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O POEMA DE CAZUZA

Cazuza foi uma personalidade controversa, tanto na vida pessoal quanto na sua produção como músico. Mas, nem mesmo quem não goste dele ou das canções que compôs, pode negar que há bons exemplos de uma enorme sensibilidade nas letras. Uma das melhores amostragens disso que estou dizendo está em Poema, que foi musicada por Frejat. Agora, o que talvez não seja do conhecimento geral é a forma como esta canção nasceu.

Agenor de Miranda Araújo Neto, o Cazuza (1958-1990), era um jovem que podia se dar ao luxo de ser rebelde. Filho do empresário e produtor musical João Alfredo Rangel Araújo, responsável pela fundação da gravadora Som Livre, das Organizações Globo, em 1969, e da cantora Lucinha Araújo, não lhe faltaram recursos financeiros e estímulo. Teve contato precoce com o mundo musical e nutria admiração por cantores e compositores chegados ao drama. Por isso era fã incondicional de Noel Rosa, Maysa, Cartola, Dalva de Oliveira, Dolores Duran e do gaúcho Lupicínio Rodrigues. Filho único e crescendo no Leblon, muitas vezes ficava em casa com a avó materna, Dona Alice, uma vez que seus pais tinham muitos compromissos profissionais. E foi na companhia dela, ainda criança, que começou a escrever seus primeiros poemas e letras.

Prestou vestibular para Comunicação, em 1976, apenas porque o pai lhe prometera um carro caso passasse. Ficou apenas três semanas no curso e preferiu seguir com a vida boêmia e um tanto desregrada. Bebia muito, fumava muito e mantinha relações com mulheres e homens. Outra vez o pai tentou intervir e o colocou a trabalhar na Som Livre. Com isso, esteve em contato com nomes como Elis Regina, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e João Gilberto. Terminou como vocalista e letrista da banda Barão Vermelho. Depois seguiu carreira solo, iniciando com Exagerado, álbum de 1985. Após, seguiram-se Só Se For a Dois (1987), Ideologia (1988), O Tempo Não Para (1989) e Burguesia (1989). Neste último ano citado, de uma produtividade intensa, descobriu-se portador do vírus HIV. E veio a falecer com 32 anos, em 1990, no seu apartamento em Ipanema.

Depois de sua morte é que se tem o lançamento da canção Poema. No livro O Tempo Não Para: Viva Cazuza, escrito por sua mãe, ela relata como isso aconteceu. Segundo ela, ele havia presenteado sua outra avó, a paterna (Maria José), com uma poesia anos antes. Lucinha conhecia parcialmente o teor e pediu para a sogra o papel onde estava o original, sem lembrar de detalhes do que fora produzido. Mas, recebeu uma negativa, com a alegação de que isso era pessoal e íntimo. Entretanto, depois da morte da senhora ela “herdou” uma caixa onde, entre outras coisas, estava o poema. E ficou encantada. Então, pediu para Frejat, um grande parceiro musical do filho, que a musicasse.

Ele atendeu o pedido, sugerindo apenas que a canção fosse oferecida para Ney Matogrosso, uma vez que produziu já imaginando o resultado na voz dele. Isso também seria de certa forma um presente, uma vez que Cazuza havia tido um relacionamento com Ney. O resultado é que esta gravação, feita em 1998 e integrante do álbum Olhos de Farol, se tornou a música mais executada deste cantor, segundo informações do ECAD, o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição. Esta preferência por certo é fruto da qualidade do que foi criado e da interpretação do cantor. Há sensibilidade e sentimento em doses exatas, a tornando de fato uma preciosidade.

09.10.2014

Ney Matogrosso e Cazuza

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O bônus de hoje é a canção tema da postagem: Poema, de Cazuza e Frejat, na voz de Ney Matogrosso.