Isso só poderia mesmo ter acontecido em uma cidade de Santa Catarina. O vizinho Estado tem se especializado em bizarrices, em especial depois de ter assumido mais explicitamente o seu conservadorismo, na política e nos costumes. Pois dias atrás um condomínio de São José, na Grande Florianópolis, baixou determinação proibindo que os seus moradores tenham relações sexuais, depois das 22 horas. O síndico e demais administradores teriam tomado essa providência depois de receberem reclamações formais de algumas pessoas. Essas se diziam perturbadas por barulhos durante a madrugada, que incluíam conversas em tom mais alto e, especialmente, gemidos.

A primeira conclusão à qual se pode chegar, examinando circunstâncias, é que talvez as paredes dos prédios sejam finas demais. Ou os ouvidos de muitos estejam especialmente sensíveis. A verdade é que a decisão foi aprovada em uma assembleia geral extraordinária, na qual também foram previstas punições para a desobediência da nova norma. Primeiro seria gerada uma notificação por escrito, mas a reincidência poderia até resultar em multas, que iniciariam em R$ 237,00. Não ficou claro se a repetição do ato sexual na mesma noite já seria reincidência, ou se ela só seria considerada se em duas oportunidades distintas separadas por um mínimo de 24 horas.

Quanto ao valor da “punição pecuniária”, me dei ao trabalho de pesquisar qual seria o preço médio dos motéis naquela cidade. Isso para ver se uma necessidade premente poderia ser atendida fora do domicílio dos envolvidos, por um custo menor. Descobri que para períodos curtos, de até duas horas, há ofertas entre R$ 98,00 e R$ 204,00, com cada uma adicional sendo cobrada entre R$ 14,00 e R$ 42,00. Não me detive a examinar a qualidade dos locais, que obviamente deve ser variada. Até porque achei uma suíte premium por R$ 750,00. O que, obviamente, aponta para qualidade até superior aos aposentos do tal condomínio. Só que ter esse gasto adicional iria impactar muito no orçamento familiar, ou reduzir drasticamente os momentos de intimidade.

Mas, confesso a vocês, eu adoraria ter participado da assembleia onde tal assunto foi debatido. Isso porque, se soube depois, houve quem levasse gravações de áudio para comprovar a euforia dos seus vizinhos – que seria muito curioso acompanhar. Assim, entre as providências tomadas, também cogitaram a instalação de sensores de ruídos nos corredores e até campanhas educativas para lembrar a importância do silêncio. O que não fiquei sabendo é se ainda pretendem criar uma milícia que faria ronda, portando talvez algum objeto como os estetoscópios médicos, com olivas auriculares, hastes e peça auscultatória, para aprofundar a localização de infratores, ouvindo através das paredes.

Nas redes sociais, a situação virou polêmica. Não faltaram reprimidos e repressores, aprovando a medida. Assim como sobraram críticas para o absurdo da situação. Um internauta perguntou o que deveriam fazer os casais com filhos: manter relações com eles ainda acordados ou de uma vez por todas abandonar o hábito? Uma mulher foi mais objetiva ao dizer que só poderia mesmo ser inveja da vida e da felicidade dos outros. Mas, o que certamente ainda poderá causar muito aborrecimento ao síndico é que a medida parece não ter validade legal alguma. Até porque não cabe entre suas atribuições proibir atividades íntimas dentro de unidades privativas. Assim, um ato que comece na cama ainda poderá acabar nos tribunais.

08.09.2025

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O bônus de hoje é o áudio de Amor e Sexo, música de Rita Lee.