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JURO QUE EU NÃO ENTENDI

Em primeiro lugar, quero deixar claro uma coisa: eu amo Nova Prata. Esta cidade serrana me acolheu quando recém formado, me dando muito mais do que uma oportunidade de emprego na minha área, o jornalismo. Nela fiz inúmeras amizades, muitas das quais perduram até hoje. Casei, tive dois filhos maravilhosos e, quando precisei seguir para outros locais, levei muita saudade comigo.

Trabalhei na recuperação e melhoria da Rádio Prata AM, quando dirigida por Arlindo Paludo, João Carlos Schmidt e Geraldo Agustini. Fiz parte dos trabalhos que resultaram na criação da Coroados FM. Estive no jornal Folha da Serra e fundei o Correio Livre. Me tornei torcedor fanático da Galera – campeã gaúcha invicta no futsal – e do Grêmio Pratense. Fui também fundador do antigo Automóvel Clube. Participei de eventos e realizações memoráveis, como os congressos Florestais Estaduais e o Brasileiro de Poesia. E paro por aqui nessa digressão, porque precisaria apelar para apontamentos, não sendo possível confiar só na memória.

Nova Prata sempre se caracterizou pelo povo acolhedor. Nela se tinha abraços sinceros, sorrisos contagiantes, gente trabalhadora e afetiva, uma gastronomia de tirar do sério essa atual geração, mais “fitness”. E você poderia ter até adversários – torcedores de outros times, adeptos de outros partidos políticos –, jamais inimigos. No Café Gaúcho, em tempos idos, se ganhava todos os campeonatos e todas as eleições. Ao menos nos argumentos apresentados isso acontecia, mesmo que depois a realidade fosse outra.

Eu sou da Nova Prata dos doutores Asdrúbal e Odoli, do Paradinha, da livraria do Melci nos recebendo com chimarrão amigo nas manhãs de todos os domingos, quando ainda se buscava uma Zero Hora robusta. Nova Prata do folclórico Giacomin, das notáveis figuras humanas de Dorvalino Zamin, Edson Ferreira, Altir Ferro e Gilberto Spiller. O local onde o visionário Vicêncio Paludo iniciou a construção de um verdadeiro império industrial, a Vipal que se expandiu além fronteiras.

Profissionalmente, cobri inúmeras sessões da Câmara de Vereadores; projetos e realizações do Executivo. E muitas eleições, quando era no Salão Paroquial a apuração dos votos depositados também nos vários municípios do entorno. Em função disso, até hoje ainda acompanho muito do que acontece na cidade e na região, mesmo que à distância. O que me levou a saber, por exemplo, que dias atrás foi votada e aprovada uma moção de apoio ao Governo dos EUA devido às sanções impostas ao Brasil e, especialmente, a um ministro do nosso Supremo Tribunal Federal. Algo meio desproposital e distante das funções primordiais que devem desempenhar os edis, todas elas voltadas ao bem-estar de cada cidadão. Coisas como apresentar projetos de lei que contemplem alguma necessidade comunitária e fiscalizar o que é feito pela Administração.

A coisa foi tão estranha que um partido que tem três representantes na Casa Legislativa, o Republicanos, teve um vereador que foi proponente e obviamente votou a favor, Douglas Minozzo; outro que se absteve na votação, Eraldo da Silva; e deu o único voto contrário, com Sebastião Mamed, o Paraíba. Assinou também a proposição Felipe Paese (PL). E com ela concordaram ainda Márcio Moraes (PSDB), Lindon Bolsoni (PP), Jandir Hasse (PSD) e Clécio Zamin (União). Lavaram as mãos mais dois do MDB: Gilmar Peruzzo e Marcelo Barato. Quanto ao presidente Vinício Reinelli (PSD), esse só vota quando há empate, o que não foi o caso. Sintetizando, seis votos favoráveis, três abstenções e um contrário.

Não posso acreditar que nenhum dos vereadores pratenses – ou apenas um deles – saiba que o tarifaço de Donald Trump cria dificuldades econômicas para nosso país e nossa gente. E que a tentativa de se imiscuir em decisões de um poder que é autônomo, o Judiciário, com chantagens, fere a soberania do Brasil. Caso não queiram ver a questão macro, esses vereadores ao menos deveriam se debruçar sobre consequências locais. Existe uma indústria moveleira de Nova Prata – aliás, a mais antiga entre todas as do município ainda em atividade, pelo que me consta – que está sendo obrigada a dar férias coletivas para cerca de 400 funcionários. Isso em razão de sua produção ser voltada para vendas naquele país. Pode, se não houver mudança na situação, fechar as portas. Será que nessas quatro centenas de famílias não existem eleitores de nenhum dos que votaram a favor da moção? Se não querem respeitar nossa bandeira, nossa história, a dignidade nacional, não deveriam ao menos pensar nos conterrâneos?

Eu tenho muitas saudades de Nova Prata. Mas, tenho saudades ainda maiores de um tempo no qual a divergência política não inviabilizava a convivência. Quando ideologia não cegava. Com tanto certamente a ser discutido em prol dos cidadãos locais, há quem se preocupe em marcar presença – mesmo que inócua – num esforço de blindagem de alguém que cometeu inúmeros crimes e que agora, com a garantia de ampla defesa e contraditório, não deixará de modo algum de ser julgado. Do exterior, há quem esteja pretendendo colocar o Brasil de joelhos. Mas é inadmissível que internamente haja concordância com isso. Se torna muito suspeita essa nova definição de patriota.

14.08.2025

Prédio da Câmara de Vereadores de Nova Prata

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