A IRLANDA E O DIA INTERNACIONAL DA MULHER
Uma fotografia tirada na Irlanda do Norte, ainda em 1972, foi escolhida para ser utilizada em propaganda relacionada ao Dia Internacional da Mulher, naquele país – o que duvido tenha agradado aos ingleses. Ela mostra uma garota (não descobri seu nome) usando uma arma de fogo e vem acompanhada das frases “Não tenha medo de se apegar a uma mulher forte. Talvez um dia ela seja seu único exército”. Para que se entenda o contexto, a garota apanhou a arma do chão após seu noivo ter sido atingido por disparo realizado por um soldado do exército britânico. Com ela, deu cobertura para a retirada do rapaz, arrastado por companheiros para uma área mais segura. Sem ter como ela própria sair do local, sustentou troca de tiros por bom tempo, antes de ser abatida. O noivo socorrido conseguiu sobreviver.
Este conflito armado foi decorrente de um fato anterior, em 30 de janeiro daquele mesmo ano. Conhecido como “Domingo Sangrento” (Bloody Sunday), naquela data membros do Exército Britânico abriram fogo contra um grupo de civis irlandeses não armados, que protestavam na cidade de Derry, na Irlanda do Norte. Sete adultos e sete adolescentes foram mortos, outras 26 pessoas terminaram gravemente feridas. Os manifestantes estavam reclamando contra a prisão de pessoas sem julgamento, uma prática que havia sido instituída pelo governo britânico. Todo e qualquer suspeito de defender a ideia da independência desta Irlanda, ou sua junção com a República da Irlanda – que fica ao Sul – eram enquadrados de imediato como terroristas.
Sem ser possível confirmar atualmente a veracidade deste fato, consta que o comandante do batalhão inglês ao descobrir que tinham lutado contra uma civil aparentemente despreparada e que, com enorme bravura, suportou o combate, ordenou que seus soldados não tocassem no cadáver, permitindo que os irlandeses a recolhessem e sepultassem. Aos que a foram buscar teria dito: “A rainha não se preocupa conosco como esta jovem se preocupou com seu homem e sua terra”. O conflito entre Irlanda do Norte e Reino Unido durou décadas, sendo conhecido como The Troubles (Os Problemas).
O Dia Internacional da Mulher foi instituído em 1975, pela Organização das Nações Unidas (ONU). Mas, a iniciativa foi materializada a partir de uma série de movimentos anteriores. Em 1910 a marxista alemã Clara Zetkin defendeu que passasse a ocorrer uma mobilização feminina anual, durante a Conferência Internacional das Mulheres Socialistas. Em 1911 um grande incêndio na fábrica Triangle Shirtwaist, em Nova York, matou centenas de operárias. E em 1917 cerca de 90 mil mulheres russas que trabalhavam no setor de tecelagem protestaram contra as más condições de trabalho, a participação do seu país na Primeira Guerra Mundial e a pessoa do czar Nicolau II, em evento que ficou conhecido como Pão e Paz. Todos esses fatos foram incluídos como relevantes para a decisão, mesmo tantos anos mais tarde.
Vejamos a seguir uma breve linha do tempo sobre conquistas femininas em nosso país. Em 1827 as meninas são autorizadas a frequentar as escolas regulares; em 1832 é publicado o livro Direitos das Mulheres e Injustiças dos Homens, obra de Nísia Floresta; em 1879 mulheres conquistam o acesso às faculdades; em 1910 surge o surpreendente Partido Republicano Feminino; em 1932 as mulheres passam a ter o direito de votar; em 1962 é criado o Estatuto da Mulher Casada; em 1974 as mulheres começam a portar cartões de crédito em seu nome (Lei de Igualdade e Oportunidade de Crédito); em 1977 a Lei do Divórcio é aprovada; em 1979 lhes é garantido o direito à prática do futebol; em 1985 é criada a primeira Delegacia da Mulher; em 1988 a nova Constituição Brasileira reconhece mulheres e homens como iguais; em 2002 a “falta da virgindade” deixa de ser motivo aceitável para anulação de casamentos; em 2006 é sancionada a Lei Maria da Penha; em 2015 é aprovada a Lei do Feminicídio; em 2018 a importunação sexual feminina passa a ser considerada um crime; e em 2021 é criado texto legal para prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher.
Sobre o fato de existirem a Irlanda do Norte (Ulster) e a República da Irlanda (agora apenas Irlanda ou Eire), a divisão foi estabelecida em tratado assinado em 1921. O território nortista é protestante, sua capital é Belfast, faz parte do Reino Unido e tem como moeda a Libra Esterlina. Foi anexado em 1171 por Henrique II. O território sulista é católico, a capital é Dublin, faz parte da União Europeia e tem como moeda o Euro. O termo Eire é o nome do país no idioma local. Vem da deusa celta Ériu, identificada com a fertilidade.
08.03.2025

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Faça uma doaçãoDoar mensalmenteDoar anualmenteO bônus de hoje é vídeo com a música Sunday Bloody Sunday, da banda irlandesa U2. Ela foi formada em 1976, composta na época por Bono, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr. Esta canção foi inspirada no evento citado no texto, o Domingo Sangrento.