O INÍCIO DA CIVILIZAÇÃO
A antropóloga estadunidense Margaret Mead (1901-1978) foi profissional conhecidíssima, que ganhou fama merecida graças aos seus estudos sobre cultura, personalidade, gênero e infância. Uma das características suas mais destacadas era a capacidade de comunicação muito eficaz, o que permitia colocar com clareza suas ideias. Usava a mídia com total propriedade e desafiava noções pré-concebidas sobre desenvolvimento humano. Isso contribuiu para tornar a antropologia mais acessível para o público em geral. E vários dos seus trabalhos influenciaram o debate sobre os papéis masculino e feminino na sociedade, bem como também a chamada “revolução sexual”, ocorrida na década de 1960.
Na vida profissional ela foi curadora no Museu Americano de História Natural e professora adjunta na Universidade de Columbia, entre outras atividades e cargos que ocupou. Na instituição de ensino, em determinada ocasião, uma das suas alunas perguntou o que ela considerava como o primeiro sinal de civilização reconhecido. E não recebeu como resposta aquelas que são sempre dadas: o uso de pedras de amolar, a fabricação de utensílios como potes e anzóis. Margaret respondeu que foi terem encontrado a evidência de uma pessoa com fêmur quebrado e recuperado, quando de escavações feitas. Essa seria a principal evidência do início do processo civilizatório.
Para explicar sua posição aos presentes na sala de aula, ela lembrou que no restante do reino animal, o exemplar que quebra uma perna está condenado à morte. Isso porque não consegue mais fugir do perigo que os predadores representam, não pode mais caçar ou coletar alimentos para se manter vivo e nem mesmo ir beber água em alguma fonte. Ou seja, nenhum animal consegue sobreviver o tempo necessário para que o osso cicatrize.
Encontrar um fêmur quebrado que cicatrizou serve de prova inconteste de que alguém cuidou da pessoa acidentada. Houve quem ficasse ao seu lado, tratando do ferimento e oferecendo segurança e alimentação até que houvesse a recuperação. E, segundo a antropóloga, ajudar os outros na superação de dificuldades é o ponto de partida daquilo que chamamos de civilização. Assim, civilizado seria o ser humano que de fato consegue viver em sociedade, no amplo significado que isso possa ter.
Tudo o que veio depois, com a complexidade das relações e dos modos de vida, partiu dessa premissa básica, no entender de Margaret Mead. Não teríamos chegado à organização que criou as cidades com sua arquitetura, estrutura política, divisão do trabalho e estabelecimento de leis. Não teríamos invenções básicas como a escrita e tudo mais que nos levou de sociedades tribais, caçadoras-coletoras, até o mundo que hoje chega ao que é virtual e à inteligência artificial.
Evidente que a arqueóloga, que era adolescente quando da Primeira Guerra Mundial, que era adulta quando ocorreu a Segunda, foi embora sem ter visto a humanidade superar a necessidade inclusive econômica de tantos conflitos. Presenciou aquelas duas e certamente várias outras oportunidades coletivas – temos também milhões delas, individuais –, nas quais ocorreu o convívio deste cuidado primário com a total falta de amor e de empatia. O que seria uma evidente ausência de civilidade, nos levando a entender mortes violentas e desnecessárias como algo natural. Ou pelo menos aceitável. Isso não anula sua observação oportuna e certeira, que resultou numa tese suficientemente sustentável. E que foi muito além daquela resposta dada em sala de aula.
25.10.2025

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