O COPO DE PITÁGORAS
Muitos e muitos anos atrás, no milênio passado, para ser mais exato, eu assisti uma palestra proferida na Sociedade Beneficente Espírita Bezerra de Menezes, em Porto Alegre, pelo senhor Oleno de Oliveira – que há anos já desencarnou. E um detalhe do que ele relatou eu jamais esqueci. Isso porque discordava em parte do que estava sendo posto, o que de modo algum desmerecia o enorme conhecimento que ele tinha, quanto à doutrina espírita.
Contando como seria a vida após a morte, em alguns locais que podem ser explicados como colônias, ele disse que a disciplina tratava de coisas como evitar desperdícios. E deu como exemplo existirem copos com marcas até onde o líquido deveria ser posto, o suficiente longe da borda para jamais derramar. Aquilo me pareceu um enorme absurdo, pouco importando ser realmente assim ou não. Que espécie de evolução seria essa que, sem um alerta permanente, limites não seriam observados? E, cá entre nós, o quanto seria um problema exagerar na dosagem de um líquido qualquer? Extrapolando um pouco, seria como se fosse preciso sempre a presença da polícia para não se cometer crimes. Ou seja, você não os está praticando por entender ser correta a lei e necessária a ordem, mas apenas porque não tem a liberdade necessária para fazer o que gostaria. No meu modo de entender as coisas – e não mudei desde então –, o mundo espiritual deve ter assuntos muito mais importantes com os quais se preocupar.
Pois recentemente tomei conhecimento de um experimento desenvolvido por Pitágoras de Samos, um filósofo e matemático grego jônico que viveu por volta de 500 anos antes da Era Cristã. Se tratava de um recipiente onde se deveria servir vinho – não creio que fosse essa a bebida servida na colônia aquela existente na espiritualidade – que ele adaptou para um outro propósito. Como o pensador era um grande conhecedor também da hidrodinâmica, tal vasilha passou a determinar limites que, uma vez ultrapassados, trariam consequências. Só que físicas e não morais.
Antes dele ser explicado, vamos ressaltar que Pitágoras alterou muito a nossa visão sobre princípios básicos da ciência. Foi ele, por exemplo, que desenvolveu o teorema sobre triângulos retângulos (a2 + b2 = c2). Não há estudante que não tenha se preocupado, em algum momento de sua vida, com a expressão exposta acima: “o quadrado do comprimento da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos comprimentos dos seus outros lados, os catetos”. Nesse nosso texto de hoje, no entanto, ganha maior importância citar que ele foi fundador de uma escola filosófica que estudava formas de purificação da alma. Os pitagóricos acreditavam piamente na reencarnação e que viver a vida material seria uma etapa necessária para se alcançar o aperfeiçoamento da alma. Exatamente como nós, que somos espíritas.
Pois bem, voltando ao “Copo de Pitágoras”, ele parecia ser mágico. Isso porque apenas até um determinado nível se podia colocar líquido. Sendo ele ultrapassado, o conteúdo era derramado na sua totalidade, esvaziando o copo. Mas, como isso poderia acontecer? O texto de hoje está ilustrado com figuras que explicam isso, mas vamos colocar também em palavras. É que ele tinha um sifão escondido no seu interior. Quem não está familiarizado com isso, saiba que se trata de um bom e velho amigo dos trabalhadores do sistema hidráulico em Engenharia Civil. Ele é aplicado no escoamento da água de pias, lavatórios e tanques, para as redes de esgoto. Assim, evita vazamentos e a propagação de odores dos encanamentos. Ainda cumpre o papel de prevenir a proliferação de insetos e o retorno não desejado de gases nocivos, garantindo higiene e saúde.
Dentro do “Copo de Pitágoras”, que pode ser reproduzido com facilidade em salas de aula, por exemplo, há um tubo que se estende do seu fundo até a borda e depois desce novamente até a base. Ao ultrapassar o limite da curva do sifão, o líquido que esteja no seu interior é expelido pela força da gravidade e pressão atmosférica. Ele permite o entendimento de uma série de conceitos (gravidade, pressão e fluxo de fluídos). Quando se aplica o Princípio de Bernoulli fica também possível ser determinada a velocidade do escoamento.
Fique claro que isso é ciência. Não tem nenhuma relação ao controle que se precisa e deve ter com os nossos impulsos e ações, sejam algo mais complexo ou simples, quase pueril, como a que foi citada na palestra referida. Aquela atitude, de não desperdiçar recursos, se trata apenas de respeito e cuidado, como se precisa ter com a natureza, a saúde, as relações interpessoais. Coisas que devem ser incorporadas ao nosso cotidiano e conduta, sem que uma régua, um traço, fique gritando que não se deve ultrapassar. Ou nosso esforço evolutivo inexiste.
04.01.2025

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Faça uma doaçãoDoar mensalmenteDoar anualmenteO bônus de hoje é a música Ainda Bem, com Marisa Monte. Ela integra a trilha sonora da novela Amor Eterno Amor (2012), uma das quatro que a Rede Globo levou ao ar com temática espírita. As outras três foram A Viagem (1994), O Profeta (2006) e Escrito nas Estrelas (2010).