A MORTE DE SALGADO FILHO
O primeiro acidente aéreo registrado no Brasil ocorreu em 1º de março de 1915. Com pane mecânica e condições meteorológicas adversas, uma aeronave do Corpo de Aviação do Exército Brasileiro acabou se chocando com uma árvore e matou seu único tripulante. Isso foi em General Carneiro, no Paraná. Ao longo da história, o mais letal de todos foi o voo TAM 3054, em 17 de julho de 2007, que vitimou 199 pessoas. Ele partira de Porto Alegre e não conseguiu parar na pista do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo: ultrapassou seus limites, planou sobre a Av. Washington Luís e colidiu com um prédio da própria companhia aérea e um posto de combustíveis. Ainda citando números, o ano de 2014 foi aquele com o maior número de desastres na última década. Foram 33 acidentes com um total de 137 mortes. Considerando de hoje para dez anos atrás, no Brasil foram 277 ocorrências com 650 vítimas fatais.
A capital gaúcha é servida pelo Aeroporto Internacional Salgado Filho, que foi fundado em 3 de julho de 1940 – ele recebeu o nome de Aeródromo de São João até 1951. Atualmente administrado pela empresa alemã Fraport, teve sutilmente retirado o seu nome oficial da fachada do prédio, isso porque a concessionária prefere chamá-lo pelo nome genérico de Porto Alegre Airport. Ele é um dos mais importantes do país e, quando esteve fechado em decorrência da enchente que atingiu a cidade e boa parte do Estado, em maio do ano passado, foi possível se ter com maior clareza a importância que tem uma ligação aérea. Com os usuários tendo que se deslocar até Caxias do Sul, Passo Fundo ou Florianópolis, além do transporte de cargas ter sofrido um estrangulamento, caiu a ficha sobre a necessidade urgente de existir nas proximidades uma alternativa competitiva.
Agora, provavelmente são raros os passageiros – e mesmo pessoas que não fazem voos – que sabem quem foi Salgado Filho, o homenageado com a denominação atualmente escondida. Tendo os prenomes de Joaquim Pedro, ele era porto-alegrense e nasceu em 2 de julho de 1888. Formado em Direito no Rio de Janeiro, foi magistrado e político ligado ao Partido Trabalhista Brasileiro, o histórico PTB, pelo qual foi senador da República, representando o Rio Grande do Sul. Foi também o primeiro ministro da Aeronáutica em toda nossa história. Esteve a seu encargo desenvolver a aviação civil, a criação da infraestrutura física necessária, dar condições para a indústria nacional do setor, investir em escolas de formação e garantir o braço-armado da Aeronáutica, a Força Aérea Brasileira.
Uma circunstância que envolve grande dose de sorte, seguida de outro tanto de azar, assinala o seu falecimento. No dia 28 de julho de 1950 ele estava na lista de passageiros do voo 099 da Panair do Brasil, que iria decolar da Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, por volta das nove horas da manhã. Problemas técnicos forçaram um atraso de mais de seis horas e a substituição da aeronave. Nesse tempo, ele terminou cedendo seu lugar para um amigo que necessitava vir para o Sul com mais urgência do que ele. Antes de pousar na Base Aérea de Canoas – que na época era chamada Base Aérea de Gravataí – o avião precisou arremeter duas vezes. Após a segunda, chocou-se contra o Morro do Chapéu, próximo de Sapucaia do Sul, matando todas as 50 pessoas que estavam a bordo. Eram em sua maioria gaúchos que voltavam de férias, após terem visto jogos da Copa do Mundo sediada em nosso país. Era um Constellation prefixo PP-PCG, pilotado pelo experiente comandante Eduardo Martins de Oliveira. Havia uma frente fria estacionária, com turbulência e muita chuva nos arredores.
Joaquim Pedro Salgado Filho, que era candidato ao governo gaúcho, chegou em outro voo, que não enfrentou dificuldade alguma. Dois dias depois, em 30 de julho de 1950, ele foi para São Borja, onde teria um encontro com Getúlio Vargas, justamente para tratarem das eleições. Partiu num bimotor Lockheed L-18 Lodestar, de prefixo PP-SAA, de propriedade da SAVAG – Sociedade Anônima Viação Aérea Gaúcha, empresa que existiu até 1966. O piloto se chamava Gustavo Cramer. O avião acabou se chocando com o morro conhecido como Cerro dos Cortelini, em Rincão dos Dornelles, segundo distrito do município de São Francisco de Assis. Todos os seis ocupantes morreram.
O homem que dedicara boa parte de sua vida a assuntos aeronáuticos, a perdeu desta forma trágica. O máximo que conseguiu, ao final dela, foi adiar por 48 horas o seu destino. Com o tanto que devemos a ele, se trata mesmo de uma pena razões de marketing terem apagado seu nome do prédio. Então, que ao menos não o apaguemos da nossa memória.
02.02.2025

Você gosta de política, comportamento, música, esporte, cultura, literatura, cinema e outros temas importantes do momento? Se identifica com os meus textos? Se você acha que há conteúdo inspirador naquilo que escrevo, considere apoiar o que eu faço. Contribua por meio do PIX virtualidades.blog@gmail.com ou fazendo uso do formulário abaixo:
FORMULÁRIO PARA DOAÇÕES
Selecione sua opção, com a periodicidade (acima) e algum dos quatro botões de valores (abaixo). Depois, confirme no botão inferior, que assumirá a cor verde.
Faça uma doação mensal
Faça uma doação anual
Escolha um valor
Ou insira uma quantia personalizada
Agradecemos sua contribuição.
Agradecemos sua contribuição.
Agradecemos sua contribuição.
Faça uma doaçãoDoar mensalmenteDoar anualmenteO bônus de hoje é o áudio da música Medo de Avião, de autoria de Belchior, com o próprio.