“Vamos nessa que é bom à beça” é um dos bordões que Galvão Bueno usava em algumas das suas transmissões esportivas. Pode até ser um clichê, mas ele é bom. O bordão, não o locutor. Este se fez muito mais através de um excepcional marketing pessoal do que talento – talvez seja ele o único narrador da nossa história que vez por outra gagueja. Luciano do Valle, Osmar Santos, Silvio Luiz, Geraldo José de Almeida e Milton Leite, para citar apenas alguns exemplos, sempre foram muito melhores, muito mais técnicos, mais precisos. E, além disso, nenhum deles atropelava os comentaristas, sabendo distinguir as funções dentro das jornadas. Entretanto, esse é outro assunto que não o de hoje.

À beça significa muito, muito mesmo. Algo grandioso, digno de nota, que ultrapassa as medidas dando de relho da média, copioso. Mas, de onde surgiu essa expressão? A hipótese mais aceita – para dizer a verdade, nem sei se existem outras – exponho no parágrafo seguinte. Antecipo que essa teoria da origem da expressão adverbial fica reforçada pelo fato de que ela não consta nos dicionários da língua portuguesa publicados em Portugal. Ou seja, ela é de fato apenas nossa, criada aqui deste lado do Atlântico.

Gumercindo de Araújo Bessa foi um sergipano de Estância, nascido em 1859. Frequentou o Seminário Episcopal da Bahia, mas trocou o curso canônico pela carreira jurídica, ingressando na Faculdade de Direito do Recife. Foi promotor público e depois jornalista. Na sequência, teve ainda mandatos legislativos, foi desembargador e presidente do Tribunal de Apelação. Alcançou notoriedade em 1906, ao enfrentar Rui Barbosa em discussão sobre os destinos do território do Acre, que o Brasil havia comprado da Bolívia. Barbosa entendia que ele deveria ser anexado ao Amazonas, enquanto Bessa pretendia que lhe fosse dada autonomia. O debate foi caracterizado por uma intensa discussão. Dominando retórica e fazendo uso abundante de argumentos, Gumercindo conquistou a atenção de todo o país e saiu vencedor. Nascia então não apenas um novo Estado brasileiro como também surgia a expressão “à moda de bessa” – depois modificada na grafia e simplificada para “à beça”.

Há coisas das quais eu gosto à beça. Tipo chocolate, futebol, caminhar na praia, cinema, dirigir, cafés, música e livros. Tenho também amores mais recentes, como a internet e os streamings. E gosto muito de gente: as pessoas a quem amo, outras que admiro mesmo à distância, quem faz diferença, os inconformados, talentosos e não comuns. Amo artistas e quem é taxado de louco, artesãos e andarilhos. Quem sempre busca o horizonte, mesmo sabendo que nunca irá alcançá-lo. Isso tudo e esses, para mim, têm cheiro de vida. E viver é bom à beça.

09.11.2024

Bom à Beça é inclusive marca de produtos como feijão, fubá, ervilha e milho de pipoca

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O bônus de hoje é o áudio da música Mudando de Conversa, de Alaíde Costa, na voz de Dóris Monteiro. Na letra é usada a expressão que motivou a crônica de hoje.


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