NOTAS SOBRE A ENCHENTE (2)

1.    A solução encontrada por Leite – Depois de ter “flexibilizado” a questão ambiental no Rio Grande do Sul, com a supressão ou alteração de 480 itens da sua legislação; de ter retirado recursos da Defesa Civil ao longo dos seus dois mandatos; além de ter sido incompetente ao extremo nas ações contra a enchente, Eduardo Leite (PSDB), o governador do Estado, finalmente tomou uma providência que deu resultados. Determinou que se alterasse os padrões da régua de medição do Guaíba, de tal forma que a cota de inundação agora não é mais de 3m e sim de 3m60cm. Ou seja, bastou apenas um canetaço e a enchente diminuiu em mais de meio metro, mesmo sem alterar um único centímetro dentro das milhares de casas invadidas. Ainda que a motivação tenha sido técnica, a divulgação foi política.

2.    Feriadão em Alvorada – O prefeito do município de Alvorada, que fica na Região Metropolitana de Porto Alegre, José Arno Appolo do Amaral (MDB), decretou feriadão desde a quinta-feira, 30 de maio. Quatro dias nos quais os funcionários públicos municipais não precisarão trabalhar, ao lado de voluntários e das forças federais, atuando nas providências necessárias para que a cidade venha a se recuperar dos efeitos nefastos da enchente.

3.    Transporte gratuito – O Trensurb voltou a operar entre Canoas e Novo Hamburgo. Essa é uma importante medida para desafogar o transporte coletivo, permitindo que mais pessoas que residem ou trabalham entre esses dois municípios comecem a retomar suas atividades normais. Além disso, por decisão do Governo Federal, por tempo indeterminado não será cobrada tarifa alguma dos usuários. Ou seja, o transporte é totalmente gratuito.

4.    O inchaço do DMAE – Desde que assumiu como prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB) vem promovendo a redução no número de servidores de carreira, dentro do DMAE, ao mesmo tempo em que o número de Cargos Comissionados segue em sentido contrário. Na atual gestão, o primeiro grupo encolheu 9% enquanto os CCs cresceram 71%.

5.    O SAJU realiza um ótimo serviço – O Serviço de Assessoria Jurídica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul publicou uma cartilha de 16 páginas onde esclarece dúvidas das pessoas quanto a seus direitos, em função de terem sido afetadas pelas enchentes que assolam o Estado. Abordam temas como os descontos salariais e risco de demissão dos trabalhadores; o modo como se pode obter gratuitamente uma segunda via daqueles documentos que tenham sido perdidos; como obter os benefícios do programa Volta Por Cima, do Governo Federal; detalhes do Auxílio Reconstrução; e como deve agir quem tenha seu imóvel financiado agora danificado ou destruído; entre outros temas de suma importância. Ela pode ser acessada através do seguinte link: https://cartilhasajuenchentes.my.canva.site/.

6.    Impeachment travado na Câmara de Vereadores – Com 25 votos contrários, foi derrubado o primeiro pedido de impeachment contra Sebastião Melo (MDB), na Câmara de Vereadores. Não aceitaram responsabilizar o prefeito os membros do seu próprio partido, além do PL, Novo, Republicanos, PSDB, Podemos, PP, Cidadania e Solidariedade. Mas, contrariamente ao que apregoam seus estatutos, dois do PDT (João Bosco Vaz e Márcio Bins Ely), além de Airton Ferronato (PSB), os acompanharam. Defenderam que o processo deveria ser aberto PT, Psol e PCdoB, com todos os seus integrantes.

7.    Seguem fora de casa mais de 620 mil pessoas – Se alguém ainda tem dificuldade para entender o tamanho da tragédia que se abateu sobre o Rio Grande do Sul, motivada por questão climática e potencializada pela incompetência administrativa do Estado e de algumas prefeituras, foram 2,3 milhões as pessoas afetadas pelos temporais e pela enchente. Hoje, 31 de maio, passado um mês inteiro, ainda 626,7 mil seguem fora de suas casas, acolhidas por familiares, amigos ou em abrigos. E quem está conseguindo agora retornar se depara com perdas imensas de bens materiais e muitas vezes encontra apenas ruínas onde antes vivia.

8.    Muitos casos de leptospirose – O Ministério da Saúde trabalha com a projeção de cerca de 1,6 mil casos de leptospirose no Rio Grande do Sul, em curto prazo, decorrentes da enchente. Isso, uma vez que venha a ser confirmado, é mais de quatro vezes o total de ocorrências de todo o ano passado. Até ontem já se tinha sete mortes, além de outros dez óbitos em investigação. Os casos diagnosticados chegavam a 141, com mais de 600 ainda sendo analisados.

1º.06.2024

Ruas de Porto Alegre estão virando um lixão, à medida em que as águas vão baixando

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O bônus de hoje é a música Sólo Le Pido a Dios (Eu Só Peço a Deus), uma das canções mais conhecidas do cantor e compositor argentino León Gieco. Nesta gravação temos Mercedes Sosa cantando com a brasileira Beth Carvalho.

CONVERSAS PRA BOI DORMIR

Mais uma expressão idiomática exposta aqui no blog, essa que dá título para a crônica de hoje. Adoro grande parte delas. Todas são um conjunto de duas ou mais palavras, no idioma que se domina – existem em todos eles –, se caracterizando por não existir como encontrar seu significado apenas considerando o sentido literal de cada termo. Gente normal não conversa com bovinos, evidentemente. Exceto talvez algum agropecuarista um tanto excêntrico, mas esse provavelmente não se enquadrasse nos critérios de conceituação da normalidade. Enfim, o dito refere uma conversa fiada ou mole, como também uma história que nada possui de verdadeira. Isso tem um forte apelo figurativo e cultural, se enquadrando plenamente no contexto popular. Na imprensa então, considerando-se os últimos tempos, não é nada incomum encontrá-las em enorme profusão, menor apenas do que as que pululam nas redes sociais.

Um exemplo bem recente: o competentíssimo serviço secreto de Israel, o Mossad, garante que não percebeu todo o aparato e movimentação dos integrantes do Hamas, no preparo para os ataques com foguetes no dia 7 de outubro. Isso que o grupo está confinado em uma área menor do que a Zona Leste de São Paulo, toda ela cercada com arame farpado e muros, com torres de vigilância ao redor, sensores de movimento e um enorme número de câmeras, além do apoio de satélites dos Estados Unidos. Então, sem ser notado, o grupo treinou durante pelo menos três meses – avaliam em mais de 600 homens – e preparou tratores e escavadeiras para abrir caminho para a invasão. Na minúscula e vigiada Gaza, nada foi notado. Mas, o mesmo serviço secreto conseguiu saber que dois – eu disse dois – homens estariam preparando um atentado a ser perpetrado aqui no Brasil, contra a comunidade judaica, tratando corretamente de avisar nossa Polícia Federal para providências. Algo bem fácil de se entender e muito provável de acontecer, considerada a “índole terrorista” do povo brasileiro e todo nosso histórico de atentados. E constataram isso de lá mesmo, apesar da prodigiosa distância entre Brasília e Tel Aviv, de quase 11 mil quilômetros. O que pode ser coberto em cerca de 13 horas de voo, se ele for direto. Ou seja, um forte cheiro de indevida justificativa para a retenção criminosa, por tanto tempo, de brasileiros junto à fronteira do Egito.

Outro exemplo, esse totalmente local: o discurso adotado quando da privatização da companhia de energia elétrica de São Paulo foi aquele repetitivo de sempre, de que o serviço seria barateado. Ela atende nada menos do que 7,5 milhões de unidades consumidoras, em 24 municípios da região metropolitana, tendo esse fato se dado em 2018. A providência tomada pela empresa desde então foi reduzir em 36% suas equipes, o que garantiu um aumento de 50% no lucro e piorou em muito quaisquer atendimentos. O resultado é que agora, com ventanias atingindo fios, uma parcela enorme da população ficou sem energia por mais de cinco dias. As perdas e prejuízos foram incalculáveis e o empurra-empurra quanto às responsabilidades, previsíveis. A solução proposta foi cobrar dos consumidores uma “contribuição de melhoria”, para que aqueles que agora exploram o serviço usem os recursos para a colocação de redes subterrâneas. E, se esse tanto não for suficiente, dinheiro público também será alcançado para eles. Ou seja: o lucro foi privatizado, enquanto o eventual prejuízo deve ser socializado. Esta a comprovação de que o argumento inicial para desencadear o processo era conversa mole, mesmo que na época defendida por alguns “jornalistas isentos”. Tivemos boi na linha (outra expressão), sendo que essa não é daquelas de transmissão, com torres e tudo mais.

Lembro que o meu irmão Sérgio brincava comigo, numa época na qual ele já era estudante universitário e eu ainda percorria os anos do antigo Curso Primário – foi apenas em 1971 que a estrutura de ensino do país unificou as etapas primária e ginasial em uma única, denominada de Primeiro Grau. Quando algo absurdo estava sendo falado ele referia como “tertúlias flácidas para acalentar bovinos”. De início apenas a última palavra era do meu conhecimento, mas evidente que entendi depois. A frase sequer era dele, mas foi uma lição importante a mais que ele me deu. Aprender a identificar coisas que nos são entregues em um embrulho, muitas vezes com papel de presente, mas que não valem nada daquilo que aparentam. E quem as aceita, acaba sendo a pessoa sim, embrulhada. Não se precisa nem sair de casa para ver o quanto essa prática está em uso. Ai de quem não consegue ver o que existe na informação, além da sua superfície: tende a ser mais um passivo e inocente ruminante.

10.11.2023

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