CONHECENDO O HAKA KA MATE

Enquanto se assiste a Copa do Mundo Feminina de Futebol, disputada simultaneamente na Nova Zelândia e na Austrália, pode ser um bom momento para que se conheça um pouco mais a respeito do “Ka Mate”. Essa é uma variedade do “haka”, uma dança tribal dos povos originários daquela região. Segundo consta, teria sido criado por Te Rauparaha após ter conseguido escapar ileso de um ataque de tribo rival. Uma espécie de comemoração da vitória da vida sobre a morte. Em função disso, os neozelandeses começaram a usar a expressão como um grito de guerra, buscando deixar inseguros seus inimigos diante de batalhas que poderiam ou não acontecer. Mas, com o passar do tempo, se tornou também um gesto de boas-vindas. Ou seja, sem o conflito que era iminente, todos seriam bem-vindos.

Te Rauparaha era um rangatira – chefe tribal e líder hereditário, termo que também se aplica a pessoas de grande sabedoria prática – do povo Maori, uma etnia proveniente da Polinésia. E Ka Mate pode ser traduzido como “é a morte”, o que se explica por sua motivação original também ser intimidatória. Foi importante o papel desempenhado pela tribo dele na Guerra dos Mosquetes. Este conflito teve uma série de inimagináveis três mil batalhas e invasões, em todo território da Nova Zelândia e também nas Ilhas Chatham, distantes 800 quilômetros do continente. Aconteceu depois de uma corrida armamentista intertribal, consequência nefasta do contato dos povos locais com os europeus. Muitas passaram a buscar ampliação territorial e outras buscavam vingar essas ações, o que causou perda de mais de 30 mil vidas e escravidão de milhares entre os derrotados.

O haka Ka Mate foi popularizado ao ser utilizado por uma equipe de rugby, o principal esporte praticado na Nova Zelândia, na abertura dos seus jogos. Isso foi feito pela primeira vez em 1888, quando um time formado por jogadores de origem maori excursionava pelo Reino Unido. Eles se chamavam All Blacks, tendo sido precursores do Original All Blacks, que fez história a partir de 1905, por ser constituído apenas por operários, agricultores, sapateiros, ferreiros e mineiros. Além dessa manifestação cultural nas aberturas, eles surpreendiam na época por seu uniforme totalmente negro.

Hoje a seleção de rugby da Nova Zelândia, que é uma das melhores do mundo, absorveu todas essas tradições. Para demonstrar unidade e força, antes do início de qualquer partida todos os jogadores se perfilam em campo, diante dos adversários, e se apresentam com o haka. Essa tradição é tão respeitada que os demais times e seleções aguardam pacientemente este momento, que também é ovacionado pelo público presente aos estádios. Internamente no país, isso é visto como exemplo de integração racial e cultural, contribuindo para a unidade da nação.

A versão atual, que busca precisão e intensidade, foi de certa forma resultado de ter sido revisitada em 1987 a partir do trabalho de dois dos seus atletas de então, Wayne Shelford e Hika Reid, ambos também de origem maori. Em 2005 uma nova dança foi acrescentada ao repertório do grupo, o Kapa O Pango – algo como “a equipe de negro –, escrita por um especialista na cultura daquele povo. Desde então, em algumas oportunidades, ambas são apresentadas.

Quanto à Copa do Mundo Feminina de Futebol, a seleção da Austrália passou em primeiro lugar no seu grupo da primeira fase, ao golear e eliminar a atual campeã olímpica, o Canadá. Mas a da Nova Zelândia não teve a mesma sorte e foi eliminada ao empatar em 0x0 com a Suíça, num jogo que precisava ter ganho. A partir do próximo sábado terão início as oitavas, quando apenas as vencedoras de cada jogo seguirão na disputa pelo título.

02.08.2023

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O bônus de hoje oferece primeiro o vídeo de uma apresentação do haka Ka Mate, em estádio. Depois seguimos com a abertura oficial da Fifa TV para as transmissões do mundial feminino. E fechamos com a canção oficial do evento, a música Do It Again (Faça Isso Novamente, em uma tradução livre). Ela é resultado da colaboração entre a neozelandesa Benee e a australiana Mallrat. Na letra, a necessidade de se continuar buscando os sonhos, tendo coragem para persistir até que se alcance nossos objetivos.