TOCA RAUL!
Quem gosta de música e costuma ir a shows, já deve ter tido ao menos uma oportunidade de ouvir o grito “Toca Raul!” disparado por alguém da plateia, em algum momento. Essa virou uma expressão integrante do imaginário popular, estando presente Brasil afora e até algumas vezes além das nossas fronteiras, sem que exista necessariamente alguma ligação com quem porventura esteja no palco. Agora, o mais incrível é que deixou de ser usada como um simples pedido para que o artista toque mesmo algo de Raul Seixas: virou algo mais complexo, uma reverência, uma homenagem, um reconhecimento. Tanto isso é verdade que acontece em eventos como peças de teatro, espetáculos de dança, casas noturnas, barzinhos e mesmo em festas particulares.
Raul Seixas (1945-1989) é um dos pilares da música brasileira. Virou um ícone, uma celebração, infelizmente muito mais depois de morto. Em vida, com toda a certeza não havia alcançado o nível de admiração que merecia, do público em geral. Muito menos da mídia. Para muitos ele era meio que maldito, no mínimo um excêntrico, alguém de talento duvidoso. Nada que o tempo não corrigisse, lógico. Hoje o seu legado artístico é imenso, com impacto cultural difícil de ser de todo avaliado. Mas, como saber a razão e o momento em que o grito em questão passou a ocorrer?
Mesmo sendo muito provável que tal iniciativa tenha tido mais de uma origem, com elas sendo distintas e simultâneas, a que deve ter sido a mais eficaz entre todas foi a apontada por Jotabê Medeiros, no seu livro “Raul Seixas: não diga que a canção está perdida”, lançado em 2019 pela editora Todavia. Segundo ele, o responsável foi o paulista Isaac Soares de Souza, admirador de Raulzito que fundou o fã-clube Novo Aeon. No ano de 1975 ele teria liderado uma espécie de sublevação coletiva na cidade de Bariri, onde residia. Bastante inconformados com o que acreditavam ser um “negligenciamento” do sistema com o seu ídolo, ele e amigos estabeleceram um mirabolante plano “maluco-belezista”. Se organizaram de tal forma que sempre ao menos um deles estivesse presente em shows de artistas, fossem eles populares, sertanejos ou de quaisquer outros gêneros. E, da plateia, o agente infiltrado tascava o “Toca Raul!”. Até em clubes de música e em circos que passavam pela cidade e arredores, eles agiam.
Uma das mais emblemáticas e surpreendentes oportunidades nas quais isso aconteceu foi em show de Paul McCartney, durante o festival Hard Rock Calling, no mítico Hyde Park, no centro de Londres, ainda em 2010. Ele começava a tocar os primeiros acordes da canção Here Today – fora lançada em 1982 –, em homenagem a John Lennon, quando um gaiato fez o pedido, gritando do meio da plateia. É provável que ele nem tenha ouvido e, por óbvio, não atendeu.
Por aqui, um dos tantos que passaram por isso – de ter apresentações suas surpreendidas pelo grito –, o cantor e compositor Zeca Baleiro, foi mais esperto e inteligente. Ao invés de se sentir incomodado, como no início alguns se sentiam, tratou de compor uma música chamada “Toca Raul!”. Então, quando gritavam isso ele a incluía imediatamente no seu show. Tico Santa Cruz, do grupo Detonautas, brinca dizendo que essa é uma maldição deixada pelo baiano Raul Seixas (1945-1989). Mas, afirma ser isso bem feito, pois ele teria morrido sozinho e ignorado. Além disso, acrescentou em entrevista, difícil é ocorrer um único show onde não se ouça o pedido/saudação, que em nada o incomoda.
Dito isso, vou fazer de conta que estou ouvindo o “Toca Raul!” e farei isso mesmo, no bônus com o qual sempre encerro os textos no blog.
06.09.2024

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Faça uma doaçãoDoar mensalmenteDoar anualmenteO bônus de hoje é duplo. Começamos com Raul Seixas e a sua música Maluco Beleza. Depois um clipe com Zeca Baleiro cantando ao vivo aquela que compôs justamente em função dos gritos que nos seus shows eram ouvidos.