Nesse nosso tempo que já nem sei se posso chamar de moderno, pós-moderno ou pelo genérico contemporâneo, onde tudo e todos têm uma pressa inexplicável, onde a urgência está sempre batendo em nossas portas e cabeças, devem ser muito raras as pessoas que não tenham alguma dificuldade em termos de saúde mental. E, entre todas as enfermidades que podem nos acometer, neste âmbito, provavelmente as mais comuns sejam a ansiedade e a depressão.

A ansiedade é uma resposta natural do nosso organismo, dada diante de certas situações, que podem ser não apenas as desafiadoras ou aquelas que nos ameaçam, como também as resultantes de expectativas, sejam estas negativas ou positivas. Fica ansiosa a criança ao não ter a certeza de que seus pais, ao se despedirem dela para ir ao trabalho, irão de fato retornar. Ou, maiorzinha, quando as horas não passam com a rapidez por ela desejada, até a chegada de Papai Noel. No caso de um adulto pode ser enquanto está aguardando o resultado de algum exame, diante do risco de perder o emprego, mas também frente a algo pueril como o andamento de um jogo de futebol.

Em níveis moderados, a ansiedade pode até ser bastante benéfica, pois aumenta nossa vigilância e nos predispõe para reações necessárias. Só quando se torna sistemática, exagerada e muitas vezes sem um motivo real é que vira uma patologia que requer atenção, ajuda e tratamento. O que se precisa entender é que ela não pode ser controlada apenas com o uso da razão, pois isso força uma tendência de se pensar mais nela, com os sintomas sendo então intensificados.

Sobre depressão, há quem afirme que já se fala nela há pelo menos uns 300 anos, o que não sei se é verdade. E, se for, com certeza ela não atingia no passado nem de perto os índices quase que epidemiológicos de hoje em dia. Quanto aos sintomas, os mais básicos são mudanças nos níveis de ânimo e energia, como também na qualidade do humor e no pensamento. Mas, especialistas seguem divergindo sobre as suas causas e até mesmo sobre definições. Boa parte deles admite que não se trata de uma coisa única, sendo na verdade um grupo. E que essas “depressões diferentes” podem ter causas múltiplas para o seu disparo. O que, convenhamos, complica muito a efetividade de quaisquer um dos tratamentos propostos.

Uma categorização básica que vem sendo agora aceita classifica em dois grupos básicos a depressão: a reativa e a endógena. Evidente que cada um deles com subgrupos. Mas, citando como se fossem apenas esses dois, sem subdivisões, o primeiro englobaria toda a que tem causas sociais ou psicológicas, as desencadeadas por fatores externos estressantes ao longo da nossa jornada. Como uma espécie de “filha do estresse”, que seria o seu gatilho. Pode vir com a descoberta de uma doença; a perda de um ente querido; as incertezas e riscos enfrentados na busca de uma existência confortável e segura; desilusões amorosas; por ter sofrido algum abuso; ou por expectativas equivocadas. Endógena seria a depressão causada por fatores genéticos ou biológicos, estes últimos sendo resultantes de algum desequilíbrio químico no cérebro.

Agora, convenhamos, com a admissão de que fatores endógenos de fato existam, se pode estar correndo o risco de uma simplificação nos tipos de tratamento. Acreditando que bastaria a prescrição de remédios e tudo poderia ficar controlado e resolvido, sem terapia, sem um acolhimento. Isso pode agradar e muito à indústria farmacêutica, mas não se trata de uma solução recomendável. Até porque a questão química ou genética pode ser agravante, um favorecedor do disparo dos gatilhos, estando longe de ser a motivação central. Se essas pessoas, mesmo com a tal suposta predisposição, não encontrarem uma motivação externa que deflagre tudo, não poderiam passar pela vida sem enfrentar o problema? Por outro lado, muitas que enfrentam depressão podem ter, por exemplo, um risco genético mínimo ou nenhum.

Enfim, seja qual for a causa, assim como seja qual for o transtorno, o que temos que aprender é que eles precisam ser considerados como algo sério, merecedor de acolhimento, diagnóstico e tratamento. É relevante que se supere o preconceito que nos leva a buscar por cardiologistas, por pneumologistas ou especialistas em qualquer órgão ou membro do corpo humano com desenvoltura, ao mesmo tempo em que evitamos fazer isso quando se trata de cuidar da nossa mente. Nosso corpo é uma unidade, perfeita e harmônica. E devemos lutar para que se conserve assim.

12.06.2024

Ansiedade e depressão tiveram índices crescentes após a pandemia de Covid-19

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O bônus de hoje é duplo, iniciando com toda a doçura de Marina Aquino interpretando a canção Mundança, composição de Flávio Leandro e Elmo Oliveira. Depois temos Rita Lee e sua música Saúde.

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