POR QUE DÓI TANTO A DOR DE AMOR?

Quem jamais sofreu por amor em algum momento de sua vida, que atire a primeira pedra. Se for em mim, espero que erre o arremesso. Agora, eu duvido que exista alguém em condições reais de fazer a tentativa, uma vez que essa situação é praticamente universal. Seja em casos de algo platônico, quando quem protagoniza geralmente está recém entrando na adolescência, seja em traumáticos fins de relacionamento entre pessoas bastante maduras, esse sofrimento costuma se dizer presente.

A discussão primeira, uma vez constatado que o fenômeno é real e praticamente universal, reside em se estabelecer a natureza dessa dor.  Porque ela não tem origem física, mesmo que em casos mais intensos até se pode ter a impressão que sim. Ou, nessas mesmas situações, ela pode mesmo ter consequências orgânicas. Se perde sono, se perde ou ganha peso, a melancolia passa a residir dentro da gente e não raras vezes se destila líquido demais pelos cantos dos olhos.

Mas, a questão maior talvez seja de ordem cultural. Ou seria apenas algo do campo da psicologia? A sociedade nos ensinou que é normal aquele amor romântico, idealizado, onde cada um se torna objeto pertencente ao outro. Onde cada vida só se justifica a partir do encontro, como sendo o ser antes independente agora um complemento da vida do outro. Assim, a não correspondência ou a ruptura dessa relação seria como perder-se a si mesmo(a). E quando essa decisão é unilateral – como ocorre na maioria das vezes –, é como uma traição, mesmo ela não tendo de fato acontecido.

Todo(a) apaixonado(a) vive um paradoxo constante. Ao mesmo tempo em que tem a impressão de estar pleno, capaz de ver e sentir tudo, na realidade sua atenção está em um foco fechado, no qual a pessoa por quem está nutrindo o sentimento é presença única. E esse é um fator preponderante. O deixar de ver à volta cega, desorienta. Quem só tem um foco, ao perdê-lo se dispersa, alheia-se.

Tem a dor do amor não correspondido, que é especialista em atacar corações desprevenidos. Tem a dos amores impossíveis, ao melhor estilo Romeu e Julieta. E aquela quando um dos apaixonados está preso em outro relacionamento, daqueles difíceis de serem resolvidos sem grandes perdas.

Entretanto, precisamos entender que a vida nos aponta para modos de preparo e enfrentamento do que é inevitável. Há recursos disponíveis. Emocionalmente, se precisa aceitar os próprios sentimentos, cuidar de si mesmo(a), buscar apoio – isso pode ser fundamental – e dar tempo ao tempo. Dicas práticas seriam manter a mente e o corpo ocupados; cuidar da alimentação, do sono e fazer exercícios; além de buscar algo novo. E não falo de um novo relacionamento, porque uma eventual troca açodada tem tudo para se tornar um novo problema, em breve.

Novo seria testar-se em algum hobby diferente, viajar para lugares nos quais antes sequer imaginava – ou, ao contrário, desejava muito –, é ler mais, ir ao cinema, ao teatro, fazer e receber visitas. Essas últimas dicas tão logo sejam possíveis, não pretendendo ter condições de logo nos primeiros dias realizar. Por fim, recursos espirituais podem ser o golpe derradeiro na superação do problema. Esses se alcançam praticando a gratidão perante a vida e até em relação à pessoa de quem se separou. O perdoar-se a si e ao outro ou outra, o conectar-se com a natureza e o buscar inspirações. Até porque, mesmo que se duvide nos primeiros momentos pós-traumáticos, por mais insuportável que pareça ser essa dor, garanto que é transitória. E que a vida realmente continua.

12.01.2025

P.S.: Um adendo necessário: as dicas são aplicações racionais e, desta forma, nem sempre passíveis de colocar em prática com facilidade por quem esteja fragilizado(a). Isso pode demandar esforços para os quais as pessoas não estejam preparadas num primeiro momento. E, em casos mais extremos, até mesmo ajuda profissional não pode ser descartada.

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O bônus de hoje começa com Chiara Civello, cantando Io che non vivo senza te (Eu que não vivo sem você), com participação de Gilberto Gil. Depois temos Maná, com Vivir Sin Aire (Viver Sem Ar), em gravação ao vivo. E, mais abaixo, um texto da poeta dominicana Martha Rivera Garrido. Nele ela descreve o risco de nos apaixonarmos por uma mulher que tenha determinadas características. Mas, isso pode valer para a hipótese de ser paixão por um homem, sem problema algum. Basta imaginar o texto alterando o substantivo comum.

“Não te apaixones por uma mulher que lê, por uma mulher que tem sentimentos, por uma mulher que escreve. Não te apaixones por uma mulher culta, maga, delirante, louca. Não te apaixones por uma mulher que pensa, que sabe o que sabe e também sabe voar, uma mulher confiante em si mesma.

Não te apaixones por uma mulher que ri ou chora quando faz amor, que sabe transformar a carne em espírito; e muito menos te apaixones por uma mulher que ama poesia (estas são as mais perigosas), ou que fica meia hora contemplando uma pintura e não é capaz de viver sem música.

Não te apaixones por uma mulher que está interessada em política, que é rebelde e sente um enorme horror pelas injustiças. Não te apaixones por uma mulher que não gosta de assistir televisão. Nem por uma mulher que é bonita, mas que não se importa com as características de seu rosto e de seu corpo.

Não te apaixones por uma mulher intensa, brincalhona, lúcida e irreverente. Não queiras te apaixonar por uma mulher assim. Porque quando te apaixonares por uma mulher como esta, se ela vai ficar contigo ou não, se ela te ama ou não, de uma mulher assim, jamais conseguirás ficar livre…”

Martha Rivera Garrido – poeta dominicana