EU MANDEI UM PIX PARA BOLSONARO
Quero confessar aqui, para que todos os meus leitores saibam: resolvi participar da campanha que um grupo de parlamentares lançou para ajudar o ex-presidente Jair Bolsonaro. O objetivo está sendo buscar auxílio financeiro antecipado, com o objetivo de quitar as multas que todos já têm certeza lhe serão infligidas em vários dos muitos processos que ele está enfrentando. Entre os deputados federais que estão fazendo esse apelo temos os nomes de Nikolas Ferreira (MG), Mário Frias (SP), Gustavo Gayer (G0) e André Fernandes (CE), além do deputado estadual Bruno Engler (MG). Todos eles foram eleitos pelo Partido Liberal, o PL.
Existem 83 processos que mencionam o nome de Nikolas Ferreira, no TJMG, no TRE-MG e em outros tribunais. O de Mário Frias está em 49, a maioria deles no TJRJ e no TRE-RJ. Por sua vez, Gustavo Gayer consta em nada menos do que 70 processos, no TJGO e no TSE, além de outros tribunais. André Fernandes fica em segundo lugar entre os membros desta lista, com 77 processos, especialmente no TJCE e TSE. E Bruno Engler está citado em 53, no TRE-MG e TJMG, mas não apenas neles. Estes números, que dizem muito a respeito deles, foram obtidos fazendo-se a pergunta para o Jusbrasil, uma plataforma de consulta processual que pode ser acessada por qualquer cidadão.
Para que se possa fundamentar uma opinião sobre o caso, acrescento aqui que Jair Bolsonaro recebe mensalmente R$ 11.945,00 por ser um militar reformado; mais R$ 35.223,00 de aposentadoria parlamentar; e outros R$ 39.293,00 que são depositados cada 30 dias pelo Partido Liberal, onde agora ele é o presidente de honra. Os vencimentos somados atingem a quantia de R$ 86.461,00. Não se tem informações a respeito de outras fontes de renda. Mesmo assim, quero relembrar que a família tem 107 imóveis, que foram adquiridos nos últimos anos, 51 deles pagos em dinheiro vivo. Assim, sabendo-se que não há membros em número suficiente para morar em todos eles, se pode supor que vários estejam alugados, o que ampliaria os ganhos mensais. A aposentadoria a ex-presidentes, prevista pela Constituição de 1967 – promulgada durante a ditadura militar –, essa ele não recebe, pois ela foi extinta pela Constituição Cidadã de 1988.
No ano de 1986 – Governo Sarney –, o então senador José Fragelli, no exercício da presidência, sancionou a Lei 7.474, garantindo a todos os ex-presidentes o direito de utilizar quatro servidores e dois veículos oficiais com motoristas, tudo pago com dinheiro público. Em 1994, o governo de Itamar Franco deu aos ex mandatários o direito de escolher pessoalmente esses servidores, além de atribuir a todos eles gratificação mais expressiva. E Fernando Henrique Cardoso, em 2002, ampliou o número de servidores à disposição, em mais dois, totalizando oito.
Em 27 de dezembro do ano passado, foi publicada no Diário Oficial da União a relação dos escolhidos por Bolsonaro: o advogado e assessor-chefe da Presidência, João Henrique Nascimento de Freitas; o capitão da reserva e assessor especial da Presidência, Sérgio Rocha Cordeiro; o primeiro sargento da Polícia Militar do Rio de Janeiro, Max Guilherme Machado de Moura, que já integrara a equipe de segurança de Bolsonaro; os segundos tenentes do Exército, Osmar Crivelatti e Jossandro da Silva; o segundo sargento do Exército, Estácio Leite da Silva Filho; o suboficial da Marinha, Ricardo Dias dos Santos; e o coronel Marcelo Costa Câmara, apontado como chefe do “serviço paralelo” de inteligência de Bolsonaro. Sendo comprovadas as muitas acusações existentes contra a Família Bolsonaro, pela conhecida prática de “rachadinhas”, isso pode também significar mais recursos.
Com todas essas possibilidades de receita, há quem entenda que ele mesmo assim não deva tocar no seu próprio bolso, nas suas aplicações, no seu patrimônio declarado ou não, cabendo ao povo brasileiro arcar com ônus também das inevitáveis condenações com multas que o “capetão” irá ter pela frente. O que ninguém duvida que virá, além da inelegibilidade. Prisão também é algo bem provável, num horizonte sombrio que ele próprio fez questão de estabelecer para si, com sua conduta muitas vezes criminosa. Jair Bolsonaro já acumula quase 600 processos, segundo levantamento feito pelo seu próprio partido. O PL está de olho nisso porque caberá à legenda custear a defesa dele em boa parte dessas ações – que ainda podem crescer em número.
Voltando ao início desta crônica, a dívida de Bolsonaro para com o Brasil e o povo brasileiro é impagável. As vidas perdidas durante a pandemia pelo seu negacionismo e inanição, o retrocesso na educação sacrificando o futuro, a semeadura do ódio, a destruição de instituições, o esforço para armar a população, o desrespeito com minorias, o cancelamento de projetos sociais e tudo o mais que fez ou deixou de fazer deixaram um rastro lamentável. Isso só a justiça e o tempo podem reparar, com um preço elevado. Quanto ao pedido de dinheiro, invertendo a posição com os credores reais, quero dizer que depositei para ele a quantia de R$ 0,01 (um centavo), através da chave PIX que os seus correligionários divulgaram. Aliás, ela é o número do CPF do ex-presidente. O comprovante da transferência está aqui mesmo, um pouco mais abaixo. Foi um ato simbólico e de protesto contra o absurdo da solicitação. E informo também que não ofereci ainda menos, pelo simples fato de que não existe uma unidade monetária menor do que essa. Mas, tenham certeza: minha generosidade neste caso foi bem maior do que o merecimento dele.
29.06.2023

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O bônus de hoje é a música Pecado Capital, com Jorge Aragão. O clipe foi gravado no Morro da Urca. Ela foi tema de uma novela com o mesmo nome, que teve enorme sucesso. Logo depois está o comprovante do depósito feito por mim.