HABEMUS PAPAM

Robert Francis Prevost, um cardeal estadunidense de 69 anos, nascido em Chicago, foi escolhido para ser o sucessor de Francisco, como novo Papa. Isso ocorreu no quarto escrutínio do conclave, quando os 133 cardeais considerados aptos a votar (sete deles brasileiros), reunidos na Capela Sistina do Palácio Apostólico, chegaram a um consenso. Ele assume o comando da Igreja Católica e de seus 1,4 bilhão de fiéis em todo o mundo. Este número é considerado oficial, segundo dados constantes no Annuarium Statisticum Ecclesiae 2023 e o Annuario Pontificio 2025. Adota, por escolha própria, o nome de Leão XIV.

Agostiniano, sua escolha aponta para a continuidade do estilo adotado por seu antecessor, mesmo havendo pequenas diferenças desta linha católica com a franciscana(*). A expectativa é de um pontificado missionário, voltado ao povo, sensível e acolhedor. No que, aliás, difere de boa parte dos seus colegas cardeais no país de origem, mais conservadores. Assim como Francisco foi o primeiro latino-americano a se tornar Papa, nunca antes se tinha tido um norte-americano eleito. E também pela primeira vez a escolha recaiu sobre um pontífice vindo de um país de maioria protestante.

Na sua trajetória, Prevost construiu a vida religiosa principalmente no Peru. Foi onde se destacou ao ponto de alcançar depois cargos muito mais altos na Cúria Romana. No momento era o prefeito do Dicastério para os Bispos – justo o órgão responsável pela nomeação de bispos em todo o mundo. E também presidia a Comissão Pontifícia para a América Latina. Considerado um profundo conhecedor da Lei Canônica, tem uma sólida formação em teologia. Visto como um reformista, ele deve dar seguimento à linha de abertura que vem sendo implementada.

Prevost entrou para a vida religiosa quando tinha 22 anos. Formou-se aos 27, pela União Teológica Católica de Chicago. Foi então enviado a Roma para estudar direito canônico na Universidade de São Tomás de Aquino. Ordenado padre em 1982, apenas dois anos depois iniciou a atuação missionária no Peru, passando por Piura e Trujillo. Estava nessa segunda localidade durante o período do governo autoritário de Alberto Fujimori, de quem chegou a exigir desculpas públicas pelas injustiças cometidas. Em 2014 se tornou administrador da Diocese de Chiclayo, cargo onde estava ao ser nomeado bispo. E em 2023 tornou-se cardeal. Este tempo de apenas dois anos no cardinalato antes de ser eleito Papa é algo raro na história da igreja.

COMO SE DEU A ESCOLHA – Passadas as cerimônias fúnebres, os nove dias de luto oficial – logo após o sepultamento inicia o novendiales – com toda aquela sequência de missas, os preparativos necessários na estrutura, as reuniões dos cardeais em uma série de congregações prévias, teve início o conclave. Existem hoje 252 cardeais em todo o mundo, sendo eles normalmente também bispos. Deste total, 135 estavam em condições de votar, uma vez que há restrições de idade, precisando ser inferior a 80 anos. Mas, no atual conclave, dois deles foram impedidos por motivos de saúde. Merece destaque que o colégio eleitoral representava 70 países, o maior número de todos os tempos.

A maneira como o público externo acompanha, apesar de sem detalhes e apenas sabendo se a questão foi ou não resolvida, é através de um sinal de fumaça. Coisa assim que lembra e muito os povos nativos da América do Norte, que bem antes dos brancos criarem o Código Morse faziam isso de um “modo etéreo”. A diferença é que a fumaça feita pelos índios era aquela raiz, com madeira queimando e um pano sobre ela, sendo sacudido e deixando passar ou não as quantidades desejadas. A do Vaticano é sofisticada, contendo componentes químicos.

Todos sabemos que, após cada votação do cardinalato, se a escolha ainda não se deu é expelida uma fumaça preta. Caso a eleição tenha sido um sucesso, a fumaça será branca – e a Praça de São Pedro logo se encherá de fiéis católicos, da imprensa e de curiosos, aguardando a primeira aparição do novo Papa, em uma sacada previamente decorada com cortinas pesadas e vermelhas, na porta de acesso. Agora, como são queimadas sempre as cédulas de papel preenchidas pelos votantes, de que modo controlam a cor da fumaça que sai pela chaminé aquela, que foi especialmente instalada?

Pois bem, a explicação é meramente química. Para que a fumaça saia preta adicionam perclorato de potássio, antraceno, um hidrocarboneto (esse sim para determinar a cor) e enxofre. Confesso que não entendo a razão da presença do antraceno, que é um composto formado por três anéis de benzeno fundidos e é encontrado no alcatrão de hulha. Afinal, se trata de algo aromático e não me parece que alguém fique por perto o suficiente para sentir cheiro. Outra coisa que deve ser complicado para que possa a assessoria de imprensa explicar é o uso de enxofre, algo que ao longo da história foi associado à alquimia, uma prima nem tão distante assim da bruxaria, do esotérico, de tudo o que é oculto. E, no paganismo, é símbolo de culpa e punição, razão pela qual é utilizado na purificação dos culpados. Mas, deixemos isso quieto.

Para que a fumaça saia branca, como ocorreu hoje, com pelo menos dois terços dos cardeais registrando votos semelhantes, mudam primeiro o sal que é adicionado, passando a ser o clorato de potássio – tanto quanto ocorre com o perclorato, no fundo apenas auxiliam na queima. Acrescentam a colofônia, que é a resina de uma conífera, uma árvore que produz frutos em forma de cone, como os pinheiros (essa sim para determinar a cor), e lactose. Isso resulta em uma fumaça não apenas branca como um pouco mais espessa.

No atual conclave, a primeira fumaça preta veio na quarta-feira mesmo, mas com duas horas de atraso em relação ao que estava previsto. A segunda foi na manhã de hoje, outra vez demorando bem mais do que ocorrera nos dois últimos conclaves, em 2005 e 2013. O motivo pode estar em pelo menos dois fatores: os cardeais votantes são em maior número e 80% deles nunca haviam participado do ritual, sendo a inexperiência motivo de demora nos procedimentos.

Entretanto, o suspense não seguiu por muito mais tempo. Exatamente às 13h08 pelo horário de Brasília, 18h08 no Vaticano, veio a fumaça com o toque dos sinos da Capela Sistina. E a praça foi invadida por milhares de pessoas, que aguardaram pouco mais de uma hora para ver Leão XIV na sacada e ouvir suas primeiras palavras. No breve discurso, exaltou a necessidade da busca pela paz. Conclamou todos a seguirem juntos, sem medos, no trabalho de construir pontes e diálogos. E reafirmou que os braços precisam estar abertos para todos que precisam.

08.05.2025

(*) Os agostinianos têm um caráter mais missionário e educativo. Mas, consideram essencial a busca pela verdade e o serviço ao próximo. Já os franciscanos são conhecidos por sua vida dedicada à pobreza, simplicidade e amor ao próximo, com foco na evangelização e serviços para os mais necessitados. Ou seja, parcialmente distintas, as duas ordens se aproximam na última destas observações.

Robert Francis Prevost, o Papa Leão XIV

08.05.2025

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O bônus de hoje é uma breve canção de despedida: Adiós al Papa Francisco.