O muito merecido sucesso de Ainda Estou Aqui, tanto como excelente obra cinematográfica quanto registro histórico, foi reconhecido no mundo todo. A crítica, as premiações e a bilheteria comprovam oportunidade e acerto do trabalho. Agora, se torna necessário ressaltar que outros tantos filmes também documentaram esses tempos sombrios. Há uma lista de pelo menos 40 deles, em mais de um gênero, que podem ser citados. A imensa maioria está inclusive disponível no Youtube. Ou seja, ignora ou nega o que houve apenas quem adora viseiras. Apresento a seguir seis deles, por ordem do ano de lançamento. Todos podem ser procurados para assistir gratuitamente, sendo que dois estão ao final do texto de hoje, ocupando o lugar dos tradicionais bônus, já com os links para acesso.

• Brasil: o relato de uma tortura (1971), de Saul Landau e Haskell Wexler. Rodado no Chile, o documentário foi feito com exilados brasileiros que foram para aquele país ao serem trocados pelo embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher. O relato é impactante e forte, resgatando histórias de tortura e violências praticadas inclusive na frente de filhos pequenos de quem estava detido.

• Eles Não Usam Black-tie (1981), de Leon Hirszman. Baseado em peça teatral de Gianfrancesco Guarnieri, é uma obra de ficção que retrata a greve de operários de uma grande empresa paulista, dividindo famílias, sindicalistas e a comunidade do entorno. Mostra o uso da polícia e forças da repressão para sufocar manifestações durante a ditadura. No Festival de Veneza, recebeu o Prêmio Especial do Júri. 

• Lamarca (1994), de Sérgio Rezende. É uma crônica que revela os últimos dias de vida do capitão do exército Carlos Lamarca, que é vivido por Paulo Betti. Militar exemplar, que inclusive serviu à ONU no Canal de Suez, ao se dar conta das barbáries que vinham sendo cometidas pela ditadura, ele deserta e se torna um dos mais destacados líderes da resistência armada.

• Ação entre Amigos (1998), de Beto Brant. Quatro amigos que no início da década de 1970 haviam participado da luta armada e que acabaram presos e torturados se encontram 25 anos depois. Nesta ocasião, localizam acidentalmente seu torturador, que também fora o responsável pela morte da namorada de um deles, que estava grávida. A moça morreu quando este mesmo algoz colocou nela uma “coroa de cristo”, até estourar seu cérebro. A questão é o que fazer agora, que descobriram o assassino.

• Zuzu Angel (2006), de Sérgio Rezende. É um drama biográfico que relata a vida da estilista brasileira Zuzu Angel. Ela era a mãe do militante político Stuart Angel Jones, que foi preso, torturado e assassinado pela ditadura, na virada dos anos 1960 para 1970. A partir de então, a mulher que era apolítica entra em verdadeira guerra contra o regime, buscando recuperar o corpo do seu filho. Para tanto, envolveu até mesmo os EUA, país do seu ex-marido e pai de Stuart. Sua busca cessou apenas quando ela morreu em um muito mal esclarecido acidente de trânsito ocorrido na Estrada da Gávea, em 1976.

• Carlos Marighella: quem samba fica, quem não samba vai embora (2011), de Carlos Pronzato. Este documentário é o segundo incluído nesta primeira lista. É composto por relatos de mais de 20 pessoas envolvidas na vida política de Marighella, acentuando sua coerência entre discursos e ações. Poeta e guerrilheiro, foi morto em 1969. Uma carta sua, escrita um ano antes do seu assassinato, está incluída no filme.

13.04.2025

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