Claro que existem produtos de melhor e de pior qualidade, com texturas diferentes e alguns até perfumados. No passado alguém inclusive teve a ideia de colocar tirinhas impressas nele, aproveitando a informação de que nos banheiros as pessoas gostam de ler – em muitos há revisteiras estrategicamente colocadas. Mas essa foi daquelas invenções que não colam, talvez porque não é um local muito apropriado para existir tinta ou outros produtos químicos quaisquer. Assim, ele continuou sendo branco, o que ressalta a limpeza, seu objetivo primordial. Incontestável, no entanto, é o fato de que se trata de produto de uso básico, relevante e regular, com todos nós precisando dele, a cada dia. Falo do papel higiênico.

Quem primeiro comercializou o produto para este fim foi Joseph Gayetty, no ano de 1857. Ele era constituído por um bloco de lâminas de papel soltos e umedecido com aloe vera. Ou seja, foi ainda precursor daqueles lenços umedecidos que servem hoje em dia para se fazer a higiene de bebês e também como complemento para pessoas mais exigentes, de todas as idades. O seu nome era pomposo: Papel Medicinal de Gayetty. Somente 27 anos depois surgiu o produto em rolo, como conhecemos atualmente. E foram os irmãos Edward e Clarence Scott que tiveram essa ideia. Todos estes eram norte-americanos.

Vejam que a invenção é relativamente recente. Mas, muitos séculos antes, outros materiais foram utilizados com a mesma finalidade. Na China antiga, por exemplo, a Corte Imperial tinha a seu dispor pedaços de seda, podendo fazer a higiene íntima com conforto. O que não era o caso de outros povos e locais. Entre os romanos houve época na qual o utensílio era o xilospôngio, também chamado de tersório, composto por um bastão feito de madeira no qual em uma das pontas amarravam uma esponja do mar. Ela em si não teria problema, não ficasse o objeto em latrinas públicas para ser compartilhado. Entre os usos, quase que fingindo um cuidado, ela era mergulhada em água corrente ou vinagre, o que não a impedia de ser contaminante.

Os mesmos romanos e também os gregos podiam recorrer aos pessoi, peças feitas de cerâmica com formato oval ou circular. Essas ao menos eram privadas, mas desconfortáveis ao extremo, devido ao fato de serem abrasivas. Curioso é que muitos tinham o hábito de escrever os nomes de inimigos nelas, uma forma estranha de expressar o seu ódio. Ou seja, ao invés de mandarem os outros tomarem naquele lugar, os enviavam para lá, simbolicamente. Mas no seu próprio.

Mais felizes eram os moradores de zonas frias de nosso planeta. Em várias recorriam a musgos, muito mais macios e absorventes. Claro que era necessário conhecer a planta à qual recorrer, para evitar coisas similares à nossa urtiga, ou seria um desastre. A desvantagem é que eles deixavam fragmentos depois do trabalho feito. Nas mesmas regiões também podiam usar direto a neve, o que talvez explique o nome de uma marca muito vendida de papel higiênico na atualidade. Essa ao menos era refrescante, apesar de derreter e esparramar o que devia apenas ser retirado. Mesmo assim, talvez melhor do que os sabugos de milho que no calor dos países da América da época colonial ficavam à disposição das pessoas, pelo baixo custo e – sem querer fazer um trocadilho – também pela abundância.

Finalmente, no Século 19 chegaram os jornais. Depois de lidos eles tinham vários destinos e não apenas o de embrulhar peixe. Muito barato no início, permitindo que até mesmo a classe operária os comprasse, ficavam facilmente disponíveis tanto em casa quanto em banheiros de estabelecimentos públicos. Entretanto, assim como aquela sugestão de imprimir histórias em quadrinhos foi por água abaixo, deixavam manchas de tinta que só saíam depois de um bom banho. Sem contar que o papel era de má qualidade e cheirava mal. Mesmo assim, menos do que ficaria o local, caso ele não fosse usado.

Agora, o processo industrial para a produção do papel higiênico em rolo como conhecemos e usamos na atualidade não é muito simples. Exige boa quantidade de energia, além de água, produtos químicos para a extração da fibra da madeira e alvejantes, como dióxido de cloro. E nem todo tipo de árvore pode ser aproveitado: no Brasil em geral são o pinho e o eucalipto. Também usam, porém mais eventualmente, a polpa do cânhamo. Boa parte das empresas têm se preocupado em usar madeira certificada e de áreas reflorestadas. O que não ajuda muito, sendo de eucaliptos, porque essa árvore é exótica e seca terrivelmente o solo, além de causar desequilíbrio na fauna. O produto não tem prazo de validade, não vem com instruções de uso – por ser absolutamente desnecessário – e pode ser encontrado nas prateleiras de quaisquer supermercados. Ao contrário do que acontecia no passado, em muitos países, onde a venda era feita de forma discreta, sendo buscado no depósito apenas quando o comprador solicitava.

21.09.2023

P.S.: Hoje teremos outra vez aqui no blog a sessão anexa, logo após as chamadas para doações e antes do bônus. São informações e perguntas propondo algum tipo de reflexão.

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ALGUMAS COISAS PARA SE PENSAR (02)

1.    A Prefeitura de Porto Alegre contratou serviços de consultoria para fazer uma “leitura da cidade”. Entre as sugestões que foram depois apresentadas por ela – vejam só que surpresa – está uma que retira do Conselho do Plano Diretor suas atribuições deliberativas, que passariam a ser integralmente da própria prefeitura. Ou seja, projetos construtivos de grande impacto não precisariam mais ter validação nem determinação de contrapartidas para a sociedade examinadas pela comunidade. Passariam a bastar os “pareceres técnicos” de equipe escolhida pelo prefeito. Quem sairá ganhando com essa mudança?

2.    Ainda sobre planejamento urbano ou, talvez seja melhor dizer, sobre a falta dele: mapeamento realizado pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB) mostra que as áreas de risco existentes em Porto Alegre quintuplicaram nos últimos dez anos. A capital tem 94 bairros e 38 deles têm setores que estão sujeitos a inundações, enxurradas, erosões e deslizamentos. Você tem conhecimento de alguma iniciativa no sentido de prevenir problemas e de orientar a população destas áreas?

O bônus de hoje é Refloresta, com Gilberto Gil, Gilsons e Bem Gil. Logo depois, os momentos finais de um papel higiênico em vídeo.

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