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SOBRE A SINCRONICIDADE

Você olha para o seu relógio, agora digital como a maioria deles, e está no visor um horário composto por números iguais: 19h19 ou 21h21, por exemplo. Este é um exemplo banal de sincronicidade, distante de outros tantos que se pode citar. Este termo é aplicado mais para ocorrências entre eventos externos e um sentimento da pessoa, ou entre algum desejo e pensamento seu. O conceito foi criado por Jung e, com toda a certeza, não sou a pessoa mais apropriada para tentar explicar este fenômeno com a profundidade devida. Abordo o tema porque andaram acontecendo comigo, recentemente, situações que apontam para isso.

Enfim, a sincronicidade proposta como eu disse antes por Carl Gustav Jung (1875-1981), o psiquiatra e psicoterapeuta suíço que fundou a chamada psicologia analítica, apontava para acontecimentos que se relacionam não por relação causal – um ocorrer devido ao outro –, mas por relação de significado. São eventos que coincidem e que, para a pessoa que os vivencia, têm algum significado. Mesmo que fujam da lógica de tempo e espaço. Como eles de algum modo sugerem padrão, se cria essa questão subjacente, uma sincronia.

Vamos tentar exemplos mais próximos da nossa realidade cotidiana. Você pensa em ler sobre determinado tema e se depara com um livro a respeito do assunto, na primeira vitrine de livraria que encontra, mesmo sendo ele bastante raro. Lembra de alguma pessoa que não vê há anos e recebe uma ligação dela instantes depois. Pensa em fazer uma viagem e chega nas suas mãos panfleto de empresa de turismo, na qual está o mesmo destino imaginado sendo oferecido.

Na teoria junguiana a sincronicidade é uma coincidência de determinado estado psíquico com um acontecimento exterior. Algo que pode inclusive transformar a vida de alguma forma. Não se pode deixar de citar que ele tentava compreender isso inclusive se debruçando sobre temas ainda mais sutis, como a clarividência e até mesmo a astrologia. E existem as pessoas que interpretam tais fatos muitas vezes como sendo frutos de alguma intervenção não física, mas espiritual ou divina.

Há anos venho tentando sem sucesso ter uma intuição dessas para, por exemplo, acertar os números corretos de uma loteria qualquer. Quando sonho com alguns e não os anoto logo ao acordar, permitindo que eles desapareçam com o despertar completo, me sinto como se tivesse uma oportunidade a mais perdida. Se bem que neste caso a sincronicidade teria que acontecer entre meu período de sono denominado REM (Rapid Eye Movement), que é quando ocorrem os sonhos mais vívidos, e todas as esferas que caíssem dos globos usados em sorteio feito pela Caixa Econômica Federal, sabe-se lá em que ponto do país. Algo muito menos provável, pela complexidade das relações simultâneas. Então, sigo com o mesmo saldo na conta bancária.

Voltando aos estudos de Jung, ele sugeria que eventos sincrônicos muitas vezes ocorrem em momentos-chave do desenvolvimento pessoal, agindo como “guias simbólicos em direção à integração e compreensão mais profunda do eu”. Ou seja, no contexto do processo de individuação, a sincronicidade desempenharia um papel crucial. Ele pode tocar e até comover a pessoa, sensibilizando e incitando a reconhecer o significado da situação. Poderia também auxiliar na solução de problemas, com o oferecimento de respostas. Ou no mínimo tornando a vida muito mais interessante e cheia de profundidade.

Enfim, sendo tudo isso real ou não, nada custa estar atento e aberto para “receber” as cenas e perceber relações entre elas. Ou seja, é primordial “manter-se os olhos abertos” para que nenhum símbolo nos escape. No mínimo que se tenha em mente a frase de Hamlet: “há mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar nossa vã filosofia”. Shakespeare, com ela, apontava que a racionalidade e o pensamento abstrato são, ambos, essenciais para nós. E que, mesmo assim, estes dois fatores não são capazes de explicar tudo o que ocorre no mundo. 

24.03.2025

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O bônus de hoje é um vídeo da música experimental Sincronicidade, com apresentação dos Embatucadores, um grupo que surgiu em escola da Brasilândia, na periferia paulistana, e toca usando instrumentos feitos de sucata.