UMA HISTÓRIA EXTRAORDINÁRIA
Isso eu fiquei sabendo graças à postagem feita por Rogério Rangel do Rosário, pratense que é morador de Protásio Alves, no seu Facebook. Era o recorte de uma entrevista dada pelo jornalista, poeta e cronista Fabrício Carpinejar. Nela ele conta um fato realmente extraordinário, que teria se passado com o seu avô, em tempos idos.
Pois o homem tinha um hotel em Guaporé, onde paravam os ônibus que faziam o trajeto entre Porto Alegre, o Norte e o Noroeste do Rio Grande do Sul. O restaurante do local era conhecido pela comida farta, o que é uma característica da imensa maioria dos estabelecimentos das regiões de colonização italiana. Em um determinado sábado, três deles pararam e os seus passageiros desceram. Todos menos um jovem que ficou no seu lugar, com a cabeça encostada na janela. O seu Carpi estranhou o fato e foi saber a razão. Passional como seus antepassados, ficou pensando se ele não gostava do lugar ou se já havia almoçado, o que seria bastante improvável.
Ao tirar satisfações recebeu como resposta que todo o dinheiro que tinha havia sido gasto na passagem. Não havia como pagar pela refeição. O rapaz estudava no Centro Técnico Agrícola de Viamão e estava indo ver a família, em Carazinho. Então, o avô de Fabrício o pegou pelo braço e disse que ninguém passava fome em Guaporé. Não apenas o levou para dentro como o colocou na cabeceira de uma daquelas mesas longas. O prato servido foi generoso: arroz, feijão, bifes na chapa, massa e aquele ovo de gema mole. Tudo foi comido e ele repetiu, sem a falsa declaração de estar satisfeito.
O lado poeta de Fabrício se acentua na narrativa quando ele vai citando o estado de espírito do jovem viajante. Ao contar sobre o que aconteceu no primeiro prato, disse que ele, que era aparentemente tímido, já falava. Isso porque “você só fala quando é acolhido”. E no segundo, já estava rindo. Porque “você só ri quando tem intimidade”. O ponto alto do que ele conta fica para o final, quando revela em quem se tornou aquele que recebeu a tão oportuna refeição.
Era Leonel de Moura Brizola, um dos maiores políticos da nossa história. Ele, que foi entre outros cargos governador de dois Estados brasileiros, o Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro. Nessas oportunidades, uma das principais realizações suas foi estabelecer refeições e tempo integral nas escolas. Isso de certa forma confirma o que diz Fabrício, ao finalizar: em geral a pessoa se preocupa e faz aquilo que já faltou em sua vida. O que talvez valha para Lula e sua obsessão com esforços para retirar o Brasil do “Mapa da Fome”, o que já fez duas vezes.
Voltando a Brizola, quando esteve à frente do Executivo gaúcho, entre 1959 e 1961, multiplicou as escolas existentes. Como governador, ele repetiu o que havia feito em seu mandato como prefeito de Porto Alegre. Criou redes de ensino primário e médio, atingindo municípios distantes dos maiores centros urbanos, alcançando inclusive a zona da pampa, onde é baixa a densidade populacional. Criou 5.902 escolas primárias, 278 escolas técnicas e 131 ginásios, colégios e escolas normais. Foram 6.302 novos estabelecimentos, no total, com a abertura de 688.209 novas matrículas e a contratação de 42.153 professores.
Ele também promoveu a distribuição de terras com o Instituto Gaúcho de Reforma Agrária, o que lhe custou o ódio de latifundiários. Isso além de ter cumprido papel central durante a Campanha da Legalidade, defendendo o presidente João Goulart na tentativa de golpe de 1961. Foi Brizola que implantou a Aços Finos Piratini, a Refinaria Alberto Pasqualini e fundou a Caixa Econômica Estadual. No seu período no governo, conseguiu que o fornecimento de eletricidade fosse triplicado, acabando com as quedas e racionamentos frequentes. Também criou diversos distritos industriais e lançou programa de incentivo ao trigo.
Quando governou o Rio de Janeiro – foram duas as oportunidades nas quais isso aconteceu – ele tornou realidade os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs), que foram projetados por ninguém menos do que Oscar Niemeyer. E só não se tornou presidente da República em função do grande esforço midiático que, liderado pela Globo de Roberto Marinho, seu desafeto, conseguiu retirá-lo do segundo turno das eleições de 1989, ficando em terceiro.
18.08.2025

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Faça uma doaçãoDoar mensalmenteDoar anualmenteO bônus de hoje é o clipe de uma campanha contra evasão escolar, que foi veiculada na Globo. Participam Carlinhos Brown e Lexa, cantando a música Não Desista do Seu Futuro.