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VAN GOGH E A FORÇA DA “LOUCURA”

Não posso dizer que entendo muito de arte. Me falta, especialmente no que se refere à pintura, um conhecimento mais aprofundado que me permitisse entender melhor os chamados movimentos artísticos, com suas épocas, as relevâncias, os nomes principais e suas técnicas. Eu sempre fui mais raso nisso, ao estilo gosto ou não gosto. O que nunca impediu uma profunda sensibilização diante de muitos quadros. Quando realizei meu sonho de ficar frente a frente com a Guernica, de Picasso, me deu vontade de passar 24 horas só observando os detalhes, sem sequer piscar.

Voltando aos movimentos artísticos, tenho noção de que estão, entre eles, renascimento, barroco, romantismo, impressionismo, realismo, naturalismo, simbolismo, surrealismo, modernismo e expressionismo, para citar talvez mais até do que devesse – sei que existem ainda outros “ismos”, mas não me cobrem pela falta das citações. Também sei que a imensa maioria deles foi capaz também de influenciar outras artes, como a arquitetura, a literatura, o teatro e o cinema. Mas, estou dando toda essa volta apenas para contar um pouco sobre um dos meus prediletos, na arte dos pinceis: Vincent Van Gogh. Sua obra é visceral, de uma sensibilidade e de uma beleza que são enlouquecedoras.

Van Gogh nasceu em Zundert, na Holanda, sendo filho de uma família de classe média. Desde criança gostava muito de pintar e, quando jovem, trabalhou como vendedor de arte. Adulto, ao se mudar para Londres, teve agravado o seu quadro depressivo, que era constatado desde muito cedo. Ao longo da vida enfrentou inúmeros episódios psicóticos e tinha delírios, que eram agravados por uma alimentação irregular e pelo excesso de bebidas alcoólicas. Era muito amigo de Eugène-Henri-Paul Gauguin, um pintor francês talentosíssimo, com quem teve certa vez uma briga. Foi quando Van Gogh teve um acesso de fúria e cortou parte de sua própria orelha esquerda, usando uma lâmina. Acabou internado em vários hospitais psiquiátricos, passando depois aos cuidados do médico homeopata Paul Gachet.

Uma história pouco conhecida da sua trajetória foi protagonizada pela cunhada Johanna Van Gogh, que se casara com Theo Van Gogh quando já era considerada uma “solteirona”, por estar com 27 anos. O marido dela, irmão de Vincent, morreu um ano após o nascimento do seu filho. Apenas seis meses antes, o próprio artista, que ainda não era nada famoso, deu fim à própria vida. Jo, como era conhecida, ficou apenas com o apartamento onde moravam e 400 telas do pintor – ele havia vendido somente três em vida, para três dos seus amigos. Como ela, diferente dos críticos da época, acreditava no talento do cunhado, conservou todas elas. Assim, vendeu o apartamento, voltou para a Holanda, onde comprou uma casa que converteu em pousada e passou a mostrar alguns dos quadros.

Aos poucos, devido à persistência da mulher, conseguiu espaço em pequenas exposições. Finalmente, no ano de 1905, ela teve recursos para que uma grande fosse organizada, atraindo gente endinheirada e museus dos mais importantes. Começava assim a verdadeira lenda na qual Van Gogh se transformou. Portanto, foi graças à Jo que o mundo não perdeu obras como A Noite Estrelada, Os Girassóis, Os Comedores de Batata, Lírios, Campo de Trigo com Corvos, A Vinha Encarnada, Amendoeira em Flor, Autorretrato e tantas outras mais, uma vez que ela as guardou, ao invés de jogar fora. A propósito, antes de encerrar: ele foi um impressionista, talvez o melhor de todos.

Em uma das cartas que escreveu para seu irmão e confidente, Vincent escreveu: “O que eu sou aos olhos da maioria das pessoas é uma nulidade, um excêntrico, um desagradável. Alguém que não tem posição na sociedade e nunca terá: em suma, o mais baixo dos mais baixos, um pouco menos que nada. Tudo bem, então. Mesmo que isso seja verdade, um dia eu gostaria de mostrar, através do meu trabalho, o que esse tal excêntrico, esse tal ninguém, tem em seu coração. Essa é a minha ambição, a minha paixão. Embora muitas vezes eu esteja nas profundezas da miséria, ainda há calma, pura harmonia e música dentro de mim. Vejo pinturas ou desenhos nas casas mais pobres, nos cantos mais sujos. E minha mente é direcionada para essas coisas com um impulso irresistível.” Se isso é loucura, quem me dera ser um louco. Ou muito mais louco do que talvez alguns me considerem.

26.09.2024

P.S.: Os bônus, mais abaixo, estão imperdíveis. Não deixe de conferir.

Noite Estrelada, de Vincent Van Gogh

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O bônus de hoje começa com o trailer oficial de Loving Vincent, que foi escrito e dirigido pela polonesa Dorota Kobiela e pelo estadunidense Hugh Welchman e concorreu ao Oscar de Melhor Animação em 2018. Trata-se do primeiro longa-metragem totalmente pintado a óleo no mundo. E conta a história de Vincent Van Gogh dando vida às pinturas do holandês. Todos os 65 mil quadros do filme foram pintados à mão por 125 artistas. Para isso, eles viajaram de vários pontos do mundo todo para estúdios na Grécia e na Polônia, dando vida a um resultado verdadeiramente extraordinário. Depois temos a música Starry Starry Night, composta em 1971 por Don McLean, que a lançou no álbum American Pie. A motivação foi ter lido a biografia de Van Gogh na faculdade. Fascinado, resolveu mostrar que ele não era um louco e sim apenas um homem triste. Neste clipe temos uma série de obras do pintor e legendas em português.