A minha filha e uma sobrinha estavam lendo livros da escritora Carla Madeira, recentemente. Moram em cidades diferentes e não me consta que a escolha de uma delas tenha sido em função de recomendação da outra. Ou seja, aparentemente isso foi apenas coincidência. Uma delas estava com Tudo é Rio e a outra com Véspera. Isso me despertou uma curiosidade sobre a autora e seus temas. E fui pesquisar sobre ela e as obras, me debruçando também na leitura.
A primeira informação que me impactou é que se trata, por exemplo, da escritora brasileira que mais vendeu livros em 2023, na categoria ficção, em nosso país. Segundo dados da Nielsen, uma empresa que é a líder global em termos de percepções de audiência, dados e análises, que costuma fazer medições extremamente precisas, foram mais de 155 mil exemplares naquele ano. Antes disso, em 2022, ela ganhara o prêmio de Recordista de Prata pelas vendas realizadas durante a Feira Literária de Paraty (Flip), a mais relevante entre nós. E, no ano passado (2024), foi a única brasileira no Top 10 da Amazon. Com toda essa relevância eu aqui não sabia nada, o que me envergonha um pouco.
Mineira de Belo Horizonte, onde nasceu em 18 de outubro de 1964, além de escritora ela também é jornalista e publicitária. Possui pós-graduação em Marketing e é sócia e diretora da Lápis Raro, que se apresenta como “uma agência de comunicação full-service, independente, com atuação nacional… fundada e liderada por mulheres”. Aliás, o universo feminino tem peso significativo na sua produção literária.
Seu primeiro romance, Tudo é Rio (Quixote+Do 2014) já demonstrava uma narrativa madura, sendo precisa e delicada ao mesmo tempo. Conta a história do casal Dalva e Venâncio, cujo convívio se transforma após uma perda trágica causada pelo ciúme doentio do marido. Uma terceira personagem é a prostituta Lucy, apresentada como a mais depravada e cobiçada da cidade. Com ela, se forma um triângulo amoroso com várias nuances e contradições muito próprias.
O segundo a ser escrito foi A Natureza da Mordida (Record 2018), que outra vez tem duas mulheres na trama. Desta vez são Biá, psicanalista aposentada que é apaixonada por literatura, e uma jovem jornalista de nome Olívia. A primeira encontra e aborda a outra em um sebo, quando resolve lhe dirigir uma pergunta mais do que instigante ao vê-la sentada: “O que você não tem mais que te entristece tanto?”. Esta provocação desencadeia uma sucessão de encontros e determina uma intimidade crescente, revelando aos poucos suas histórias, que trazem paralelos e semelhanças, com abandonos sofridos e perpetrados. A escritora nos apresenta com competência questões universais, como amor, desejo, culpa, memória e esquecimento, amizade e perdão.
A terceira e mais recente obra de Carla Madeira é Véspera (Record 2021), com a qual nos desafia com uma pergunta: “Como se chega ao extremo?”. Nele uma abordagem diferente é adotada. Nos primeiros, as personagens eram mais diretas e incisivas: agora estão apresentadas com aspectos mais psicológicos e doses de mistério. As coisas são menos viscerais, sem as paixões e ciúmes de antes. Mas, temos uma mulher – Vedina – que vive um casamento onde não existe amor e que, em momento de desespero, vai embora e abandona também seu filho. O arrependimento quase imediato e o retorno não o encontram mais. Isso expõe, a partir de então, as entranhas de muito antes, de uma família totalmente destroçada.
Enfim, temos até agora três amostragens de um grande talento. E muitos têm surgido, na última década. Isso pode representar uma esperança no sentido de que aumente o índice de leitura dos brasileiros, infelizmente ainda bem baixo. Mais da metade das pessoas não leem nadica de nada. E, fora da escola, a média anual não chega a três livros por pessoa, entre os que dedicam algum tempo à leitura. Em 2023, num ranking entre 81 países que foram pesquisados, ficamos no 53º lugar.
Acontece que ler muda e muito a vida das pessoas. E em aspectos que vão bem além da ampliação do vocabulário e do desenvolvimento de um pensamento crítico. A capacidade de concentração aumenta, diminui o estresse, cresce a tendência em ter empatia e este hábito auxilia até no tratamento de doenças degenerativas. Ou seja, ler nos oferece saúde mental e autonomia, devido à condição de formarmos nossas próprias ideias. O que explica a verdadeira razão pela qual determinados grupos odeiam tanto os livros e estimulam não sua leitura e sim sua destruição.
06.02.2025

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