A TRISTE DECADÊNCIA DE BRIGITTE BARDOT

A atriz francesa Brigitte Bardot talvez tenha sido o maior símbolo sexual do mundo nos anos 1950 e 1960, o que foi alavancado pela força que tem o cinema. Sua atuação em E Deus Criou a Mulher chegou a mudar regras de comportamento, em sua época. Falecida agora, ao final deste mês de dezembro, aos 91 anos, ela estava distante do exemplo da força da liberdade. E não por conta de sua idade avançada, mas pela guinada lamentável que deu ao longo da vida. Nas últimas décadas, ela se tornou figura central no cenário da extrema-direita, em seu país.

Totalmente tomada pelo conservadorismo e pelo nacionalismo doentio, ela virou uma importante aliada da família Le Pen e do partido Frente Nacional (que agora se chama Reagrupamento Nacional). O fundador da sigla extremista, Jean-Marie Le Pen, foi descrito por ela como verdadeiro patriota. E a filha caçula daquele político, Marine Le Pen, recebeu apoio público e incondicional de Bardot, quando candidata à presidência, nos anos de 2012 e 2017. A atriz a chamou na época de “a Joana d’Arc do século XXI”, afirmando que ela era a única pessoa com coragem para “salvar a França”. Boa parte desta reverência talvez se deva ao fato de que Bernard d’Ormale, o quarto marido de Bardot (casaram em 1992), era um conselheiro próximo de Jean-Marie Le Pen.

O que a imprensa pouco divulgou, agora na sua despedida – pelo menos aqui no Brasil –, foi ter a atriz sido condenada em pelo menos cinco ocasiões pela Justiça, devido a crimes como incitação ao ódio racial e insultos religiosos. Ela criticava abertamente, por exemplo, o que chamava de “islamização da França”, destilando palavras desprezíveis e incentivando ações violentas contra os mulçumanos. Ainda costumava chamar de “invasão” ao fluxo migratório ocorrido no país, sem considerar razões humanitárias. E em 2019 causou enorme indignação ao chamar os habitantes da ilha francesa de Reunião de selvagens.

Por causa disso, entre outras razões, a figura de Bardot se tornou uma das mais contraditórias da França. Por um lado, ela foi um ícone da emancipação feminina, tendo para tanto inclusive desafiado a Igreja Católica. E, depois de se afastar do cinema, dedicou décadas da sua vida à causa animal, por meio de uma fundação que criou. Por outro lado, se notabilizou como homofóbica e se opunha, por exemplo, ao movimento #MeToo. Por causa disso, o governo francês enfrentou um dilema sobre como homenageá-la, já que sua relevância cultural histórica contrastava fortemente com suas visões políticas divisivas.

A saída foi dar foco no legado cultural e na figura de Marianne. Assim, o presidente Emmanuel Macron optou por uma homenagem na qual foi enfatizada a liberdade e a iconografia francesa. Em seu comunicado oficial, ele a descreveu como uma das lendas do século. E destacou que o seu rosto serviu de modelo para a criação do símbolo nacional da República Francesa, nos anos 1970 – a Marianne citada. Isso permitiu elevar a reverência sem endossar suas visões pessoais. O que talvez deva também ser feito por quem gosta de cinema: centrar-se nas atuações da atriz, nas personagens vividas, não na vida lamentável que ela teve, na reta final da existência encerrada no último domingo, dia 28.

31.12.2025

Brigitte Bardot, em foto recente

O bônus de hoje é a música Sidonie, cantada pela própria Brigitte Bardot e integrante da trilha sonora do seu filme Vida Privada (1962), dirigido por Louis Malle.

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