DOUTOR ARAGUAIA DO OUTRO LADO DO ATLÂNTICO
Mais uma produção brasileira – agora um documentário – começa a ter sua trajetória de reconhecimento internacional. Após o muito merecido e estrondoso sucesso de Ainda Estou Aqui, foi a vez de Doutor Araguaia ser selecionado para um festival de cinema fora do Brasil. Ele está na lista dos disputantes do Festival de Lisboa 2025, segundo informa a publicitária gaúcha Sônia Haas, que é irmã do médico João Carlos Haas Sobrinho, retratado na produção. Ele foi um jovem assassinado pela ditadura militar na região do Bico do Papagaio, nas margens do Rio Araguaia, em 1972. O crime teria se dado no município de Xambioá, hoje integrante do Estado de Tocantins, que existe desde o dia 1º de janeiro de 1989.
João Carlos era gaúcho de São Leopoldo, onde nasceu em 1941. Sendo um idealista como tantos outros na sua época, ele resolveu lutar contra a ditadura. Antes disso já era um membro atuante na política estudantil, tendo sido eleito para a presidência do Centro Acadêmico Sarmento Leite, do Curso de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em 1963. Em abril do ano seguinte, logo após o golpe ter sido perpetrado, foi preso e permaneceu por um mês encarcerado com outros estudantes. A acusação sumária era todos eles serem “esquerdistas”.
Sendo um aluno exemplar, foi necessária uma grande mobilização dos professores e dos estudantes para que ele, reintegrado, pudesse chegar ao final dos seus estudos. Faltava o estágio obrigatório, que cumpriu na Santa Casa de Misericórdia e no Hospital Ernesto Dornelles. Em 1966 ele se mudou para São Paulo, passando a integrar um dos tantos grupos de resistência. Depois, esteve no exterior e só manteve outra vez contato com sua família em 1968, uma vez que passou a viver como clandestino. Morando em Porto Franco, no Maranhão, um município que fica próximo da rodovia Belém-Brasília, montou um pequeno hospital, onde atendia a população carente.
Por um equívoco – ou talvez uma ação proposital –, uma foto sua acabou publicada por órgãos de segurança como tendo sido participante de um assalto, que ocorrera em grande centro, distante daquele seu paradeiro de então. Precisou fugir às pressas, apesar dos protestos dos moradores da localidade, que o tinham em alto apreço. Foi então viver às margens do Araguaia, junto a grupo de guerrilheiros, adotando o codinome Juca. Sua função seguia a mesma: prestar serviços de saúde.
Segundo o Relatório Arroyo, um dos pouquíssimos documentos que relatam a ação da resistência armada no Araguaia, João Carlos foi morto com uma rajada de tiros disparados por militares. A documentação militar acerca do assunto o coloca na condição de “desaparecido ou morto”. E o seu corpo jamais foi entregue à família – a exemplo, como se viu em Ainda Estou Aqui, do que houve com o ex-deputado Rubens Paiva.
A direção do documentário é de Edson Cabral, tendo ele sido gravado em seis Estados – Rio Grande do Sul, Tocantins, São Paulo, Pará, Bahia e Maranhão – além do Distrito Federal. A pesquisa, bem como o roteiro e o argumento, são os três da autoria de Sônia. E ele foi construído a partir de pelo menos 50 entrevistas. Sua duração é de 90 minutos. E ele foi concluído justo no ano no qual completavam seis décadas do início dos anos de chumbo, um pesadelo que não ficou apenas no passado, uma vez que segue rondando o país.
16.03.2025

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Faça uma doaçãoDoar mensalmenteDoar anualmenteO bônus de hoje é o áudio de O Amanhã é Distante, de Zé Ramalho. A música integrou trilha sonora da telenovela Araguaia, produzida pela Globo e exibida entre 27 de setembro de 2010 e 8 de abril de 2022, com um total de 166 capítulos.