A VOADORA DE ERIC CANTONA
Em 2004 Pelé o incluiu na lista FIFA 100, quando lhe pediram para que apontasse os maiores jogadores de futebol ainda vivos. Este atacante extremamente técnico e forte, que jogava mais recuado como também de centroavante, se chama Eric Daniel Pierre Cantona. Ao longo de toda a sua carreira, além de muitos gols, também se envolveu em quase igual número de problemas. Mas, apesar de ter abandonado os campos de futebol há bom tempo – se dedicou à carreira de ator após deixar de jogar profissionalmente –, ele ainda é tido como um dos maiores ídolos da história do Manchester United.
Nascido em Marselha, na França, vestiu camisas do Auxerre, Olympique, Bordeaux, Montpellier e Nimes, em seu país, além de Leeds United, da Inglaterra, antes de atingir o auge no Manchester United, onde tornou lendário o número 7 que levava às costas. Neste último conquistou nada menos do que quatro títulos da Premier League nos cinco em que atuou por lá. E foram sete nos últimos oito anos de carreira. Conhecido também por sempre usar a gola levantada, encostada no pescoço, foi apelidado de King Eric (Rei Eric) pela muito fanática torcida dos Red Devils (Diabos Vermelhos). Também teve passagem de sucesso na Seleção da França, pela qual assinalou 21 gols em 46 jogos. Disputou a UEFA Euro 1992 e chegou a ser capitão do selecionado na preparação para a Euro 96.
Em 1997 ele anunciou, pegando a todos de surpresa, sua aposentadoria do futebol. Já no ano seguinte fez sua estreia como ator de cinema no filme “Elizabeth”, que tinha Cate Blanchett no papel principal. Seguiu com isso, se envolvendo em outras produções, até 2010, quando começou no teatro em “Face au Paradis”. De modo paralelo, havia voltado ao esporte, como jogador e treinador da Seleção Francesa de Futebol de Areia, com a qual venceu a Copa do Mundo da categoria, organizada pela FIFA em 2005 – o Brasil ganhou 16 das 23 edições que já aconteceram. Com uma biografia tão cheia de situações inesperadas, ele chegou a se aventurar na música, tendo gravado “I’ll Make My Own Heaven” (Eu farei meu próprio céu), em 2024, sendo compositor, guitarrista e cantor.
Com tudo isso para ser contado, talvez uma das maiores lembranças que tenha deixado na carreira como jogador, além dos seus gols e atuações memoráveis, foram as explosões de fúria que seu temperamento sempre ocasionava. Foram vários os episódios nos quais se envolveu em brigas com adversários e até com colegas nas suas equipes. Disciplina nunca foi o seu forte. Treinadores e árbitros que o digam. Agora, o ápice entre todos os muitos momentos tensos aconteceu em 25 de janeiro de 1995. E isso pode ter inclusive sido relevante na sua decisão, dois anos mais tarde, de abandonar o futebol profissional.
O Manchester United enfrentava o Crystal Palace, em Londres. Os donos da casa nutriam historicamente sentimento de especial rivalidade com os visitantes. Tanto que assumiam o lema “Qualquer um, menos o United”. Das arquibancadas os Red Devils ouviam todos os xingamentos possíveis. No jogo muito tenso, Cantona atinge Richard Shaw com força excessiva e termina expulso. Estava deixando o gramado, caminhando na lateral próxima ao público, quando um torcedor mais tarde identificado como Matthew Simmonds desceu 11 lances de cadeiras para, chegando mais perto, gritar para ele: “Volte para a França com a puta da sua mãe, seu bastardo!”. O insulto foi a gota d’água. O jogador correu na direção de quem o ofendia e o acertou com uma voadora.
Ele enfrentou ações disciplinares no próprio clube e também uma movida pela federação inglesa, além de ser processado criminalmente. Por essa última foi condenado a duas semanas de prisão, pena depois convertida na prestação de 120 horas de trabalho comunitário. Cumpriu treinando jovens e crianças. No âmbito esportivo, levou um gancho de mais de oito meses. O agredido integrava as torcidas organizadas e violentas que se conhece como hooligans. Também era membro e defensor de partidos da extrema-direita, como o National Front e o British National Party, que defendiam abertamente bandeiras fascistas, de supremacia branca e xenófobas. Em 1992 ele fora condenado à prisão por agredir um frentista de posto de gasolina nascido no Sri-Lanka usando uma ferramenta.
Em 2011 Cantona foi entrevistado por um jornalista da BBC e, quando respondeu à pergunta sobre qual a melhor recordação da sua carreira, disse que fora este quase golpe de kung-fu. “Esse tipo de gente não tem nada que fazer em um jogo de futebol. Acredito que o que eu fiz é o sonho de muitos. Então, ao menos deixei essas pessoas felizes”, disse ele. Concluiu depois acrescentando que lamentava apenas não ter sido a voadora mais forte, porque “o fascista merecia”.
17.06.2025

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Faça uma doaçãoDoar mensalmenteDoar anualmenteO bônus de hoje é o áudio de I’ll Make My Own Heaven (Eu farei meu próprio céu), com Eric Cantona.