O MAPA ALTERADO PELO ESCRAVAGISMO

Quem tem tempo suficiente para investir na observação de coisas que parecem insignificantes, como por exemplo perceber detalhes em mapas de outros países, pode ter reparado que no dos EUA existe, no limite norte do Texas, uma faixa cortada reta. É um prolongamento de Oklahoma, de leste para oeste, como se tivesse sido resultado de uma invasão. Uma espécie de dedo apontado. Se fosse, deveria indicar mais uma vergonha histórica como tantas que aquela nação acumula.

No passado aquela faixa pertencia mesmo ao Texas. Ele fazia divisa com o Colorado e com o Kansas. Acontece que em 1820 o Congresso daquele país aprovou um acordo chamado de Compromisso do Missouri. Este documento permitia que alguns Estados mantivessem escravizados sendo isso delimitado pela linha de 36°30. Dela para cima todos os seus territórios foram declarados livres, não podendo mais nenhum fazendeiro ser proprietário de escravos. E essa parte da área texana a colocava obrigatoriamente nessa condição, quando a então República do Texas, que era independente, em 1845 aderiu à federação.

Então, houve uma votação e ficou decidido que seria melhor perder essa pequena parte do território do que alterar as condições sociais vigentes. Foi assim que cederam a faixa, que lá é chamada de “panhandle”, para Oklahoma. O termo é usado para referir duas coisas, sendo uma delas justamente um prolongamento geográfico estreito e alongado. Agora, o outro uso é bem interessante: significa mendigar ou pedir dinheiro em público, sendo um verbo. Se pudéssemos traduzir uma frase onde ele fosse usado, poderia ser algo como “Ele foi visto panhandleando em uma estação do metrô”. Mas não há equivalência disso no idioma português, sendo isso apenas um jogo de palavras.

Enfim, os honrados texanos, homens de bem, com certeza defensores da família e tementes a Deus, preferiram perder parte do seu território ao invés de permitir que negros fossem tratados como gente. Por que ter que pagar salário pelo seu trabalho? Por que abrir mão do direito de espancá-los até a morte, ao entender que tinham cometido alguma falta grave? Aliás, aquele Estado segue com seu histórico de racismo, não tendo melhorado muito desde então. Exemplos recentes podem ser citados com facilidade desconcertante.

Em 1998 três supremacistas brancos amarraram James Byrd Jr., um homem negro, e o arrastaram por uma estrada até a morte. Em 2020 assassinaram um manifestante do Black Lives Matter (Vidas Negras Importam). O assassino foi identificado, preso e condenado pela justiça, mas o governador concedeu perdão ao criminoso. E recentemente um tribunal do Texas proibiu um jovem negro de frequentar sua escola usando dreads, um penteado onde mechas de cabelo são enroladas e formam cordões. Esse estilo tem raízes em culturas diversas, tendo alcançado projeção a partir do Movimento Rastafári, na Jamaica.

O deputado federal por São Paulo, Eduardo Bolsonaro (PL), que saiu do Brasil para se dedicar nos Estados Unidos a criticar e pedir intervenção contra o Executivo eleito e o STF do nosso país –além de ficar mais distante do alcance da Justiça –, mora no Texas com sua família. Estão em Fort Worth, na região metropolitana de Dallas, localidade que fica a cerca de 56 quilômetros do centro da cidade. Consta que essa aventura está sendo bancada pelo pai, que chegou a confirmar isso em depoimento recente no Supremo Tribunal Federal.

14.07.2025

O Texas preferiu perder território a deixar de ser escravagista

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O bônus de hoje é o áudio de Mojo Hand, com o cantor negro texano Samuel John Hopkins (1912-1982), conhecido como Lightning Hopkins. Ele foi também compositor, guitarrista e ocasionalmente tocava piano. Esta gravação foi feita em Baden-Baden, na Alemanha, especialmente para a série ‘Jazz Gehört und Gesehen’ (Jazz Ouvido e Visto), do canal Südwestfunk, em setembro de 1964. A revista Rolling Stone o classificou, em 2010, com a posição 71 em sua lista dos 100 melhores guitarristas da história.

Lightning Hopkins – Mojo Hand