BETHSABÉE, A PERFEIÇÃO EM BRONZE
O escultor estadunidense Benjamin Victor vive e trabalha na cidade de Boise, localizada em Idaho. Talvez a maioria dos leitores sequer tivesse, assim como eu, conhecimento destas existências – homem, município e o estado –, mas todos estão lá, lhes asseguro. Aliás, a cidade é a capital, tendo 235 mil habitantes e sendo sede do condado de Ada. Esse termo é bem estranho fora dos países de língua inglesa, mas há condados também no Reino Unido, no Canadá, na Irlanda e na Austrália. Trata-se de uma subdivisão dos seus estados, sendo intermediária. Um degrau administrativo a mais. Aliás, não sei como o Congresso Nacional, aqui no Brasil, ainda não se deu conta de que se adotassem algo semelhante poderiam ampliar em muito os atuais cabides de emprego.
Os condados são responsáveis pela prestação de serviços considerados essenciais, exceto os de bombeiros e socorro de saúde. Eles possuem poderes legislativo e executivo, além de atender questões judiciais com bem menos autonomia e alcance. No Alasca essas subdivisões recebem outro nome: são boroughs (bairros ou distritos). Já na Louisiana chamam de parishes (paróquias). Agora, para finalizar esta pretensiosa aula de geografia política, acrescento que a até então desconhecida para mim cidade de Boise é a terceira maior do noroeste dos EUA. Fica atrás de Seattle, em Washington (755 mil); e Portland, no Oregon (630 mil).
Benjamin Matthew Victor na realidade é californiano. Ele nasceu na minúscula Taft (6,9 mil habitantes em 2023), dia 16 de janeiro de 1979. E, atualmente, é o único artista vivo a ter três das suas obras expostas no National Statuary Hall, no Capitólio. Mas, o que chamou minha atenção não foi essa deferência ou primazia e sim a beleza incomum de uma das suas esculturas. Me refiro à Bethsabée, que foi feita em bronze com o uso de uma técnica chamada de “véu translúcido”, muito mais comum no mármore (*). Assim, o modelo fica coberto e vestido com uma espécie de tule ou gaze, totalmente diáfana e deslumbrante. As formas do corpo da mulher ficam delineadas sob os vincos. E o metal seduz os observadores, como se de carne fosse feito.
A qualidade da escultura lembra, em termos de valores estéticos, o que de melhor foi produzido, por exemplo, durante o Renascimento. Mestres como Leonardo Da Vinci e Michelangelo poderiam perfeitamente assinar a obra de Benjamin Victor, sem que isso depusesse contra sua história e seu talento. Em tamanho real, a obra reflete também o que é contado sobre a mulher, uma vez que as vestes parecem molhadas e os cabelos longos estão soltos, como se sua imagem fosse captada logo após um banho. A leveza da roupa colada pela umidade inclusive passa para o xale pesado que ela carrega nas duas mãos e surge dobrado, caindo atrás do seu corpo. Uma fluidez totalmente improvável, considerando-se o material usado e sua rigidez.
Betsabé, conforme a grafia em português (em hebraico בַּת־שֶׁבַע), era filha de Amiel e esposa do guerreiro Urias. Entretanto, o rei Davi ficou de tal forma impressionado com a sua beleza ao vê-la realizar seu banho de purificação que a desejou para si. Teria então cometido adultério e, na tentativa de encobrir o fato, expos Urias a perigo que custou sua vida em batalha. Com isso pode então desposar a mulher, tornando-a uma de suas esposas e com ela tendo quatro filhos posteriores a uma primeira gravidez adúltera – este primeiro morreu sete dias após o nascimento. Um deles foi Salomão, que herdou seu trono, apesar da reivindicação do mais velho, Adonias. O nome Betsabá significa “filha de Sabá” ou “filha do juramento”, podendo também ser traduzido como “filha do pacto, da aliança ou da promessa”. Sabá é outra grafia para o termo hebraico shabbat, que significa “inatividade” ou “descanso”. É ainda o sétimo dia da semana, dedicado à adoração.
15.04.2025
(*) Betsabé também foi reproduzida em pintura a óleo sobre carvalho, obra do importante pintor alemão Hans Memling, em 1485.

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Faça uma doaçãoDoar mensalmenteDoar anualmenteO bônus de hoje é o áudio da música-tema de Davi e Betsabé, na série Rei Davi: Et Dodim Kalá. A interpretação é de Fortuna. Este é o nome artístico de Fortunée Joyce Safdié, cantora e compositora brasileira de origem judaica. Ela se destaca por pesquisar o cancioneiro sefardita, desde 1992. Gravou sete CDs e um DVD, tendo vendido quase cem mil cópias ao longo do tempo. Aqui em virtualidades.blog já foi publicado um texto sobre este cancioneiro, em junho do ano passado. Isso pode ser acessado através do link https://wp.me/p1jFYb-2jg.