Primeiro, vamos recordar a imensa “vantagem estratégica” que tiveram os EUA durante e depois da Segunda Guerra Mundial. Aquele foi o único país, entre as grandes potências, que participou do conflito sem ter tido um único ataque perpetrado contra o seu território. Isso, evidentemente, sem considerarmos Pearl Harbor, que é uma base naval existe no Havaí, que foi surpreendida em 7 de janeiro de 1941(*). Então, toda a estrutura industrial foi mantida intacta, assim como seu contingente populacional, o que permitiu o crescimento e a consolidação de um enorme poderio. Do outro lado do Atlântico, a Alemanha terminou destroçada, Inglaterra e França tiveram perdas enormes. E a União Soviética, que ao vencer a Batalha de Stalingrado encaminhou de fato o final do conflito, essa foi fortemente castigada. Estima-se que pelo menos 26 milhões de pessoas perderam a vida em territórios seus que foram ocupados pelos nazistas, sendo 11 milhões delas civis.

Simplificando: os Estados Unidos enriqueceram vendendo armas e ainda emprestando dinheiro para os outros combatentes. Assim, no início da chamada Guerra Fria, havia uma enorme diferença de condições entre estadunidenses e soviéticos, com vantagem total para os primeiros. Neste cenário foi proposto o Acordo de Bretton Woods. Liderado pelos Estados Unidos, que tinha consigo Canadá e Austrália, além da Europa Ocidental – no total foram 44 países –, o seu objetivo em tese era proporcionar a reconstrução da Alemanha, Japão, Reino Unido e França. Mas, essencialmente, foram estabelecidas as normas para um novo sistema monetário internacional. Desta conferência resultou a criação do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial. Ela ocorreu na cidade que lhes deu o nome, no estado de New Hampshire. A União Soviética, que esteve nas primeiras discussões, não ratificou os acordos finais.

O que lá ocorreu foi uma benesse incalculável para os reais interesses estadunidenses, uma vez que as taxas de câmbio de todas as nações foram fixadas em relação ao dólar, que por sua vez precisava ser referenciado pelo ouro (valor de US$ 35 por onça-troy, na ocasião). Para países desenvolvidos isso funcionou muito melhor do que para os em desenvolvimento, mas tudo seguiu em operação desta forma, até 15 de agosto de 1971. Naquela data, de forma unilateral, o então presidente Richard Nixon acabou com a convertibilidade do dólar em ouro, tornando ele uma moeda fiduciária. Assim, as reservas de quase a totalidade dos países foram convertidas diretamente para o dólar, ampliando a já existente dependência de todos eles. A primeira consequência foi que o Japão, que crescia vertiginosamente e ameaçava a liderança dos EUA, teve freado o seu desenvolvimento.

Na prática, foi consolidado o gerenciamento econômico internacional se baseando apenas na potência dominante. Reduzia-se drasticamente o número de atores. O capitalismo passava a ter um único dono, por assim dizer. A potência hegemônica continuava dependendo dos demais países, seja como fornecedores de matéria prima ou como mercado. Mas, ditava mais do que nunca todas as regras do jogo. E ganhava uma fração de qualquer operação comercial, não importando entre que nações ela ocorresse, quando das conversões para o dólar.

Pulando para o momento atual, se pode entender a enorme preocupação estadunidense com o crescimento da China, uma vez que o quadro agora não permite ser ela freada como fizeram quando do desenvolvimento japonês. Até porque existe uma diferença de fato gigantesca entre os dois países asiáticos, em termos de capacidade econômica (PIB de US$ 19,53 trilhões contra US$ 4,02 trilhões). As populações também são muito diferentes (1,409 bilhão de pessoas contra 124 milhões). Além disso, os chineses são auto suficientes em setores que seus vizinhos jamais foram, além de terem uma enorme capacidade de buscar aliados e parceiros comerciais em todo o planeta.

O multilateralismo em curso inexorável, que agora descola boa parte das decisões para longe de Washington, assim como a possível adoção de outras moeda para a comercialização, coloca em xeque de uma vez por todas a força de um império que ainda está na frente, em termos de economia, mas cuja liderança perderá em breve. Ele não tem como impedir isso. O grande perigo está na força militar ainda enorme, da qual governantes muito arrogantes e pouco hábeis podem vir a fazer uso. Isso ocorrendo, o ideal do ganha-ganha, que deveria nortear todas as relações, será substituído pelo perde-perde. Com consequências de fato devastadoras.

17.10.2025

(*) O ataque contra Pearl Harbor teve como objetivo neutralizar a Frota do Pacífico dos EUA. Isso permitiria a expansão japonesa no Sudeste Asiático e só não foi conseguido porque as forças do Japão, de modo inexplicável, não continuaram atacando mesmo tendo estabelecido uma enorme vantagem momentânea. Mais de 2.400 combatentes estadunidenses foram mortos, havendo danos significativos aos seus navios. Mas, nem todos foram afundados e os porta-aviões sequer foram atingidos. 

 Autoridades de 44 países participaram na conferência original. Dessas, 29 assinaram a criação do FMI.

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O bônus de hoje é a música-tema do filme Pearl Harbor, tocada pela Film Symphony Orchestra (FSO), um conjunto internacional fundado na República Tcheca, que ficou conhecido por ter gravado mais de cinco mil trilhas sonoras.


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