Na mitologia grega, Perséfone era filha de Deméter, Deusa da Fertilidade e da Agricultura, tendo Zeus como pai. Ela foi raptada por Hades, o Deus dos Infernos, passando com ele a governar o Reino das Trevas. Este fato se deu porque Eros, filho de Afrodite (*), a Deusa do Amor, o atingira com uma das suas setas quando este viera com sua carruagem negra até a superfície para examinar a condição do monte Etna, na Sicília, que ameaçava explodir em lavas. Naquele momento um grupo de mulheres colhia flores no campo e ele foi tomado de súbito amor pela mais bela entre elas, justamente Perséfone. Por isso esqueceu de imediato do vulcão e retornou levando consigo a recente amada.

Na mitologia romana a raptada foi rebatizada com o nome de Proserpina. E foi na Itália que Gian Lorenzo Bernini (1598-1680), um talentosíssimo artista barroco nascido em Nápoles, eternizou este momento em uma escultura de rara beleza. Ele também foi pintor, desenhista, criador de espetáculos de pirotecnia, cenógrafo e principalmente arquiteto. Mas, talvez essa seja sua obra-prima, estando exposta na Galleria Borghese, em Roma. O detalhe da mão de Plutão – nome dado a Hades entre os romanos –, apertando uma das coxas de Proserpina, demonstra uma absurda perfeição. A obra quase ganha vida.

Outra história mitológica é a Pigmaleão, que esculpe em mármore uma mulher tão perfeita que se apaixona por ela. A tal ponto que retira sua Galateia – por que teria lhe dado esse nome? – do pedestal e a repousa sobre a própria cama. Ele a toca e beija com tal fervor que jura ter ela aberto os olhos. Uma espécie de Bela Adormecida, mas que não caiu em sono profundo devido a uma maldição e sim por ser essa a sua condição natural. Verdadeiramente, dormia como uma pedra. Aliás, falando deste conto de fadas, a primeira versão que dele se conhece foi escrita em 1634, por outro napolitano como Bernini: Giambattista Basile.

As primeiras manifestações artísticas das quais temos notícia são as pinturas rupestres, encontradas em sítios arqueológicos existentes em todos os continentes. Em termos de esculturas, pesquisas nos remetem à Idade Paleolítica, também chamada de Pedra Lascada. Naquela época já faziam pequenas estatuetas feitas de ossos ou de marfim. Em geral eram também figuras femininas, havendo referência constante aos ritos de fecundação. E a mais antiga escultura até hoje encontrada intacta tem algo como 35 mil anos de existência. Sua descoberta se deu na Caverna de Vogelherd, no sudoeste da Alemanha.

A perfeição seria algo que alcança o ápice em uma escala qualquer de valores. Vale não apenas para a beleza, como os relatos acima. Se trata da materialização do ideal, algo que reuniria todas as qualidades, sejam elas possíveis ou imagináveis. O que acumula todas as qualidades e nenhum defeito. Assim, conteria em si a impossibilidade de vir a ser melhorado. Perfeição é o que se vê na pessoa amada, quando do auge da paixão. É o que vai além do humano, sendo assim uma busca inglória de quem esculpe, pinta, compõe e escreve. Afinal, toda arte de certa forma é uma manifestação que busca e pode nos aproximar do divino. Mas, o que de fato é perfeito está como o horizonte: na mesma velocidade com a qual se busca a aproximação ele se afasta de quem o busca.

06.08.2023

(*) Na correspondência entre as mitologias grega e romana, Deméter, Zeus, Eros e Afrodite são, respectivamente, Ceres, Júpiter, Cupido e Vênus.

O Rapto de Proserpina, magnífica escultura de Bernini

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O bônus de hoje é a música Paz do Meu Amor, de Luiz Vieira, numa interpretação de Agnaldo Timóteo, com clipe gravado durante show no Sesc Pompéia, em São Paulo.

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