A MÃO QUE AFAGA É A MESMA QUE APEDREJA
Ousado, talentoso, original e sombrio, Augusto dos Anjos foi um poeta brasileiro que não pode ser encaixado com precisão em nenhuma escola literária. Felizmente, porque isso contribuiu para torná-lo único e inalcançável. O que ele não alcançou – o que se pode compreender a razão – foi reconhecimento ainda em sua breve vida. Mereceria, com certeza. Entretanto, os seus contemporâneos não estavam preparados para compreender tudo o que ele expressava, com a sua percepção peculiar do mundo e da natureza humana. E muito menos para reconhecer o que havia além da crueza, da morbidez e da angústia existencial, também uma profunda sensibilidade.
Seu único livro foi publicado em 1912, graças à ajuda financeira dada por seu irmão. E não teve qualquer aceitação do público e da crítica: aquele por incompreensão, esta pelo apego que tinha ao lirismo comedido, ao parnasianismo. Os exemplares de “Eu” encalharam nos pontos de venda. Uma situação bem distinta das verificadas em edições posteriores à morte do poeta. Na terceira, que teve adicionada à coletânea mais alguns escritos seus antes inéditos, vendeu três mil em apenas 15 dias e 5.500 livros em apenas dois meses, isso em 1928. Algo notável para a época. Hoje em dia já são mais de 40 as edições, com ele sendo ainda um dos mais lidos do nosso país.
O nome completo deste nosso poeta era Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos, tendo ele nascido no Engenho Pau D’Arco, que integrava a Vila do Espírito Santo, atualmente município de Sapé, na Paraíba. Isso no ano de 1884, sendo ele filho de um bacharel em Direito. Sua família viveu fase de decadência gradual, ao longo da sua infância, mas ele estudou tanto em casa quanto no Liceu Paraibano, onde concluiu o ensino secundário. Depois disso foi para a Faculdade de Direito de Recife – nunca chegou a exercer a profissão, após formado –, período no qual começou a publicar alguns poemas em um jornal. Estes versos chamaram atenção, mas não de forma positiva: leitores o identificavam como histérico e desequilibrado. No seu Estado natal ganhou o apelido de “Doutor Tristeza”.
Na capital paraibana passou a lecionar Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. Casou e teve três filhos, com o primeiro falecendo logo após o nascimento. Em meados de 1914 mudou-se para Leopoldina, em Minas Gerais, para assumir o cargo de diretor de um grupo escolar. Mas cinco meses depois, uma pneumonia dupla foi responsável por abreviar sua vida, quando tinha apenas 30 anos. Talvez pelo filho que se fora, pela falta de recursos e de reconhecimento, ou mesmo devido ao fato de ser sua percepção especialmente aguçada, tinha ele em si essa escuridão. Via a existência humana como em curto espaço de tempo entre sermos consciência e um cadáver a alimentar vermes.
Augusto dos Anjos escreveu uma poesia violenta, angustiada, visceral e dolorida, misturando termos filosóficos e biológicos. Mostrava com ela a vida como um efeito pendular entre o sofrimento e o tédio, considerando que sermos de fato felizes era uma impossibilidade absoluta. Mesmo tendo influências do Simbolismo e do Naturalismo, jamais poderia ser enquadrado como pertenceu a qualquer uma destas escolas. Foi, enfim, um Pré Modernista. Tudo o que ele disse foi dito de maneira dura, cheia de excessos e hipérboles, em métrica rígida.
Olavo Bilac, que ao contrário de Augusto dos Anjos conhecera a fama ainda em vida, estava errado e foi no mínimo grosseiro ao se referir a ele, de quem tomou conhecimento apenas depois da sua morte. Ouviu um dos seus poemas sendo declamado e declarou, definitivo: “Fez bem em morrer; não se perde grande coisa”. Se pudesse ver o futuro, se daria conta de que demonstrou naquele momento pouco conhecimento e muita arrogância.
08.08.2023

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Faça uma doaçãoDoar mensalmenteDoar anualmenteO bônus de hoje nos oferece o ator Othon Bastos declamando Versos Íntimos, celebrado poema de Augusto dos Anjos.