O pianista, compositor e escritor de musicais canadense Galt MacDermot (1928-2018) teve uma carreira de sucesso. Talvez as pessoas tenham alguma dificuldade de lembrar dele pelo nome, mas foram suas, servindo de exemplo, as músicas da icônica peça teatral Hair, escrita por Gerome Ragni e James Rado. Ela fez sua estreia em outubro de 1967 no The Public Theater, onde permaneceu 45 dias; passou para uma discoteca existente no centro de Manhattan para algumas poucas apresentações; e ficou na Broadway, a partir de 29 de abril de 1968, onde foi repetida 1750 vezes em série. Filmada por Milos Forman, ela alcançou repercussão mundial. No elenco das telonas, John Savage, Treat Williams e Beverly D’Angelo.

Mostrando todo o seu talento e a capacidade de transitar por diversos gêneros, Galt produziu álbuns de jazz, música clássica e funk-music. E, por bom período, se tornou bastante comum algumas de suas músicas serem sampleadas (*) por artistas de hip-hop. Isso além de assinar várias trilhas sonoras para filmes e realizar outros musicais completos, além do mais famoso e já citado Hair. Entre eles The Two Gentlemen of Verona, baseado na obra de William Shakespeare, que o levou a conquistar o Prêmio Tony de Melhor Festival do ano de 1971. Outros exemplos que podem ser dados são My Fur Lady (1957), Who the Murderer Was (1970) e The Legend of Joan of Arc (1997). E ele também lançou, de 1956 até 2000, oito álbuns. Com sua música African Waltz, a gravação que foi feita pelo saxofonista norte-americano Cannonball Adderley (1928-1975) ganhou seu primeiro Grammy, em 1960.

O texto de Hair conta a história de um rapaz interiorano – ele vem para Nova Iorque saindo pela primeira vez de Oklahoma – que é recrutado para ir lutar no Vietnã. Ao chegar na cidade grande conhece, por acaso, um grupo de hippies no Central Park. Esses lhe apresentam um modo nada convencional de viver a vida, colocando em xeque tudo aquilo que antes ele considerava o jeito certo. Não bastasse todo o enorme choque cultural, ele ainda termina se interessando por uma garota que pertence à aristocracia local. O contexto todo está no questionamento da época, em especial por parte da juventude, que não entendia as razões e não concordava com o envolvimento dos Estados Unidos com a guerra da distante Península Indochinesa, região localizada no Sudeste Asiático que inclui, além do Vietnã, ainda Laos e Camboja.

O nome todo da peça é Hair: The American Tribal Love-Rock Musical. E ela foi um produto típico da contracultura hippie, abordando questões como a sexualidade e a discussão sobre o uso de drogas lícitas ou não. E não apenas isso: na própria estética trouxe novos parâmetros criando o que logo foi chamado de “rock-musical” e convidando a plateia a interagir com o espetáculo, podendo subir ao palco na cena final. Quando nas telas, repetia isso de certa forma, com não raras vezes o público cantando junto as canções. Essa irreverência, o direito de dizer não, de pensar diferente, foi fundamental para o sentimento pacifista que contribuiu para o retorno das tropas norte-americanas – pena que isso não tem mais como ser feito hoje em dia.

No Brasil a primeira montagem de Hair foi em 1969, em plena ditadura militar. E revelou uma série de atores e atrizes que fizeram longa carreira em nosso meio. Estavam no Teatro Bela Vista, no Bixiga, em São Paulo, Ney Latorraca, Antonio Fagundes, Aracy Balabanian, Armando Bógus, Altair Lima e Sônia Braga, entre outros. A direção foi de Ademar Guerra e coube à Marika Gidali, do Ballet Stagium, cuidar das coreografias feitas para clássicos como “Let the Sunshine In”, “Hair” e “Aquarius”. Muitas outras montagens aconteceram depois desta.

16.11.2024

 (*) Samplear é retirar um pequeno trecho de uma obra musical para ser usado em uma nova obra. Não se trata de plágio, uma vez que é feito às claras e, de certa forma, como um reconhecimento e homenagem.

Cena do filme de Milos Forman (1979), no Central Park

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No bônus temos o elenco que apresentou a peça HAIR – A Revolução do Amor, no Espaço Cia da Revista, em São Paulo, em 2017, quando fazia um dos seus primeiros ensaios. Nele, cantam trechos de Aquarius e de Let The Sunshine In. Depois é a vez de Coffe Cold (Café Frio), em clipe com cena no filme The Thomas Crown Affair (1968), com Steve McQuenn e Faye Dunaway.


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