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PIMENTA NOS NOSSOS OLHOS

Não resta a menor dúvida de que o PT e outros partidos alinhados com a esquerda têm desempenho muito melhor, em termos de comunicação, durante as campanhas eleitorais do que nos períodos de governo. Isso está acontecendo outra vez agora. Esta é uma questão que deveria ganhar atenção especial de seus dirigentes, para que mais tarde a lamentação não ocorra. Hoje grita aos olhos que nas redes sociais a extrema-direita nada de braçada, sem que tenha contra si algo minimamente eficiente. Ela doutrina sem contraponto ou com um que pode ser considerado pífio, o que reflete fortemente em termos de avaliação pública do governo e nas expectativas futuras, em termos políticos.

Na sexta-feira, 9 de junho, foi publicado o resultado de uma pesquisa de opinião pública realizada pelo IPEC, na qual buscavam avaliar qual era a percepção do público com relação ao desempenho do atual governo nos seus cinco primeiros meses. Nela foi afirmado que as opiniões “bom” e “ótimo” caíram e atingiram 37% somadas. Essa foi a terceira rodada e, em relação à primeira, houve queda de quatro pontos percentuais (era 41% antes). Enquanto isso, a soma das opiniões “ruim” e “péssimo” foi de 24% para 28%, subindo quatro pontos percentuais. Posto isso, há uma irrefutável questão matemática, mostrando que a piora foi de exatos 8%. Se a distância entre esses dois blocos antes era de 17% (41 a 24), agora é de apenas 9% (37 a 28). Ou seja, derreteu para pouco mais do que a metade do que atingira anteriormente. Uma outra questão, sobre a confiança no presidente, que tinha diferença de 10% favorável a Lula (53 a 43) agora é de apenas 4% (50 a 46).

Isso, convenhamos, é preocupante. Talvez apenas não seja para o atual ministro-chefe da Secretaria da Comunicação Social, Paulo Pimenta. Ele comemorou, por exemplo, que 41% entre os eleitores de Bolsonaro no ano passado agora estão vendo Lula com bons olhos. Mas, espere um pouco: se entre os bolsonaristas ele melhorou, então caiu entre seus apoiadores tradicionais? Ou a queda ocorreu entre aqueles que se consideram mais “neutros”? Outra coisa que não dá para entender é como o decréscimo aconteceu justo em um período no qual a imprensa jogou para o público um bom número de pautas positivas em relação às realizações do governo. Por exemplo: deu aumento acima da inflação para o salário mínimo, o que não ocorria desde 2016; reajustou os salários dos servidores em 9%, depois de sete anos com a categoria tendo aumento zero; retomou programas sociais como o Minha Casa, Minha Vida, a Farmácia Popular e o Mais Médicos; derrubou o preço dos combustíveis todos, com ênfase para o diesel e o gás de cozinha; travou a inflação, trazendo de mais de 12% para menos de 4%; aumentou a faixa de isenção na tabela do Imposto de Renda, algo que não ocorria desde 2015, o que tirou cerca de 14 milhões da obrigatoriedade de pagar; e nossa economia teve o quarto melhor crescimento em todo o mundo, com o PIB crescendo o dobro do que o mercado esperava, o que acabou favorecendo a ampliação do emprego formal. No mesmo período, o desmatamento da Amazônia caiu 31%; as bolsas de estudo foram ampliadas em número e nos valores (de 25 até 200%); o governo retomou o Programa de Aquisição de Alimentos; aumentou em 39% os recursos destinados para a merenda escolar; e liberou valores expressivos para combate aos efeitos da chuva em São Paulo e da estiagem no Rio Grande do Sul, entre dezenas de outras decisões visando melhorar a vida das pessoas.

Por que cargas d’água com todas essas notícias positivas muitos brasileiros não estão enxergando melhoras? Obviamente porque a comunicação desses feitos é péssima. Isso não se destaca em meio a notícias ruins, sejam essas verdadeiras ou não. Ficam escondidas ou são informadas de modo incorreto, não considerando as peculiaridades de cada público. Acontece que durante a campanha existia um esforço coletivo, com trabalho ancorado em avaliações rigorosas e ações de bons profissionais contratados. Gente do ramo, que trabalhava em conjunto e com um propósito único, que foi alcançado. Não é o que aconteceu logo depois da vitória. A partir disso, a carnificina interna começou. Sempre começa. A opinião técnica perde espaço para a divisão do poder, dos recursos, para a conquista de atenção do chefe. Surgem vários pais – por que não se pode dizer mães? – para toda e qualquer ideia com a mínima chance de ser bem sucedida. E nenhum erro ou fracasso é sequer admitido, muito menos assumido. São como os dois burros amarrados um ao outro, tentando comer o feno de dois montes mais distantes do que o tamanho da corda que os prende.

Os gritos de alerta não são ouvidos. E as soluções coletivas deixam de ser buscadas. O Gabinete do Ódio saiu de dentro do Palácio do Planalto sem ter sido desativado. E um “Gabinete do Amor” – terrível esse nome, de comédia romântica ou filme pornô – não foi criado para substituir o anterior em espaço e ação. Onde estão os “soldados” que deveriam estar a postos, atentos, cuidando das redes sociais e nelas agindo? Que esforço foi feito para ao menos fornecer apoio mínimo para a continuidade dos sistemas comunicacionais alternativos que existem? O governo e sua comunicação estão embretados entre uma mídia tradicional que não tem interesse algum em lhes abrir espaço, de um lado, com a falta de domínio do mundo virtual, de outro. Imaginemos o que aconteceria se as notícias fossem ruins, uma vez que mesmo com as boas o efeito é insuficiente.

Em texto de terceiros que Pimenta encaminhou para seus contatos do WhatsApp está que o presidente “Lula mantém popularidade entre seus eleitores, avança sobre o bolsonarismo e ganha confiança do mundo”. O terceiro item é provavelmente o único que pode ser confirmado. Mas o mundo não vota aqui: apenas os brasileiros. E não se tem informação alguma que, mesmo intimamente e entre seus pares, o ministro esteja preocupado em fazer uma análise dos resultados da pesquisa, sem que o simples desejo ou o viés ideológico se sobreponham à racionalidade.

15.06.2023

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O bônus de hoje é um clipe da música Toda Forma de Poder, dos Engenheiros do Hawaii. A letra, composta por Humberto Gessinger, faz crítica aos governos e foi lançada em 1986, apenas cinco anos depois do término da ditadura militar, como uma das faixas do álbum Longe Demais das Capitais.