OS FAVORITOS PARA NOVO PAPA

Depois de termos o primeiro Papa latino-americano da história, que não se duvide de ter chegado a hora de um africano ou asiático. Se alguém quiser fazer apostas com boas chances de acerto, coloque essas duas alternativas como opções mais do que viáveis. E um brasileiro também está entre as possíveis escolhas, apesar de com probabilidade muito menor. Se me permitem uma opinião, eu diria que um cardeal nascido em Gana, em 11 de outubro de 1948, talvez seja o favorito dentro do conclave que está por iniciar.

Falo de Peter Turkson, que desfruta atualmente de um prestígio enorme dentro das estruturas da Igreja Católica. Sacerdote desde 1975, ele foi nomeado cardeal pelo Papa João Paulo II, em 2003. Na sua trajetória, ocupou cargos entre os mais importantes, centrando seus serviços em áreas como justiça social, desenvolvimento humano integral e assuntos ligados ao meio ambiente. Ou seja, em temas sensíveis ao Papa recém falecido e que deixou, no “colégio eleitoral” pessoas que comungam com suas ideias. Além disso, o fato de ser também do Terceiro Mundo e a possibilidade de pela primeira vez um negro ser eleito, inegavelmente precisa ser considerado como interessante pela estrutura do catolicismo, que enfrenta dificuldades no mundo todo. Um dos fatores para a crise está no avanço do fanatismo pentecostal, em especial na América Latina e na África, que não cessa de “roubar” fiéis das hostes católicas.

A grande questão interna é que desta feita os progressistas não têm um nome de consenso, como ocorreu quando da escolha de Francisco. E isso pode contribuir para ampliar a chance de vitória de algum nome entre os conservadores. Mesmo assim, felizmente esta alternativa mais sombria ainda é pouco viável. Na última segunda-feira – 21 de abril de 2025 –, data do falecimento do argentino Jorge Mario Bergoglio, havia um total de 252 cardeais, sendo que 135 deles eleitores, por terem menos do que 80 anos. E entre estes que podem votar, assim como também votados, 108 foram nomeados por Francisco, 22 por Bento XVI e cinco por João Paulo II. Ou seja, caso o último Papa tenha sido cuidadoso como se está supondo, se torna difícil que a Igreja retorne ao conservadorismo mais do que retrógrado, de outras épocas.

O segundo nome que pode ser considerado como sucessor é do cardeal Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha, na Itália. Este é conhecido por ter uma postura conciliadora e já estivera entre os favoritos quando o eleito foi Francisco. Ainda tem chances Pietro Parolin, outro italiano, que é o atual secretário de Estado do Vaticano e tem carreira diplomática muito destacada. Aliás, em algumas “bets” europeias ele aparece como o mais destacado – sim, essa febre de apostar é praticamente universal –, com cerca de um terço das indicações. E um quarto nome de potencial muito grande é Luis Antonio Tagle, das Filipinas. Ou seja, um asiático como coloquei no parágrafo de abertura. Este último compartilha intimamente quase todas as visões de mundo de Francisco.

Do lado conservador da força, temos dois nomes em destaque. São eles Willem Eijk, dos Países Baixos – tenho uma enorme resistência em dar este nome, pois para mim segue sendo Holanda –, e Raymond Leo Burke, um estadunidense que é patrono da Ordem Soberana e Militar de Jerusalém, Rodes e Malta. Esta teve origem nas Cruzadas, aquelas expedições que adoravam matar muçulmanos, e em tradições militares. O primeiro sempre se posicionou contra as reformas promovidas pelo Papa Francisco; o segundo se manifesta fortemente contra qualquer abertura doutrinária, como as acontecidas nos últimos anos.

Encerradas as cerimônias fúnebres de Francisco, programadas para este sábado, será possível marcar o início do conclave. A palavra vem do latim “cum clave”, que significa “sob chave”. Ou seja, se trata de um rito que se caracteriza por sigilo absoluto e solenidade. A Santa Sé fica sob a responsabilidade do camerlengo, nome dado ao funcionário da câmara apostólica, cargo que é ocupado por Kevin Farrell, um irlandês que também é o prefeito atual do Dicastério para Leigos, a Família e a Vida (*). Foi dele o dever de convocar todos os cardeais para virem até Roma, bem como ainda organizar a sucessão em todos os seus detalhes, tanto na Capela Sistina quanto no espaço de recolhimento dos eleitores.

Todo e qualquer cardeal é instituído neste posto em cerimônias que são chamadas de “consistórios”. Nelas, os indicados pelo Papa que está no poder recebem um anel e uma bureta – aquela espécie de chapéu ou boné de cor vermelha – no momento em que juram lealdade. Esta em tese vai ao limite de derramarem seu próprio sangue, se necessário for. Daí a opção pela cor vermelha. Ao longo do seu pontificado, Francisco realizou dez deles. Na prática isso aumentou as chances de que seu sucessor venha a ser um progressista, bem como um não europeu. Isso porque ele reforçou a presença da Igreja em lugares onde historicamente ela é minúscula e em locais nos quais cresce mais do que no Ocidente, onde ou está estagnada ou regredindo. Com ele países que nunca antes tiveram um cardeal foram contemplados. Como Cabo Verde, Mianmar, Mongólia, Ruanda, Sudão do Sul e Tonga. No ano de 2013 os cardeais europeus representavam 53% do total, enquanto agora isso está em 39%. Hoje a Ásia e a Oceania têm 20% cada.

O brasileiro que tem uma remota chance de ser escolhido é o arcebispo de Salvador, na Bahia, Dom Sérgio da Rocha. Entre os sul-americanos, sem dúvida ele deverá ser muito votado. Paulista nascido em Dobrada, em 1959, ele foi ordenado sacerdote em 1984. Seu ministério iniciou em 2001, quando foi bispo auxiliar de Fortaleza. Tem doutorado em Teologia Moral, título concedido pela Pontifícia Universidade Lateranense, em Roma. Tornou-se cardeal recebendo o título na Basílica de Santa Croce, uma das mais tradicionais da capital italiana. E integra um grupo de nove cardeais que assessorava diretamente o Papa no governo da Igreja.

O corpo de Francisco está exposto à visitação pública na Basílica de São Pedro, onde permanecerá até às 20 horas desta sexta-feira, 25. O seu funeral está previsto para começar às 5 horas do sábado, 26. Depois disso resta ao mundo torcer para que a sucessão se dê de um modo que garanta a continuidade dos avanços verificados desde 2013. Merecemos alguém que seja também um exemplo de tolerância religiosa, dedicação, humanidade e respeito.

24.04.2025

(*) Dicastério é o nome dado a cada um dos vários departamentos de governo da Igreja Católica, que integra a Cúria Romana. São órgãos administrativos, a exemplo das secretarias e dos ministérios existentes nos Executivos nas nossas cidades, estados e países. Eles atuam em nome e com a autoridade do Papa, contribuindo com o funcionamento das estruturas e com o serviço pastoral.

Natural de Gana, Peter Turkson pode se tornar o primeiro papa negro da história

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O bônus de hoje começa com o trailer legendado do filme Conclave, de Edward Berger, um diretor e roteirista de origem suíça que nasceu na Alemanha. A obra concorreu ao Oscar em 2025 em nada menos do que oito diferentes categorias, tendo vencido na de Melhor Roteiro Adaptado. À disposição em streaming, está batendo recordes de audiência desde a última segunda-feira. Depois temos áudio com interpretação de trecho curto de Alleluja, Diffusa Est Gratia (A Graça é Difusa), um canto gregoriano que nos é oferecido por freiras beneditinas. Difuso é o que se espalha de forma ampla, atingindo a tudo ou a todos.

Alleluja Diffusa est Gratia – freiras beneditinas