No início do mês de dezembro de 1872, um pequeno navio mercante foi encontrado à deriva entre a costa de Portugal e as ilhas dos Açores. Era um bergantim, nome dado para embarcações ligeiras, de dois mastros e velas latinas triangulares. Ele estava intacto, com perfeitas condições de navegabilidade e a sua carga permanecia intocada, assim como os pertences da tripulação. Faltavam apenas o seu bote e os instrumentos de navegação, não havendo sinal algum de nenhuma das dez pessoas que sabiam estar a bordo. O Mary Celeste foi então conduzido pelo Dei Gratia, que o havia localizado, até o porto de Gibraltar. As autoridades marítimas britânicas instauraram inquérito na tentativa de esclarecer os fatos, sem que nunca o mistério tenha sido resolvido.

O bergantim partira do porto de Nova Iorque um mês antes. Benjamin Briggs era o comandante e com ele viajavam sua mulher (Sarah Elizabeth), a filha do casal (Sophia Matilda), com dois anos de idade, e mais sete marinheiros. Carregavam barris com álcool e o destino era Gênova, na Itália. Quando o pessoal do Dei Gratia subiu a bordo do Mary Celeste, após ter sido percebido que ele navegava de forma errática, não havia sinais de luta, de sangue ou desordem que pudessem apontar para um motim. O diário de bordo estava no local. Existia abundância de alimentos e água potável. E uma refeição servida sobre a mesa sem ter sido consumida indicava que a tripulação havia saído às pressas. 

A história, com todos esses ingredientes, passou a interessar muito à imprensa. Principalmente porque as autoridades estavam tão atônitas quanto o público. Especulações de todos os tipos passaram a ser aventadas. Foram de sismo submarino, passando por inesperadas trombas d’água e chegando a monstros marinhos ou alguma atividade paranormal. Autores de livros esotéricos fizeram uso deste caso por mais de um século.

Mais proximamente do evento em si, quem optou por buscar explicações policiais começou a suspeitar dos tripulantes do Dei Gratia. Como os dois comandantes se conheciam, consideravam uma coincidência enorme um ter encontrado o outro em alto mar. Além disso, Briggs e Morehouse haviam inclusive jantado juntos antes de ambos partirem de Nova Iorque. Parte da opinião pública identificou o pessoal da segunda embarcação como farsantes e assassinos. Mas, a comissão de inquérito concluiu que não existiam provas nem quaisquer indícios nesse sentido. Até porque, como ficou claro desde o começo, não parecia existir qualquer interesse material, pois a carga chegou igual ao destino.

A companhia seguradora terminou optando por uma das teorias: a da combustão espontânea de algum dos barris da carga, que poderia ter assustado a tripulação uma vez que tudo poderia então pegar fogo. Assim, eles teriam saído às pressas, sem se dar conta de que ela se extinguiu depois sozinha. Algo pouco provável, pois não encontraram marca alguma de fogo nos porões. Outra versão especulada foi a de que os marinheiros teriam atentado contra seu capitão e a família, jogando os cadáveres ao mar antes de abandonaram o barco, num misto de total insensatez e medo de punição posterior.

O comandante Benjamin Briggs tinha 37 anos quando desapareceu. Ele e a esposa eram naturais de Marion, nos Estados Unidos, com ela sendo filha de um reverendo local. O casal tinha também um filho de sete anos, de nome Samuel, que não os acompanhou naquela viagem. O Mary Celeste possuía 31 metros de comprimento e pesava 282 toneladas. Na época a navegação à vela já tinha muito menor importância comercial, perdendo terreno para o vapor. E o bergantim ficou marcado por essa história jamais esclarecida, até ser envolvido eu outra, derradeira: um novo comandante o fez bater de propósito contra recifes de coral, no Haiti, em 1884. Seu propósito era receber o seguro, mas o esquema foi descoberto. O que nunca se descobriu foi o destino daquelas pessoas que estavam a bordo em 1872.

10.06.2024

O Mary Celeste, com foto de Sarah Elizabeth Briggs e sua filha Sophia Matilda no detalhe

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