AMORES IMPROVÁVEIS (1)

Algum tempo atrás, escrevi aqui no blog sobre um filme no qual havia o muito improvável relacionamento afetivo entre um homem de meia idade e uma garota bastante jovem. Foi no início de dezembro do ano passado, quando comentei Tudo Pode Dar Certo, que tem roteiro e direção assinados por Woody Allen. Depois disso, alguns dos meus leitores manifestaram opiniões sobre isso e se discutiu não apenas a possibilidade de algo assim ocorrer na vida real, como também sobre outras obras cinematográficas que teriam tido idades desiguais entre os protagonistas como característica. Pesquisei para atender esse pessoal e encontrei várias. Com muito maior facilidade, se constata que as telas reproduzem histórias nas quais o homem é mais velho – algumas serão lembradas hoje –, o que denota um óbvio preconceito social. Mesmo assim, me deparei com alguns casos nos quais se dá o contrário, que deixarei para uma postagem posterior.

Posso começar citando As Good as It Gets (Melhor é Impossível), que não é recente – lançamento em 1997 –, mas tem o atrativo de contar com Jack Nicholson e Helen Hunt nos papéis principais, que renderam a ambos a premiação com o Oscar de Melhor Ator e de Melhor Atriz pelo trabalho. Ele é um escritor obsessivo-compulsivo de ficção romântica que é rude no trato com as pessoas e preconceituoso, mas começa a mudar quando precisa acolher o cão de um vizinho seu homossexual que foi hospitalizado. Ela é garçonete no restaurante que ele frequenta, sendo a única que tem tolerância para atender tal cliente. A direção é de James Brooks.

De 2003 é Lost in Translation (Encontros e Desencontros), dirigido por Sofia Coppola. Tudo se passa em Tóquio, onde um ator de cinema muito conhecido Bill Murray (Bob Harris) vai fazer um comercial de uísque. No hotel de luxo onde se hospeda, ele encontra a esposa de um fotógrafo, Charlotte (Scarlett Johansson), que a negligencia e deixa sozinha quase todo o tempo. Afetados pelo fuso horário – e por questões afetivas muito mal resolvidas –, Bill e Charlotte terminam se encontrando durante a madrugada no bar. Esse é o ponto de partida para que se estabeleça entre eles a possibilidade de apoio mútuo e busca de compreensão.

De 2005 é The Girl in the Café (A Garota do Café), dirigido por David Yates. Trata-se de um drama britânico que supera a corriqueira falta de sensibilidade das suas produções, o que por si só já chama a atenção. Na história, um funcionário do governo convida uma moça com a qual se encanta para uma viagem a trabalho. No convívio, surgem conflitos que se estabelecem pelas posições políticas divergentes. Kelly Macdonald ganhou o Prêmio Emmy do Primetime, como Melhor Atriz Coadjuvante. Bill Nighy faz o papel masculino.

Outra sugestão recai sobre Elegy (Fatal), um drama romântico de 2008 que se trata de uma adaptação cinematográfica do romance The Dying Animal (O Animal Agonizante), de Philip Roth, lançado sete anos antes. Um escritor, crítico de arte e professor de meia idade, incapaz ao longo da vida de manter relacionamentos duradouros, conhece uma elegante e linda estudante cubana, a quem seduz. Sendo 30 anos mais velho do que ela, sua insegurança aumenta ainda mais quando a moça resolve apresentá-lo para seus familiares. O filme é estrelado por Penélope Cruz, Ben Kingsley e Dennis Hopper.

Uma comédia dramática francesa de 2015 também pode ser incluída na lista. Trata-se de remake de outro filme, de 1977, tendo mantido o mesmo nome: Un moment d’égarement (Doce Veneno). Divorciado, um homem bastante temperamental e antiquado no que se refere às mulheres, volta para uma antiga casa de praia para passar férias de verão com a filha de 17 anos. Com os dois vão um amigo dele, também separado, e sua filha de 18 anos. Só que a primeira se interessa e se envolve com o visitante, termina contando o fato para o seu pai – sem revelar com quem é a relação mantida –, e provoca uma situação extrema. Os quatro papéis principais são vividos por Vincent Cassel, François Cluzet, Alice Isaaz e Lola Le Lann.

Cito ainda os filmes Manhattan, de 1979; An Education (Educação), de 2009; Liberal Arts (Histórias de Amor), de 2012; e Copenhagen, de 2014. Todos eles se enquadram nessa temática proposta. E lembro a todos que os nomes entre parêntesis ao longo do texto são os atribuídos em língua portuguesa, não sendo necessariamente a tradução dos originais.

03.06.2024

Jack Nicholson e Helen Hunt estão impecáveis nos papéis

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O bônus de hoje é a música Apenas Mais Uma de Amor, de Lulu Santos.

TUDO VAI DAR CERTO

O roteiro e a direção são assinados por Woody Allen, o que já dá o tom de como e onde a história deve se desenrolar. Claro que em Nova York, onde um homem de idade avançada e mal humorado se envolve em um improvável relacionamento. Ele é um enxadrista aposentado e hipocondríaco, que vive só e se depara um dia com uma jovem na sua porta, pedindo algo para comer e um lugar para passar a noite. Ela é uma interiorana vinda do Sul, recém chegada na metrópole completamente sem noção de nada. A noite se transforma em uma semana e se transfigura, ao longo e depois disso, em uma relação absurdamente pitoresca. Estou falando de Whatever Works, que foi lançado no Brasil ainda em 2010 com o título de Tudo Pode Dar Certo e agora anda por aí, extraviado em streamings e sites especializados.

No elenco estão Larry David e Evan Rachel Wood, nos papéis principais de Boris e Melodie. Quando a história do casal vai tomando o rumo da intimidade, a mãe da garota chega repentinamente. A mulher se coloca contra a escolha da filha e começa a buscar um parceiro substituto para ela. Depois chega o pai da moça, o que complica ainda muito mais os acontecimentos. Entretanto, são esses dois novos personagens que a partir do que encontram sofrem as maiores consequências e vão aos poucos percorrendo uma jornada de autoconhecimento.

Esse filme marcou o reencontro de Allen com sua cidade, uma vez que antes de rodar Tudo Pode Dar Certo ele esteve por um bom tempo na Europa – cinco anos para ser exato –, período no qual dirigiu outros quatro longas-metragens. Segundo seu relato, o roteiro era ainda do início da década de 1970, quando ele havia preparado tendo em mente Zero Mostel para viver o papel de Bóris. Ele era seu amigo e ambos já haviam contracenado em The Front, uma comédia dramática de 1976, dirigida por Martin Ritt. No Brasil o filme recebeu o nome de Testa de Ferro Por Acaso, seguindo a ilogicidade reinante no setor. Só que aquele autor faleceu em 1977 e a ideia foi arquivada por 30 anos.

O roteirista e diretor confessou que quase nada foi mudado do roteiro original. Segundo ele, as alterações mais significativas giraram apenas em torno das referências sociais e políticas que estavam datadas. Agora, como é característica dos trabalhos de Woody Allen, os diálogos são ágeis e não raras vezes cortantes. Um recurso que busca demonstrar comportamentos do personagem e, ao mesmo tempo, chamar a atenção para os de quem assiste. No caso deste trabalho, a crítica ficou dividida. Houve quem dissesse que ele não acrescentou nada de especial para a carreira do Allen, mas também tivemos quem afirmasse que ele com toda a certeza agradaria quem conhece e admira o seu estilo.

De qualquer forma, estamos diante de um relacionamento entre pessoas não apenas de idades como de mundos diferentes. São contrastes que se somam, desde a idade e a formação pessoal, passando por alguém que é tipicamente fruto de um grande centro, enquanto a outra pessoa tem horizontes quase suburbanos. Uma demonstração de que é mais do que correta a frase do filósofo francês Blaise Pascal (1623-1662): o coração tem razões que a própria razão desconhece. Indicação feita, espero que você me dê razão por afirmar que vale a pena ficar diante da tela por uma hora e meia. Se trata de diversão leve, com proposta de que se tenha uma visão mais generosa quanto à diversidade maravilhosa dos seres humanos.

10.12.2023

Larry David (Boris) e Evan Rachel Wood (Melodie)

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O bônus de hoje oferece primeiro o trailer legendado do filme em questão e depois uma das músicas que fazem parte de sua trilha sonora: Salty Bubble, de Tom Sharpsteen e His Orlando.