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A FORÇA DO ÓDIO

Pobre Brasil, onde a intolerância e a falta de empatia e de humanidade seguem sendo consequências do deplorável e persistente discurso de ódio. Ou talvez o contrário, uma vez que existe uma retroalimentação constante entre narrativas e sentimentos: uma similaridade com aquela questão da galinha e do ovo, porém mais evidente. Sem dúvida alguma, o discurso gera a intolerância e a intolerância gera o discurso. A verdade é que, quando a gente pensa que se possa estar de algum modo rumando para a pacificação do país, virando a página deste antes tão improvável fascismo que nos alcançou, notícias nos mostram o contrário. Nada de reconstrução: a maldade segue latente e a extrema-direita não irá descansar de modo algum, jamais dando espaço para qualquer coisa que seja de fato positiva, alentadora. 

Vejamos aqui dois exemplos recentes desta irracionalidade extremista. Marco Feliciano, que é deputado federal e também pastor pentecostal, afirmou dia 30 de junho que os africanos são descendentes de um ancestral amaldiçoado por Noé. Disse também que o homossexualismo teria começado na África, assim como a AIDS. Dois dias depois outro pastor bolsonarista, André Valadão, transmitiu um culto ao vivo no qual insinuou que os evangélicos deveriam matar a população LGBTQIAP+. Ou seja, a fé que deveria ser cristã prega abertamente coisas que Jesus jamais teria proposto ou sequer referido. Cadê o “amássemos uns aos outros”? Desde quando o cristianismo tem na sua filosofia o ataque a grupos, minoritários ou não? Racismo e homofobia são crimes no Brasil (Lei 7.716/89) e quem os pratica precisa ser tratado como criminoso.

Fiquei pensando: Marco Feliciano recusa receber o dízimo de fiéis de sua igreja que sejam negros ou pardos? Porque, inacreditavelmente, eles existem. Muitos continuam lá, mesmo atacados em sua ancestralidade e desrespeitados na sua dignidade humana, talvez em função da lavagem cerebral a qual estão submetidos. Aliás, esse mesmo deputado pastor já fora denunciado em ocasiões anteriores pela prática de estupro e de orgias em igrejas evangélicas. Um belo exemplo de cidadão e religioso. Lembro ainda que ele é alvo de dois processos no Supremo Tribunal Federal, um deles sendo ação que o acusa de estelionato. E Valadão, que tão logo demonstrou sua vergonhosa homofobia foi denunciado pela travesti Talita Oliveira, que fora contratada em duas oportunidades para “prestar serviço ativo” ao pastor, como é que fica?

Em dicionários se encontra que ódio é uma aversão intensa, que é direcionada. Mas, ao prosseguir no conceito, eles dão também pistas de suas razões e origens. Está posto que é “paixão que conduz ao mal que se faz ou se deseja a outrem”. Entendeu, Valadão? Prato cheio para a explicação da repugnância. Bendita psicologia! Esse rancor violento e duradouro também pode ser consequência da inveja ou do medo. Tudo muito lamentavelmente humano, mas que pode e precisa ser enfrentado e resolvido.

Agora em 13 de julho, o Correio Braziliense publicou notícia relatando que o ministro da Justiça, Flávio Dino, demitiu um delegado da Polícia Federal que havia declarado, publicamente, que indígenas e negros são seres inferiores. A exoneração, afirma o jornal, estava publicada no Diário Oficial da União – não tive como confirmar. Mas, que providência que não esta deveria ser tomada? Tal opinião do delegado colocaria em xeque a credibilidade do seu trabalho e da própria instituição, que na verdade andou também sendo contaminada nos últimos anos. E não só ela: a política brasileira é o maior exemplo disso, depois que em passado recente os ratos saíram do esgoto direto para postos chave, a partir da eleição de Jair Bolsonaro.

O Congresso Nacional nunca foi tão conservador e extremista, quanto esse eleito no ano passado. E esta semana o presidente do PL no Rio de Janeiro, Valdemar Costa Neto, disse ter encontrado o nome ideal para o posto de vice na chapa que irá apresentar, com o general Braga Neto buscando a prefeitura da capital carioca. A escolha deve recair sobre a deputada federal bolsonarista Chris Tonietto, também do PL, tendo sido decidida porque ela foi condenada pela Justiça Federal a pagar R$ 50 mil de indenização por danos morais coletivos, após associar nas suas redes sociais a população LGBTQIAP+ com pedofilia. É a força do ódio. Basta comprovar que o seu é grande o suficiente e sua vida está feita.

17.07.2023

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