Existe uma linha que é tênue e bastante perigosa separando o não dizer nada para evitar conflito e o viver em conflito por não dizer nada. As pessoas que têm como qualidade o comedimento, devem estar atentas a isso. Silenciar para se evitar uma discussão em geral é uma decisão positiva e até sábia. Entretanto, apenas quando isso não custa para ela enfrentar um forte desgaste interno. Aquela história de “engolir sapos” pode ser indigesta. Lacan dizia que as doenças são palavras não ditas, que ficam guardadas dentro da gente e que, na busca de aflorar – ou por sofrerem elas uma espécie de asfixia –, não raras vezes nos causam inúmeros males.
Uma coisa é evitar uma desinteligência boba, sob tema desimportante. Outra bem diferente é violentar as próprias convicções, negando aquilo em que acredita, aquilo que sempre defendeu. Quando são estes os casos, melhor tentar uma argumentação educada, com persistência até certo limite, do que ter que tratar uma úlcera mais adiante. O problema é que vivemos uma época na qual as coisas tolas são consideradas muito importantes; enquanto tanta coisa de fato relevante é deixada de lado. Um período no qual as pessoas inteligentes não raras vezes precisam esconder sua sabedoria, por prudência, enquanto os tolos anunciam a sua própria ignorância, com orgulho.
A palavra conflito vem do latim conflictus, significando basicamente o choque entre duas coisas. Mas, isso pode ser um simples embate verbal ou legal na defesa de posições discordantes entre duas pessoas, grupos, organizações ou países, como ainda descambar para algo degenerativo, no rumo da beligerância. Eles – os conflitos – se dão por divergências entre valores, condutas, opiniões, desejos, necessidades ou meramente intenções. Se pode dizer que em geral inicia e se trata do fruto de uma inquietude, de uma não aceitação, de alguma incompatibilidade. Exemplo gritante hoje está na política, onde nunca houve tanto quanto agora.
E existe ainda, como de certa forma foi colocado no início, mas em outro nível, aquele conflito interno, seja ele perceptível ou não. Pode ser fruto do ter que optar por algo que não deseja – por pressão social, afetiva, econômica ou psicológica – ou, no inverso, de não poder optar por aquilo que de fato quer – pelos mesmos fatores anteriormente citados. Deste modo, em geral fica estabelecida uma espécie de luta entre vontades e possibilidades, entre realidades impostas e circunstâncias plausíveis. O que, convenhamos, nada tem de incomum, considerando-se o modo como nós temos escolhido ou nos tem sido imposto viver. Quanto mais o mundo foi se tornando complexo e multifacetado, nas relações de todo o tipo, em alternativas profissionais, na multiplicidade de escolhas, mais isso nos gerou ansiedades, incertezas e frustrações.
A simplicidade honesta, a ambição comedida, o enaltecimento de ações e sentimentos de solidariedade, o entendimento do valor de se viver de um modo mais coletivo e generoso são os antídotos. Talvez nem todos, mas certamente muito eficientes. Mas, o quanto tem sido difícil adotar essas soluções aparentemente tão fáceis, tão ao alcance de qualquer um de nós? De conflitos todos estamos cheios. Ou deveríamos estar. Agora, preciso confessar que não sei se os enfrentamentos devem partir do que seja interno para o externo, ou vice-versa. Chego a acreditar que precisa ser uma via de mão dupla e deslocamento constante. E que precisa ser percorrida por nós mesmos, com coragem e sem terceirizações.
14.11.2024

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O bônus de hoje é a música Tente Outra Vez, de Raul Seixas, Paulo Coelho e Marcelo Motta, na voz de Marina Aquino.
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