CORAJOSO POR SEIS DIAS

Estive relendo a pedagógica história do instrutor de tiro Tiago Rossi, que tinha na época 28 anos e morava em Maringá, no norte do Paraná. Negacionista e apoiador ferrenho do ex-presidente Jair Bolsonaro, em 8 de março de 2022 ele embarcou para a Ucrânia como voluntário para atuar como sniper, nome que se dá a atirador de elite que se especializa em abater inimigos com tiros de precisão disparados à distância. Seis dias depois viralizou um vídeo seu com explicações e o mostrando em fuga para a Polônia, na tentativa de retornar para o Brasil.

O acampamento de mercenários onde ele ficara por aquele tempo tão breve foi, segundo ele, totalmente destruído por um caça da Força Aérea Russa, só tendo sobrevivido uns poucos que, como ele, correram para uma área de floresta nas proximidades. Em menos de uma semana ele descobriu que dar tiro em estande é algo diferente de estar num campo de batalha. Até porque aqueles alvos contra os quais ele disparava nos treinos não respondiam com tiros no sentido contrário, não revidavam nunca. Depois de tudo arrasado, teria chegado um aviso russo de que os soldados ucranianos seriam tratados com respeito, ao contrário de estrangeiros que estivessem agindo como terroristas na região. Assim, se foi a última gota de sua suposta coragem. E ele, como se diz aqui no Sul, “deitou o cabelo”, escafedeu-se.

Interessante é comparar as suas afirmações no embarque e quando em fuga. Na ida ele diz: “eu vi o que a Ucrânia está passando. Apenas vou dar o meu melhor e usar tudo o que sei para defendê-los”. No vídeo, que foi gravado ao que tudo indica dentro de um trem, quando fugia daquele país, uma dose cavalar de realidade: “eu não imaginava o que era uma guerra. Acabou, acabou!” Precisamos lembrar que em quase todas as manifestações fascistas aqui no Brasil se vê, além da indefectível camisa amarela, várias bandeiras dos EUA, de Israel e muitas vezes também da Ucrânia. Isso já acontecia antes dos conflitos envolvendo a Rússia e o Hamas. A propósito, não se soube se Rossi voltou a se voluntariar para qualquer coisa. Entretanto, se pode dar como certo que não lutaria para defender Gaza.

Guerras não são bonitas nem no cinema. Se o filme for bom e realista o suficiente, já assusta, angustia. Todas são uma espécie de comprovação da falência da humanidade, de total desprezo pela vida. Valores éticos costumam parar debaixo dos tapetes. Atos de bravura são extremamente raros, ao contrário do que mostram as telas. O que prevalece é a morte, mutilações, muita dor e traumas permanentes. A destruição de boa parte da infraestrutura precariza as condições de vida dos sobreviventes. Falta comida, água, remédios e sobra saudade daqueles que deram sua vida inutilmente. Maridos e filhos, namorados e amigos não voltam para casa.

Estima-se que estejam ocorrendo no mundo, nos dias de hoje, cerca de 50 diferentes conflitos armados, alguns deles em larga escala, em termos de contingentes mobilizados, destruição e mortes. Como os exemplos da Rússia contra a Ucrânia e de Israel sobre Gaza. Outros casos são as guerras civis, como no Iêmen, na Síria e em Mianmar. São 38 os países envolvidos nesses absurdos – fora aqueles que dão o tapa e escondem a mão, ao melhor estilo de alguns membros da OTAN. Líderes seguem promovendo guerras e provocando mortes em nome de Deus, pouco importando a forma como o chamem; por causa de territórios; por razões étnicas; pelo que insistem em chamar de honra; nacionalidade; e por vários outros pretextos. Atrás de muitos deles está o petróleo, como já estiveram muito mais o ouro e os diamantes. E a culpa, essa é sempre dos outros. Nas narrativas, todos têm razão. Mas, a razão em si, no sentido de racionalidade, essa se perde em todos os conflitos.

14.09.2024 

Bandeiras da Ucrânia (esq) e da Rússia (dir)

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O bônus de hoje é o áudio da música Era um garoto que, como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones, com a banda gaúcha Engenheiros do Hawaii.