E O PARAPLÉGICO MOVEU AS PERNAS
Em três evangelhos se encontra com facilidade a descrição da passagem na qual Jesus, em Cafarnaum, realiza o milagre de curar um paraplégico. Isso está em Mateus (9:1-8), em Marcos (2:1-12) e em Lucas (5:17-26). O episódio ficou marcado por uma das mais diretas e contundentes das suas falas: “Levanta-te e anda!”. Evidente que tal situação aponta para a força da fé como solução, associada ao merecimento. Na atualidade, também a ciência conseguiu avanços que puderam amenizar ou resolver o problema, conforme a sua gravidade – infelizmente algo ainda distante de ser aplicável em todos os casos. Mas, há episódios nos quais ocorre o fenômeno sem que se enquadre em nenhuma das duas hipóteses que levantei acima. Vejamos um deles, com vídeo ao final deste texto para comprovar a evidência.
Oswaldo Eustáquio não passava de um ilustre desconhecido, poucos anos atrás. Isso até que dois fatores se associaram, permitindo que ele saísse do anonimato: aprendeu a usar as redes sociais e aceitou ser um dos recrutados pela extrema-direita bolsonarista para trabalhar com a difusão de informações falsas sobre fatos e adversários políticos. Logo se tornou um dos mais ativos do grupo, passando a atacar instituições com a mesma desenvoltura. Além de “gratificações” de origem suspeita, foi agraciado também com o cargo de assessor da então ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves. E sua esposa, de quem agora está separado, Sandra Terena, no mesmo ministério se tornou secretária nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.
Encostado e protegido por um poder que imaginava não seria perdido com as eleições de 2022, Oswaldo ficou ainda mais “corajoso”. Atacava o Supremo Tribunal Federal enquanto instituição e alguns ministros em particular, ações da Polícia Federal e quem mais achasse oportuno, não dando a mínima para possíveis consequências. Passou a ser investigado ainda em 2020, durante o governo de Jair Bolsonaro – talvez ele não tivesse noção da independência entre os poderes, não soubesse que o presidente não tem autoridade para interferir no Judiciário.
Proibido de usar diretamente suas redes sociais, que foram bloqueadas, ele começou a usar o celular da filha, de 16 anos, se passando por ela para seguir com postagens ilícitas. Outra ignorância ou certeza equivocada de impunidade: cometeu com isso um novo crime, o de corrupção de menores. Com a derrota do seu candidato, preterido pela maioria do eleitorado brasileiro, parece ter perdido o pouco de sanidade que talvez possuísse. Ampliou os ataques, a propagação de mentiras e as ameaças proferidas. Acabou sendo detido por alguns dias, em três oportunidades, passando a usar tornozeleira eletrônica. Na última, afirmou ter sofrido uma lesão na coluna, que o teria deixado sem a possibilidade de uso dos seus membros inferiores. Apresentou atestado com diagnóstico de paraplegia e valeu-se de cadeira de rodas. É quando entra na história essa situação citada na abertura, que não corresponde nem a um milagre, nem ao resultado de quaisquer avanços científicos.
Com o prosseguimento das investigações contra ele, o STF acolheu os argumentos da Procuradoria-Geral da República e da Polícia Federal, determinando sua prisão. Só que ele fugiu antes, primeiro para o Paraguai e a Inglaterra, depois para a Espanha, onde se encontra até hoje. Dias atrás houve uma nova operação de busca e apreensão em seus endereços no Brasil, bem como na residência de Sandra Terena – inclusive com o acompanhamento do Conselho Tutelar. A mulher prestou depoimento por três horas e meia e confirmou que Oswaldo usava o celular da filha para cometer os crimes continuados. Com isso a PF enviou ao STF relatório recomendando a solicitação da extradição do bolsonarista. E Alexandre de Moraes encaminhou o pedido ao Ministério da Justiça, que o repassou ao Ministério das Relações Exteriores, conforme deve ser feito no rito legal.
Como sempre parece ser informado com antecedência sobre o que ocorre, o foragido entrou com pedido de asilo político no país europeu, pouco antes. Essa medida é suficiente para inviabilizar, pelo menos por algum tempo, o processo de repatriação. Isso porque o Tratado de Dublin protege os que solicitam este tipo de proteção, enquanto o pedido estiver em análise. E agora ainda vai existir o risco adicional dele correr para baixo das asas protetoras de Donald Trump. Mesmo assim, que nos reste ao menos seguir acreditando que a Justiça até tarda, mas não falha.
19.11.2024

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Faça uma doaçãoDoar mensalmenteDoar anualmenteO bônus musical de hoje é Pega na Mentira, com Erasmo Carlos. Mas, antes dele, um vídeo que mostra Oswaldo Eustáquio participando de um evento político no qual, por distração, mostrou em ação toda a sua “incapacidade motora”.