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O MAR DAS MINAS GERAIS

Quando olhamos o mapa do Brasil, vemos facilmente que Minas Gerais está separada do Atlântico pelos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia. Mas há algo que nenhum deles registra, apesar de estar documentado, ser histórico: os mineiros têm na verdade uma saída para o mar, que conseguiram legalmente em 1910. Naquele ano, em função de estar sendo construída a Estrada de Ferro Bahia Minas, uma faixa de terras com 142 quilômetros de extensão por 12 quilômetros de largura foi vendida a eles pelos baianos. Ela vai desde a divisa dos municípios Serra dos Aimorés (MG) e Mucuri (BA), incorporando uma parte da cidade histórica de Caravelas (BA), com dois de seus distritos: Ponta da Areia e Barra de Caravelas, bem onde passa a tal via férrea. Está incluído nisso um pequeno porto, também localizado em Caravelas.

Tão inacreditável quanto este acontecimento em si é o fato de que os compradores simplesmente esqueceram que tinham feito isso. Em 1948, no entanto, Darcy Bessone Pai e Magalhães Pinto alertaram o então governador mineiro Milton Campos, a respeito dessas terras. Mas ele se limitou a enviar um ofício, no ano seguinte, reivindicando o território sob o qual seu Estado detém o direito. Não recebeu nenhum retorno. E assim isso permaneceu, até que em 1966 a ferrovia foi desativada. O que não pode ser desconhecido é tal negócio foi realizado de forma legal, o que pode ensejar que Minas volte a reivindicar o território.

A América do Sul já foi palco de um conflito armado, que envolveu três dos seus países e resultou na perda de saída para o Pacífico, de um deles. Me refiro à Bolívia – o nome é uma homenagem ao libertador Simón Bolívar –, que ao se tornar uma república, em 1825, tinha uma costa de 400 quilômetros. Mas o Chile invadiu o seu território, depois que o Império Britânico provocou e incentivou esse ataque, ocasionando uma perda que jamais foi recuperada.

A denominada Guerra do Pacífico ocorreu entre 1879 e 1883. Bolívia e Peru enfrentaram o Chile, tendo sido o motivo alegado a elevação de tributos cobrados de empresas chilenas que estavam estabelecidas no litoral boliviano, em Antofagasta. Mais poderosos e com ajuda oferecida pelos interesses ingleses, os chilenos chegaram a invadir Lima, a capital peruana. A assinatura do Tratado de Ancón cessou as hostilidades, mas o Peru – mesmo tendo recuperado a sua capital –, assim como a Bolívia, também perdeu parte do seu território, que foi entregue para o domínio de Santiago.

Negociações iniciadas em 1975 quase devolveram o tão sonhado acesso à Bolívia, que daria em troca área semelhante em tamanho, em outra parte do seu território. Mas isso não prosperou, justamente porque essa contrapartida está em local onde existe outro litígio, agora entre peruanos e bolivianos. E o Peru vetou. Em 2013, o Estado Plurinacional da Bolívia apresentou perante a Corte Internacional de Justiça de Haia (CIJ), um requerimento para que fosse dada solução ao impasse. Passados cinco anos, nos quais foram examinados documentos e declarações trocadas ao longo do Século XX e no início do atual, a CIJ concluiu que de fato existira intenção de negociar, por parte do Chile. Mas que isso não seria uma obrigação jurídica. Fez como Pilatos, de certa forma, lavando as mãos.

O assunto do “mar mineiro” veio a público através de uma matéria que a revista O Cruzeiro publicou. Ela foi feita pelo repórter Fernando Brant (1946-2015), o mesmo que ficou conhecido também como compositor. Foi quem assinou boa parte das músicas interpretadas magistralmente por Milton Nascimento. No seu texto, Brant informava do ofício que fora encaminhado em 1948, que completava então 25 anos. Diante do texto, o governo baiano disse que procuraria o documento para dar uma resposta. O que não fez naquela época – década de 1970 – e continua sem fazer até hoje. Aliás, o “silêncio” é algo historicamente adotado por autoridades em nosso país, não sendo uma exclusividade daquele Estado.

04.05.2023

Caravelas: realmente da Bahia ou deveria fazer parte de Minas Gerais?

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Temos hoje como bônus a canção É Doce Morrer no Mar, com Dorival Caymmi. Depois é a vez de Música do Mar, composição assinada por Victor Cupertino. O clipe foi gravado ao vivo na Represa do Funil, nas Minas Gerais, com a dupla Gustavo e Paula Fagundes.

MANDANDO PARA LUGARES INCERTOS

Alguém sabe me dizer onde ficam as cucuias? Lembro que às vezes eu ouvia familiares falarem “foi para as cucuias” e, mesmo sem ter a menor noção de onde seria isso, dava para perceber, pela entonação de voz e pela oportunidade de uso, que deveria ser relativamente longe. E que não era bom ir até lá. Alguma coisa tinha sido perdida, algo que se desejava teria escapado ou fugido para esse lugar: era isso o que eu imaginava e não estava errado. Nova destinação era quando entre os amigos, no curso que então se chamava Primário, uns mandavam os outros à merda. Bem mais perto, mas nada higiênico. Coisa assim como ocorreu com um colega que certa vez teve um problema intestinal em plena aula e, sem que nenhum dos outros o tivessem mandado, acabou por lá. Isso até ter sido levado para casa, com transporte de emergência.

Depois, quando a mesma gurizada foi ficando mais taluda, passaram a citar as progenitoras dos outros como destino recomendado, incluindo ainda a prática sexual remunerada como sendo ramo de atividade das mesmas. Ou usavam o “vai” antecedendo o verbo “tomar”, mas que não era nem no sentido de beber, nem no de tirar algo de alguém. Aos dois, se seguia a indicação de uma região anatômica que todos nós temos e que indica que se pode ter medo. Coisa de criança, ou nem tanto assim.

Do Ensino Médio em diante, novos lugares foram sendo incluídos, alguns como desejo da própria pessoa, sem que outra recomendasse. Um bom exemplo é a tal de Pasárgada, que a literatura nos trouxe através de Manuel Bandeira. Se sabia ser uma monarquia, uma vez que ele seria inclusive amigo do rei. E o melhor de tudo nesse lugar é que se podia escolher a mulher que se desejasse. Não sei o que as nossas colegas meninas imaginavam, mas para nós não era nada mal. Na vida real não se conseguia nem as menos desejadas, imaginem só as outras.

Enfim, acabei descobrindo que as tais cucuias eram o brejo onde a vaca vai parar quando algo não dá certo. Nos dicionários consta isso, quando apresenta como significado falha ou malogro. Na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, tem o Cemitério da Cacuia: ou seja, bateu na trave, só pela troca da sua primeira vogal. Não fosse isso seria mais fácil explicar. Que malogro poderia ser pior do que a morte? Em 1904 tal cemitério foi inaugurado, levando o nome do seu bairro. Para ele foram aos poucos transferidos os corpos que estavam em outros dois endereços, ambos na Freguesia, próximos à Igreja Nossa Senhora da Ajuda, até ele se tornar o único. Isso sem considerarmos o povo nativo que existia no lugar, uma vez que os Temiminós também tinham espaços específicos para que seus mortos fossem sepultados. Só que se perderam devido à ação do tempo e dos colonizadores, sempre pouco respeitosos com as tradições, usos e costumes dos “não civilizados”.

Os Temiminós era uma tribo indígena que habitava a baía da Guanabara em área próxima aos seus vizinhos Tupinambás. Ambas tinham traços culturais comuns entre si e com outros agrupamentos também tupis. A mesma língua, crenças e costumes. Mas estou fugindo um pouco do assunto central, se bem que se poderia indicar que algum desafeto fosse visitar esses últimos locais. Não hoje em dia, mas no passado – se isso fosse possível –, uma vez que ambas as tribos eram canibais, apesar de também fazerem uso da agricultura de subsistência. Ou seja, eles tinham uma alimentação balanceada: carne com legumes e grãos.

Para finalizar, em momentos de fúria, pessoas vez por outra dizem “vá para o raio que o parta”. Mas isso não significa necessariamente desejo efetivo de que o outro perca a vida, desta forma tão brutal. É uma raiva passageira, em geral. Uma explosão de energia, para evitar que tal sentimento se transforme em uma úlcera, por exemplo. Agora, sendo o mais preciso possível, um raio não partiria a pessoa nem ao meio, nem sequer em dois pedaços desiguais. Iria era torrar o atingido. E eu, para não torrar mais a paciência de ninguém, sendo por isso mandado a um destes locais citados, paro por aqui.

02.05.2023

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O bônus musical de hoje é A Tonga da Mironga do Kabuletê, de autoria de Toquinho e Vinícius de Moraes, cantada pelo primeiro. A gravação foi feita durante apresentação ao vivo no Teatro WTC, do Hotel Sheraton, em São Paulo (25/03/2016). As palavras tonga, mironga e kabuletê seriam da língua iorubá, falada pelos nagôs, designação que identificava todo e qualquer negro escravizado, que era comercializado na antiga Costa dos Escravos, áreas costeiras dos atuais países Benim, Togo e Nigéria.