Ainda estamos em maio, que muitas pessoas – e aquela publicidade um tanto simplória – adoram chamar de “Mês das Mães”, como se os outros não fossem também. Ser mãe, todos já lemos ou ouvimos em algum lugar, se trata de um compromisso permanente e uma situação muitas vezes inglória. Pelo menos para a maioria delas. Mas, podem acreditar, não raras vezes também é terrível ser filho ou filha. Isso vale para quem foi gerado ou criado por aquelas mães que ultrapassam, em geral inconscientemente, os limites que uma maternidade saudável deve ter. O que pode fazer com que sua prole adoeça. Então, vamos fugir ao menos por um instante daqueles textos que só enaltecem qualidades, mesmo que com muita justiça, para se focar também neste outro aspecto de tantas delas.
Mães superprotetoras, ao colocarem em prática todo um esforço que visa defender filhos e filhas de tudo e de todos, acabam por exagerar de tal forma que a autonomia, a capacidade de tomar decisões e a habilidade de lidar com os desafios da vida não são aprendidas. Com isso muitas consequências negativas surgem, interferindo no desenvolvimento social e emocional das crianças. Essas tendem a se tornar inseguras, ansiosas, dependentes e depressivas. Em casos mais graves, se desenvolvem até fobias.
A mãe judia é um estereótipo comum, um personagem modelo quando se fala em superproteção. São um prato cheio para comediantes judeus e não judeus, autores e atores, em especial nas produções feitas nos EUA. Elas são sempre apresentadas como autoritárias, irritadiças, muito barulhentas, manipuladoras, falantes e sufocantes. Alguém que interfere na vida dos filhos mesmo muito depois deles terem se tornado adultos. São excelentes em fazer seus filhos se sentirem culpados por toda ação que supostamente as fazem sofrer. Essa conduta é descrita com muitos detalhes no best-seller de Dan Greenburg (1936-2023), um livro de humor publicado em 1964: How to Be a Jewish Mother: A Very Lovely Training Manual (Como ser uma mãe judia: um manual de treinamento muito adorável).
No clássico Peter Pan, a personagem Wendy Darling desempenha papel fundamental, sendo a figura materna para Peter e os Garotos Perdidos. É ela que em determinado momento defende a necessidade de crescer, algo que é questionado pelos outros. Para tanto, ensina a eles sobre o mundo que existe fora da Terra do Nunca. É importante salientar, no entanto, que Peter Pan não era órfão. O conto original, que foi escrito pelo escocês James Matthew Barrie, mostra ele como um menino que ainda muito pequeno decide que não deseja crescer e foge de casa. A distância seria uma forma de não encarar o processo natural de crescimento. Aventura e liberdade vistas como antídoto para o que todos enfrentamos, que é o amadurecimento. Apenas em algumas versões desta história, como a adaptação feita pela Disney, o apresentam como sendo um menino abandonado.
Falar sobre esse romance infantil com elementos comuns aos contos de fadas, publicado em 1911, é relevante porque uma suposta síndrome foi “batizada” como o nome de Wendy. É a que refere mães – pode também acometer pais – que procuram a todo o custo ser importantes na vida dos seus filhos e na família. Mais do que isso: querem ser imprescindíveis. E, para tanto, assumem responsabilidades sobre todas as tarefas possíveis. São elas que recolhem e guardam seus brinquedos e roupas; retiram os obstáculos do caminho; perdem de propósito nos jogos; arrumam suas mochilas escolares; solucionam todo e qualquer problema surgido em casa, na escola ou com crianças da vizinhança; ensinam que se deve fugir de conflitos; os agasalham além da necessidade; levam e trazem de todos os lugares.
A superproteção pode causar problemas também no desenvolvimento cognitivo dos filhos e filhas. Dependência emocional e questões como a baixa autoestima são evidentes. E resultam em adultos inseguros, no seu futuro. Pessoas com dificuldades de enfrentar situações adversas, uma vez que nunca foram incentivadas a tomar decisões e resolver os seus problemas. Entretanto, para as próprias mães a superproteção pode se tornar algo muito negativo. Podem sofrer com sua própria ansiedade e medo. Elas, tanto quanto eles, podem ter impactos na saúde mental.
Pode se chamar de maternidade sadia, em resumo, aquela cuja mãe é suficientemente boa para criar um ambiente de segurança e confiança para o bom desenvolvimento do bebê, da criança e do adolescente, de tal forma que isso lhes permita conhecer e explorar o mundo, desenvolvendo a sua personalidade. No conceito do pediatra e psicanalista inglês Donald Winnicott (1896-1971) é aquela que ao longo do desenvolvimento do bebê consegue equilibrar as necessidades dele com a sua própria vida e capacidade. Então, mãe nenhuma precisa ser perfeita, mas sim ter condições de ser acolhedora e previsível, permitindo que o filho ou a filha possa alcançar um sentido de si mesmo(a), construindo identidade e conquistando independência.
26.05.2025

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