Uma iniciativa bastante curiosa foi recentemente deflagrada buscando chamar a atenção sobre as consequências do mais recente e duradouro conflito entre judeus e palestinos. Seu objetivo não é discutir qual dos lados tem razão, nesse imbróglio de tanto tempo, mas ajudar no esforço de dar um basta na perda de vidas. Ou seja, não trata das causas deste problema e tenta apenas estancar toda essa sequência sangrenta que se estende desde o dia 7 de outubro de 2023. Depois de inúmeros pedidos para que se gritasse contra a continuidade dos ataques à Gaza, o que estão propondo agora é o contrário: que se faça silêncio. Se bem que ambas as providências podem e devem coexistir.

Mas, que silêncio seria esse? A proposta é que as pessoas não utilizem seus celulares e computadores, todas as noites, entre 21 horas e 21h30. Ou seja, mantê-los desligados durante esses breves 30 minutos. Apenas isso, um silêncio digital e muito curto. Isso será suficiente, segundo os organizadores do movimento, para que se perceba uma inconformidade. E são três os impactos distintos ocasionados. O primeiro deles direto nos algoritmos, que vão ser prontamente afetados. A queda, sendo repentina e sincronizada, vai disparar o alarme de estar ocorrendo alguma anomalia. Em tempos de um mundo hiperconectado, o silêncio se torna ato visível e mensurável. Este contraste entre o ruído normal e sua total ausência irá mostrar ao mundo organização e resistência. O que proporciona um outro impacto, o segundo, absolutamente simbólico. O terceiro será o alerta dado aos líderes mundiais, uma vez que essa onda progressiva pode se alastrar por outros motivos, inclusive em temas políticos que os afetem diretamente. Um impacto social, portanto.

Repetindo, o conceito é baseado em redes pausadas. Um tempo sem as mensagens, as ligações, os vídeos, curtidas e comentários. Como todos nós hoje somos dependentes e praticamente viciados em olhar para os celulares, eles precisam ser desligados. Quem quiser participar disso, que deixe um alerta sonoro para dois ou três minutos antes. E resista, não dê nem mais aquela última olhadinha. Faça o mesmo com seu computador ou tablet. Aproveite o tempo de outra forma, com as demais pessoas ou para simples reflexão. Leitura, quem sabe. Lembre-se que se trata de um protesto digital global, mas que sua participação é relevante. Há nisso uma grande chance de pertencimento, de identificação.

O termo silêncio eloquente também existe no Direito. Nesse caso, trata-se de um conceito jurídico que é utilizado principalmente em interpretações constitucionais e infraconstitucionais, onde a ausência de uma norma específica sobre um tema pode ser vista como uma proibição ou uma limitação. Isso é muito importante porque permite que os tribunais interpretem a lei de uma forma mais ampla, levando em conta as intenções do legislador, mesmo quando não expressas de uma forma direta. Aqui, entretanto, ele foi aplicado apenas como uma figura, uma forma de demonstrar que nada dizer, desde que de forma planeada e intencional, pode ser tão ouvido quanto quaisquer gritos de protesto.

Concluindo, como se trata de uma ferramenta que não custa nada para ninguém e pode, mesmo assim, surtir algum efeito humanitário prático, convém que se participe do movimento. Façamos isso e quem sabe ainda não iremos verificar que existe vida fora das telas. Além de talvez ajudar a poupar algumas delas, lá em Gaza.

13.05.2025

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O bônus de hoje é o clipe legendado de Sound of Silence (O Som do Silêncio), grande sucesso de Simon & Garfunkel.