MARINHA COMETE CRIME AMBIENTAL
As Forças Armadas brasileiras são pródigas em histórias que se revelam exemplares, quanto ao modo como não agir. Além de sua capacidade maior, que é de assegurar benefícios crescentes para seus oficiais, elas se mostram um poço sem fundo em termos de custos e gastos. E são campeãs em soluções desaconselhadas, legal e ambientalmente. Uma dessas situações ocorreu em 2023, quando a Marinha decidiu afundar seu porta-aviões São Paulo, na costa de Pernambuco.
Ele fora originalmente integrante da marinha francesa, que o encomendou em 1957 – recebeu em 1963 – e lhe deu o nome de Foch (R99). No ano 2000, com ele já podendo ser considerado obsoleto, foi vendido para o Brasil por exatos US$ 12 milhões. Incorporado à frota da marinha brasileira, o navio se tornou nau-capitânia da armada, tal nossa defasagem técnica. Por aqui se manteve em serviço até 2014, com um detalhe preocupante: nesse tempo todo, se somarmos os dias em que realmente esteve à disposição, estes equivalem a algo em torno de um único ano. Todos os demais 13 foram “gastos” em problemas de ordem operacional. Vivia em manutenção.
Com tantos reparos, acabou sendo desativado. Em 2021 foi vendido para a empresa turca Sök Denizcilik Tic Sti por R$ 10 milhões. O valor, extremamente baixo, levantou uma série de suspeitas – a própria compra a rigor deveria ter sido investigada –, mas isso não deu em nada, com tudo sendo varrido para debaixo do tapete, no Governo Bolsonaro. Os compradores revelaram a intenção de transformá-lo em sucata. As suas dimensões, com 266 metros de comprimento e 51,2 metros de largura, com casco de aço e capacidade de 32.800 toneladas, justificavam isso.
A empresa contratou um rebocador para levar o porta-aviões do Rio de Janeiro para Istambul. A lenta operação levaria um tempo enorme, mas nem chegou ao seu final. Quando chegaram ao Estreito de Gibraltar, entre a Espanha (Europa) e Marrocos (África), 30 dias depois, foram oficialmente informados de que a Turquia não permitiria que atracassem. Agiu assim por pressão de ambientalistas, que denunciavam a existência de inúmeras substâncias tóxicas na embarcação desativada, forçando seu retorno.
De fato, construído em um período no qual os cuidados com o meio ambiente praticamente inexistiam, na sua fabricação fora usado muito amianto, PCBs (*) e inúmeros outros produtos químicos perigosos que não foram citados. A estimativa é de que mais de 900 toneladas deles estivessem no seu interior. O inventário anterior, para determinar sua existência e em que quantidades, abrangeu apenas 12% da área total da embarcação. Outra atitude suspeita, diga-se de passagem, que permitiu ser emitida a guia para exportação.
Para agravar tudo, a sucata flutuante não poderia ser mantida parada, devido ao seu tamanho e ao fato de sequer mais possuir âncora. Assim, tinha que estar ligado a um rebocador 24 horas por dia, em movimento. O custo era absurdo e nenhuma solução era encontrada. A empresa então informou a marinha de que abria mão do porta-aviões e o deixaria à deriva. Os militares tiveram então que assumir o problema que, de certa forma, foram eles que causaram.
Levado para 350 quilômetros mar adentro, foi afundado quase no limite de nossas águas territoriais. A poluição é incalculável. Pior é que peixes podem acabar contaminados e, uma vez pescados, trazer para as nossas mesas os venenos todos. Uma proposta para descontaminar o navio e o transformar futuramente em um museu, não foi considerada pelos militares. Agiram assim não apenas em função dos custos, como para evitar que alguns “esqueletos” fossem localizados nos seus armários.
21.02.2025
(*) PCB é a sigla para bifenilos policlorados, um grupo de substâncias químicas sintéticas de enorme toxicidade e perigo. Estão em grupo que chamam de POPs – Poluentes Orgânicos Persistentes. Eram usados, por exemplo, para refrigerar e lubrificar equipamentos elétricos, além de aditivos em tintas, plastificantes e corantes. Seu efeito é catastrófico para a saúde humana. Podem causar danos no fígado, problemas oculares, alterar funções reprodutivas e causar câncer. Seu uso no Brasil foi proibido em 1981.

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Faça uma doaçãoDoar mensalmenteDoar anualmenteO bônus musical de hoje é o áudio de Purificar o Subaé, de Caetano Veloso, na voz de sua irmã Maria Bethânia. A letra fala da poluição do Rio Subaé, que corta a cidade do Recôncavo Baiano onde ambos nasceram. Se trata de um protesto contra a mineradora que provocou a contaminação do lugar, com toneladas de chumbo e outros metais pesados. Outros rios brasileiros, assim como o mar, enfrentam esse mesmo desrespeito.