FRASES QUE SÓ BRASILEIROS ENTENDEM

Se tornou comum, nos últimos tempos, que estrangeiros que se mudam para o Brasil criem páginas em redes sociais, nas quais contam as suas surpresas, agruras e deslumbramentos com o nosso país. Alguns têm até a coragem de apontar defeitos que temos, como povo e nação, o que é muito bom. Outros são mais generosos e preferem discorrer sobre as diferenças entre as culturas, destacando características muito nossas. Pois agora me deparei com uma espécie de provocação que estes fazem entre si, com muito bom humor, tentando destacar frases que para nós são muito comuns e compreensíveis, não sendo nada fáceis quando necessitam interpretar, compreender e explicar para outras pessoas de seus países de origem. Enfim, algo que só os brasileiros inicialmente entendem, que apenas por aqui fazem algum sentido. Essa iniciativa depois passou a ser seguida também por nativos aqui da “Terra Brasilis” e em alguns casos é bem divertida.

São coisas que os fazem, num primeiro momento, colocar em dúvida até nossa percepção dos sentidos físicos. “Escuta só para você ver” ou “não vi nem o cheiro” confundem audição, visão e olfato, além de cabeças que ouvem as frases. E tem o “vê o áudio que te mandei”. Noções espaciais também são perdidas, quando é dito algo como “fiquei trancado pelo lado de fora” ou “me inclua fora disso”. Os comerciantes não ajudam em nada quando afirmam que “o movimento está meio parado hoje” ou a muito tradicional – para que clientes voltem outra vez – “tem, mas acabou”. Até a passagem do tempo se altera quando se fala, solenemente, “agora só amanhã”. Isso sem contar com o óbvio mais do que ululante, que nem deveria ser dito: “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. Além de uma outra no mesmo nível, que é “estou com fome de comida”.

Depois, existe uma questão que envolve identidade: “não conheço, mas sei quem é”. E o confuso uso de advérbios de intensidade, quando se diz que “tem muita pouca gente”. Em algumas regiões do Brasil há questões que envolvem um estranho sono, como “a porta dormiu aberta” ou “a luz dormiu acesa”. E em termos de expressões regionais existem algumas que nem nós mesmos entendemos. Essa semana mesmo, diante de uma situação surpreendente, eu disse na frente de um amigo paulista “me caíram os butiás do bolso” e ele não entendeu. Precisei explicar. Então tivemos que ir além e incluir na conversa interjeições como o “bah” e o “tchê”, com suas prováveis origens, além dos significados.

No Nordeste dizem coisas como “rebole no mato” (jogue fora), “para de andar correndo” (te acalme, vá devagar) e “tá bonito de chover” (o clima está favorável). Na região Norte tem “égua de largada” (muita sorte), “levou o farelo” (morreu) e “esse é de rocha” (pessoa confiável). Quanto ao Sudeste conheço poucas, mas lembro agora de “mó cota” (tempo muito longo), para servir de exemplo. Do Centro-Oeste, “se arruinou” (piorou de saúde) e “tá chovendo duro” (chover torrencialmente). E olhem que escolhi apenas algumas poucas de cada área, apesar de existirem centenas delas. Ou seja, não é nada fácil adquirir nem vocabulário nem entendimento que contemple a imensidão que é o Brasil.  

Voltando ao tema inicial, as frases que mais confundem do que explicam, temos “vou esperar o sol esfriar”, se referindo à chegada do entardecer. O “nem aqui nem na China”, enunciando a provável inexistência de algo que está sendo procurado ou desejado. “Acabou de começar”, quando ouvido, deveria levar algum tempo para “cair a ficha” (entender). Aliás, essa última vem de uma época na qual se falava de “orelhões”, telefones públicos alimentados com fichas. “Segue reto toda a vida” deveria ser assustador, uma vez que o destino ao que tudo indica “fica longe pacas”. Como a China, citada antes. No ramo animal e com ênfase bovino temos “nem que a vaca tussa” (de modo algum) e “agora a vaca foi para o brejo” (a situação está perdida). 

Há quem diga que “está um frio dos infernos”, mesmo se imaginando que este local é demasiado quente. E quando uma conversa faz o relato de outras anteriores, dizem “então eu peguei e falei assim”, mesmo nada tendo sido apanhado com as mãos. Ou, para dizer que não continuará contando, “eu não falo é nada”, apesar de o interlocutor saber que o outro não é mudo não. Enfim, vou parar por aqui, “tá ligado?” Até porque, se eu continuar, vou acabar me convencendo que, como em tese quem vem do exterior, eu também conheço quase nada da maravilhosa língua portuguesa.

26.07.2025

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