EU QUERIA TER O QUE DIZER

Muitas vezes, muitas vezes mesmo, já me peguei pensando no quanto eu gostaria de ter capacidade para falar ou escrever alguma coisa que fosse marcante de fato. Só para falar para minha filha. Ou entregar escrito, pois seria uma esperança a mais de não serem esquecidas as palavras. Isso porque o tempo da gente por aqui sempre é menor do que se gostaria, sobrando depois apenas o que se conseguiu construir, seja essa construção concreta ou abstrata. E palavras concatenadas são a coisa abstrata mais concreta que existe. Elas se materializam, adquirem o poder de se eternizar.

A palavra certa na hora certa esclarece, aponta rumos. Uma palavra bem colocada acarinha, protege. Ela cria e acompanha. Qualquer palavra ocupa o espaço entre dois silêncios, sejam eles breves ou longos. E se destaca entre eles, quando tem qualidade para tanto. Uma palavra bem posta entrelaça realidade e sonho. E até confunde o que sejam um e outro. Palavra é prosa e poesia. É energia pura. Pode ser o melhor dos doces, o mais agradável dos perfumes, tanto quanto pode ser veneno mortal. Para ela, evidente que meu desejo mais profundo é que fosse significativa, relevante e positiva. Que se tornasse um grande presente, uma lembrança perene.

Mas, uma declaração de amor seria redundante. Isso tenho certeza que ela já sabe que existe. Conselhos, esses são sempre relativos e em geral possuem um prazo de validade, uma datação. O que se sugere ou alerta para uma criança difere em muito se for para um adolescente, para um adulto ou mesmo para alguém da terceira idade, como eu. Sim, porque o tempo não nos salva de precisarmos de aconselhamentos, da oportuna observação de terceiros que gostem da gente de verdade.

Posto isso, o que eu poderia dizer ou escrever? Que talento seria preciso trazer ao nível da minha vontade e dos meus sentimentos? Há anos eu vivo esgrimindo com essa condição humana de me expressar, seja oral ou escrita, sem ter alcançado a grande vitória. Mas, se trata de uma função ingrata essa busca. Algo assim como perseguir o horizonte: na mesma velocidade com a qual dele nos aproximamos, ele se afasta. Então, quanto mais você fala e escreve, mais parece que não falou ou escreveu aquilo que realmente importa.

Desta forma, o máximo que consigo prometer é seguir tentando. Seguir aberto à possibilidade de que alguma inspiração faça de mim o portador de algo que para ela – ou mesmo para outras pessoas – faça um sentido especial. Mas, talvez eu esteja apenas me agarrando em uma desculpa, sendo eu próprio aquele que precisa asfaltar o caminho que ainda deva percorrer. O que, cá entre nós, daria uma nova dimensão ao termo “auto ajuda”.

24.01.2020

P.S.: Abaixo você encontra o “Algumas Coisas Para Se Pensar” e também o tradicional bônus.

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ALGUMAS COISAS PARA SE PENSAR (13)

1. É inacreditável, mas a ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica, segundo informado ontem, irá propor um reajuste para as tarifas de energia elétrica acima da inflação, agora em 2024. Na Região Sul o aumento pode ser maior do que no restante do país, beirando os 7,5%. Deve ser um prêmio pelos ótimos serviços prestados, como se viu esta semana aqui no Rio Grande do Sul, com as empresas privatizadas Equatorial e a RGE deixando milhares de consumidores sem energia por seis dias seguidos.
2. O médico Leandro Boldrini, que está preso na cidade de Santa Maria cumprindo pena de 31 anos e oito meses de prisão pelo assassinato do seu próprio filho de 11 anos, Bernardo, foi absolvido pelo Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul, o Cremers. Seus pares entenderam que ele “não cometeu ilícitos médicos durante o exercício profissional”. Convém lembrar que o menino foi dopado com barbitúricos e depois morto com aplicação de uma injeção letal. Leandro obtivera, ainda em julho do ano passado, progressão de regime e passou para o semiaberto.
3. Chegaram ao Brasil cerca de 750 mil doses da vacina contra a dengue, adquiridas pelo Governo Lula. O Ministério da Saúde agora divulgará critérios de aplicação, que foram acordados com Estados e municípios, informando regiões e faixa etária.

No bônus musical está Não Esqueça, um verdadeiro poema escrito por Nico Nicolaiewsky, na voz de Fernanda Takai.

Nelson Nicolaiewsky, que usava o nome artístico de Nico, nasceu em Porto Alegre em 1957. Compositor, músico e humorista, foi um dos fundadores do Musical Saracura. Ganhou destaque com o personagem Maestro Pletskaya, no espetáculo Tangos & Tragédias, que durante 30 anos realizou ao lado de Hique Gomez.

Fernanda Takai é brasileira nascida no Amapá, tendo ascendência portuguesa e japonesa. Compositora, cantora e multi-instrumentista, integra o grupo Pato Fu desde 1992, além de ter carreira solo. Formada em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais, em 2001 integrou a lista das dez melhores cantoras do mundo, feita pela revista Time norte-americana.