O ALINHAMENTO DOS PLANETAS
Eu não sabia que isso iria ocorrer na madrugada do último sábado, muito menos que seria visível aqui do Brasil. Mas, ao que tudo indica aconteceu, pois essas coisas não são daquelas que se pode mudar de última hora: três planetas mais a nossa Lua ficaram em um alinhamento perfeito, por volta das quatro horas. Eu estava dormindo, lógico. Bem soterrado por edredom e cobertores, uma vez que o frio do inverno tinha resolvido dar as caras em Porto Alegre e no restante do nosso Estado. Agora, provavelmente considerasse me afastar por uns minutos dessa literal área de conforto para ver o fenômeno. O céu deveria estar claro, facilitando a visibilidade, pois amanheceu assim. Aliás, aqui na capital gaúcha há poucas coisas mais bonitas que o azul outonal com o qual nos brinda o firmamento nos dias iluminados.
Admito que me deu raiva de só ter sabido deste evento cósmico – ou o termo correto deveria ser astronômico? – depois de eu ter acordado. A notícia do jornal chegou tarde, ou eu não me dera conta dela na véspera. Quase pedi que Marte, Júpiter e Saturno voltassem um pouquinho atrás e me dessem uma segunda chance. Nem fiz isso, porque sabia ser inútil. Com toda essa distância, nem me ouviriam. Aliás, nem tampouco a Lua, também alinhada e “apenas” 384.400 quilômetros acima da gente. Algo que equivale a um total de 30 vezes a Terra enfileirada, entre os dois corpos celestes.
A verdade é que se tratou de um fato raro. Ou talvez nem tanto, sendo ao menos incomum. Uma prova disso é que logo teremos um outro. Vai ser em 28 de agosto deste ano, quando nada menos do que seis dos planetas do nosso sistema solar estarão alinhados: Mercúrio, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Ainda não consegui saber se por aqui será possível ver, mas haverá algumas diferenças em relação ao que eu perdi, no sábado. Isso porque Mercúrio estará muito perto do horizonte, sendo difícil de localizar. Segundo, porque Urano e Netuno só mesmo com um telescópio ou binóculos de altíssima potência poderão ser vistos. Então, apenas Marte, Júpiter e Saturno estarão mais evidentes.
A mecânica do movimento dos planetas é como uma dança, um ballet que foi muito bem treinado. É algo complexo e maravilhoso. Chamar de divino não seria exagero. Eles diferem em tamanho, massa, composição, tipo de atmosfera e temperatura. Nem todos têm satélites naturais, mas cinco possuem mais do que um. Há também casos com presenças de anéis, sendo que em Saturno eles são maiores e mais evidentes. Entretanto, Júpiter, Urano e Netuno também os possuem, mais tênues e finos, o que os torna praticamente invisíveis.
Todos os planetas realizam dois tipos de movimentos, constantemente. Um de orbitar em torno do Sol e outro de girar ao redor do próprio eixo: translação e rotação. O primeiro é que faz com que vez por outra fiquem em linha. O cálculo para saber quando isso irá acontecer e quais deles estarão envolvidos é um tanto complexo, considerando que suas órbitas são elípticas e ocorrem em velocidades diferentes. Mas, nada que os astrônomos não resolvam com facilidade. Enfim, cada planeta demora um tempo diferente para dar uma volta completa no entorno do Sol, o que faz com que um ano tenha duração distinta em cada um deles. Quanto mais próximos menos dias e quanto mais longe mais dias.
Um ano em Mercúrio dura apenas 88 deles, Vênus precisa de 225 e a Terra, como todos nós sabemos, 365 dias e mais um quarto. O que explica a necessidade de termos de quatro em quatro anos os bissextos, com um dia a mais engordando fevereiro, que passa de 28 para 29. Isso tudo considerando que esses “dias” são os que ocorrem aqui em nossa “casa”. Ou seja: 88, 225 e 365 destes nossos, que têm 24 horas cada. Plutão, que já foi considerado planeta e depois foi rebaixado para uma espécie de segunda divisão, leva 248 dos nossos anos para completar a volta completa em torno do Sol. Assim, todo este tempo em que estou aqui, “vivíssimo da Silva”, não se passou sequer um ano plutoniano. E por lá é bem mais gelado do que o inverno gaúcho, podem acreditar.
A velocidade dos giros também não segue um único padrão. Então, a título de exemplo, Mercúrio é tão lento que um dia lá equivale a 58 dos nossos. Vênus, pior ainda: são 243 dias terrenos para um deles. Pela nossa ótica isso é tão absurdo que naquele planeta um dia demora mais a passar do que um ano – como falei antes, são 225 dias gastos para sua translação, o que é bem menos do que os 243 que levam a sua rotação. Isso dá um nó em quaisquer cabeças desavisadas. Marte, no entanto, tem dias quase iguais aos nossos, durando apenas seis horas a mais.
Agora, o que está girando mesmo é a minha cabeça. Não pelo volume de informações coletadas, mas por perceber a magnitude disso tudo. E por me dar conta do quanto estamos destruindo um dos protagonistas deste show. O que nos acolhe com tanta generosidade que permitiu florescer em si a vida em múltiplas formas: a nossa insubstituível Terra.
1º.07.2024

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