incômodo por acreditar que outros têm mais do que a pessoa, em posses, status, intelectualidade ou reconhecimento). Ou, vendo pelo outro lado, generosidade, empatia e paciência, são exemplos positivos que também sofrem alterações.
Com menos tempo a perder, com a percepção definitiva de que nada de fato é definitivo, também mudamos em termo de valoração de momentos e pessoas. Menos coisas nos desagradam, mas também não queremos por perto quem nos desagrade. Até o ter esperança fica diferente, com ela se tornando mais compacta, não sendo quase ilimitada como antes, mas aprendendo a se voltar para aquilo que é mais possível. Ou menos inatingível.
Enfim, o envelhecimento abate não apenas o corpo, mas se a vida foi minimamente bem vivida e aproveitada, derruba também coisas como o orgulho, a vaidade e a inveja, que citei antes. Talvez também outras como prepotência (uso abusivo do poder ou autoridade, para impor ou tentar impor a própria vontade sobre a dos outros), arrogância (postura de superioridade acompanhada por desdém e soberba) e egoísmo (tendência de sempre agir em benefício próprio, priorizando a si sobre as necessidades dos outros).
Agora, preciso destacar que tudo o que citei não estava necessariamente naquele papel que eu mesmo preenchi, tantos anos atrás. Mesmo que parte talvez estivesse. Não vou confessar, não me peçam isso. Não há porque se tornar público, bastando eu ter contado sobre sua existência. E sobre o meu sincero esforço para superação. Afinal, viver não seria exatamente isso, uma permanente tentativa de nos tornarmos melhores? Então, que listas ajudem na identificação de defeitos. Um primeiro passo para que se tente resolver esses problemas.
1º.12.2025

O bônus de hoje é a música Envelhecer, de Arnaldo Antunes, Ortinho e Marcelo Jeneci.
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