O FANATISMO E O RISCO DA ANISTIA

Um atentado terrorista planejado para acontecer durante show de Lady Gaga no último sábado, na praia de Copacabana – Zona Sul do Rio de Janeiro, foi impedido graças à ação conjunta e muito bem sucedida entre a Polícia Civil carioca e o Laboratório de Operações Cibernéticas (Ciberlab) do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Milhares de fãs estavam reunidos para ver a volta da cantora ao Brasil, depois de 12 anos, o que resultaria em uma tragédia se tivessem os criminosos sucesso em seu intento. A operação foi batizada de “Fake Monster” (Monstro Falso), numa alusão ao fato dela se referir à sua base de aficionados como “Little Monsters” (Monstrinhos). O apelido surgiu ainda no início de sua carreira, quando lançou o álbum “The Fame Monster” (O Monstro da Fama), em 2009. Passou a chamar assim, de um modo estranhamente carinhoso, quem se identificava tanto com a estética quanto com o comportamento “monstruoso” que ela promoveu na época, nas músicas e nos shows.

Entretanto, monstruosos mesmo são os fanáticos da extrema-direita, cujo crime felizmente não foi perpetrado. A investigação começou com o rastreamento preventivo e regular nas redes sociais, que busca indivíduos dispostos à prática de atividades terroristas. Nesse trabalho, identificaram perfis de pessoas que se passavam por fãs da cantora, interagindo com outros seguidores em estratégia adotada para passarem despercebidos. A troca de informações era fator primordial para saber onde o ataque causaria mais danos e maior número de vítimas. A reação precisou então ser imediata e precisa, aglutinando várias esferas da segurança pública e do Governo Federal.

A ideia era fazer com que vários explosivos de fabricação caseira fossem detonados no meio do público, causando, além das potenciais perdas diretas, um enorme debandar do público, com pessoas sendo pisoteadas e sofrendo ferimentos. Os pontos escolhidos deveriam ser aqueles onde estivesse o maior número de adolescentes e concentrações de pessoas identificadas como LGBTQIA+, se esses pudessem ser identificados. Nas suas proximidades seriam acionados explosivos artesanais ou utilizados coqueteis molotov. Um plano de difícil execução, mas que seria tentado pôr em prática.

Oito pessoas foram identificadas, sendo duas delas detidas. O chefe do grupo seria do Rio Grande do Sul – gaúcho, evangélico e “cidadão de bem” –, onde cumpriram mandados de busca e apreensão em São Sebastião do Caí e em Novo Hamburgo. Algumas outras cidades, no Rio de Janeiro, São Paulo e Mato Grosso do Sul foram também alvos, num total de 15 locais. Computadores e celulares apreendidos serão periciados. Ainda encontraram armas, material de propaganda para disseminação de ódio e exaltação à extrema-direita, bandeiras de Israel e conteúdo de pornografia infantil. Uma informação adicional, vinda por colaboração de agentes dos EUA, deu conta de que um outro homem – o nono alcançado na ação – se preparava para cometer o assassinato de uma criança, em Macaé, no Norte Fluminense. Durante o show ele iria transmitir a barbárie em rede social, justificando a ação à presença da cantora e ao envolvimento de artistas com “forças do mal representadas pela esquerda”.

Não se pode esquecer que os fanáticos fascistas já estiveram envolvidos em várias outras situações violentas em nosso país, nos últimos tempos. Foram muito além daquela explosão de ódio à democracia e ao Estado Democrático de Direito, em 8 de janeiro de 2023. Tentaram, por exemplo e outra vez felizmente sem sucesso, explodir um caminhão-tanque com combustível no Aeroporto de Guarulhos, em 24 de dezembro de 2022. O bolsonarista Alan Diego dos Santos Rodrigues foi preso e confessou. Na véspera de Natal, se poderia também ter centenas de mortos e feridos. Poucos dias antes, em 12 de dezembro, um grupo deles ateou fogo em ônibus em Brasília e tentou jogá-lo de cima de um viaduto, além de atacar – pasmem! – a sede da Polícia Federal. Outra situação se deu com a destruição de várias torres de transmissão de energia elétrica com explosivos, entre os dias 8 e 16 de janeiro de 2023, dando sequência à tomada da Praça dos Três Poderes e invasão e depredação dos palácios lá existentes. O abastecimento foi prejudicado no Paraná, São Paulo e Rondônia.

Em 2023 ocorreram nove ataques a escolas nos dez primeiros meses, com crianças e adolescentes, além de professoras e funcionárias, sendo mortas e feridas com o uso de armas de fogo e facas. Todos esses foram incentivados pela pregação de ódio. Considerando-se também anos anteriores, foram perdidas 49 vidas. No mesmo período se teve um forte incremento de ataques a templos religiosos – menos aos pentecostais, não por coincidência. Crimes como xenofobia, racismo, LGBTfobia, misoginia, apologia ao nazismo e intolerância religiosa tiveram enorme crescimento, com índices de até 874% em alguns casos. Isso com todo um aparato de combate que vem sendo implementado, com medidas como o desaparelhamento de órgãos de segurança, o investimento em prevenção e a autonomia dada à Polícia Federal, que antes não tinha. Então, me diga: você acredita que se a sociedade se curvar à campanha pela anistia aos “coitadinhos”, se mais uma vez aceitar a impunidade, isso será positivo? Vamos permitir que todo fanático e os interessados na sua existência saibam que podem tudo, pois no final nada lhes acontecesse?

05.05.2025

Cerca de dois milhões de pessoas estiveram em Copacabana, durante show de Lady Gaga

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O bônus de hoje é vídeo com apresentação ao vivo da banda Natiruts, cantando Quem Planta Preconceito?. O grupo, que inicialmente tinha o nome Nativus, foi fundado no Distrito Federal, em 1996. Toca reggae e pop, tendo em Alexandre Carlo seu vocalista e principal compositor.