A RAINHA NÃO RECONHECIDA

Um guarda-costas que por muitos anos trabalhou protegendo a Rainha do Reino-Unido, Elizabeth II (1926-2022), conta uma história fantástica, que teria acontecido décadas atrás. Ele a estava acompanhando em um passeio dentro das dependências do Palácio de Buckingham, no mesmo dia em que ocorria também a permissão para a circulação de visitantes em seu interior. Então, dois jovens se aproximaram deles e perguntaram se um dos dois – ela ou seu protetor – poderiam tirar uma foto deles, para levarem como recordação, obtendo tal permissão. Os dois rapazes então perguntam de onde era a dupla, que confirmou morar na cidade mesmo. Contaram depois que ambos tinham vindo até Londres com a esperança de encontrar pessoalmente a Rainha.

Enquanto eram atendidos no seu intento pela prestatividade do homem, que bateu a foto de ambos com a mulher, perguntaram a ela se já havia alguma vez estado com a rainha. E esta então respondeu que ela não, mas que ele sim. Pela notoriedade que de modo súbito alcançou, o guarda-costas passou a ser o centro da atenção dos jovens, que lhes fizeram perguntas sobre como ela era. Depois, se afastaram sem a ter reconhecido. E Elizabeth então comentou com ele que gostaria muito de estar presente na hora em que eles descobrissem o que aconteceu. Não se sabe se algum dia os rapazes se deram conta – é provável que sim, pois a foto terminaria sendo prova do fato –, mas isso ilustra com muita perfeição como todos nós estamos sujeitos a passar por situações na vida nas quais não percebemos o que está de fato acontecendo. Ou não entendemos com exatidão quem está ao nosso lado. Serve também para que se pense sobre celebridades e anonimato.

Muitos e muitos anos atrás eu estava em um voo e apenas no momento do desembarque notei que havia algo diferente nele. E isso porque um grande número de jovens se acotovelavam junto aos portões de saída, todos gritando ensandecidos. Os integrantes de uma famosa banda de rock internacional dividiram comigo aquelas últimas horas e, uma vez que nenhum deles agira no percurso como os seus fãs, eu sequer me dera conta disso. Só os identifiquei ao passar ao lado deles, que fizeram questão de manter durante a viagem parte das nada discretas roupas pretas e as pinturas nos rostos, semelhante ao que faziam no palco.

Agora, o mundo atual produz subcelebridades em escala industrial. Não é mais necessário ter sangue azul ou talvez vender milhares de álbuns no mundo todo, para que algumas pessoas sejam notadas. A diferença é que a mesma pressa que as produz, as arquiva. Ainda mais depois do advento das redes sociais e do modismo dos influencers. Acontece algo comigo que tenho certeza também com muita gente: fico sabendo que um “famoso quem” existiu quando a TV noticia sua morte prematura. Assim, sou apresentado no momento da despedida.

Algumas vezes me peguei pensando se gostaria que algo semelhante acontecesse comigo. Não estar no obituário, mas ter milhares de quase amigos, de supostos fãs ou seguidores. Juro que, mesmo sendo ideia em certos momentos tentadoras, acho que preferiria números expressivos na minha conta bancária apenas. O que talvez denuncie estar eu ficando de fato velho, uma vez que o anonimato parece mais saboroso. Desde que vivido com conforto, lógico. Seria tão melhor passear nos museus, catedrais, teatros e até palácios do mundo todo como visitante, sem a necessidade de um guarda-costas, até tirando fotos e, quem sabe, fazendo um papel que pode ser ridículo de não reconhecer moradores ou famosos que estejam nesses locais na mesma hora. Saber depois seria uma espécie de segundo tempo para o deslumbramento e a surpresa.

18.01.2025

Integrantes do Kiss, uma banda de hard rock dos Estados Unidos

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Robbie Williams – The Queen With Lyrics